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Direitos Humanos

Irmã Rosita, que dedica a vida a refugiados, é premiada pela ONU

Rádio Nacional falou com a ativista, 2ª brasileira a receber honraria
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Daniella Longuinho - repórter da Rádio Nacional
12/10/2024 - 08:15
Brasília
Brasília (DF), 19/06/2023 - O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) promove o Encontro sobre Migrações e Refúgio no Brasil. (E/D)  Alex André Vargem, diretor de promoção dos Direitos Humanos e a Irmã Rosita Milesi, diretora do Instituto IMDH. Foto Valter Campanato/Agência Brasil.
© Valter Campanato/Agência Brasil

A religiosa brasileira, ativista e advogada Irmã Rosita Milesi, de 79 anos, foi reconhecida pelas Nações Unidas por seu trabalho em defesa dos refugiados. Irmã Rosita é a vencedora do Prêmio Nansen do ACNUR 2024, agência da ONU para refugiados.

Ela é a segunda brasileira a ser agraciada com a homenagem, e foi escolhida entre mais de 400 nomes. Em 1985, o ex-acerbispo de São Paulo cardeal Dom Paulo Evaristo Arns recebeu o prêmio.

Direto de Genebra, na Suíça, onde vai participar da cerimônia de premiação da ONU na próxima semana, irmã Rosita conversou com a Rádio Nacional.

Ela destacou que os refugiados são pessoas que necessitam de todo tipo de atendimento, especialmente porque são forçados a deixar seu país por razões como guerras, violação de direitos humanos e perseguições.

A religiosa ressaltou que os refugiados têm necessidades diversas em momentos diferentes da acolhida, e fala da fase mais crítica, que é a chegada ao país que os recebem.

“Essas pessoas não planejaram deixar o país, não são turistas que planejam uma viagem. São forçadas a abandonar tudo o que construíram ao longo da vida de um momento a outro, e fugir para qualquer parte aonde possam encontrar um espaço para sobrevivência. Nessas circunstâncias, precisam de todo tipo de apoio social, assistencial, emocional, de saúde”.

Irmã Rosita defende que os refugiados que chegam ao Brasil sejam integrados às políticas de capacitação e oferta de trabalho.

“No Brasil, precisamos, ainda, avançar bastante em termos de políticas de integração. A gente acolhe, em geral há medidas para propiciar a obtenção de documentos, mas elas precisam da oportunidade de trabalhar e buscar o próprio sustento”.

O trabalho da ativista ajudou a ampliar o conceito de refugiados na legislação brasileira. Até os anos 1990, o Brasil não possuía uma lei específica sobre o tema, e, por isso, cumpria a Convenção de Genebra, de 1951, que estabelecia a proteção a pessoa perseguida por questões de raça, religião, opinião política ou grupo social.

A partir de 1995, teve início o debate sobre a lei nacional dos refugiados, e a Irmã Rosita pôde contribuir com o avanço do texto, que foi sancionado dois anos depois.

“Por isso defendemos a inclusão, na lei, de um inciso que assegurasse que também poderia ser refugiada a pessoa que fosse forçada a deixar o seu país devido a grave e generalizada violação de direitos humanos. Graças a Deus o Brasil foi exitoso nesse ponto, e esta ampliação, atualmente, tem uma grande aplicabilidade. Dos quase 140 mil refugiados que o Brasil tem reconhecidos, em torno de 135 mil estão reconhecidos com base nesse inciso da lei”.

Emocionada, a religiosa dedica o prêmio a diversas instituições que favoreceram o seu trabalho de quase 40 anos em prol dos refugiados e, especialmente, a essas pessoas que enfrentam desafios para recomeçarem a vida em outro país.

“Desde o momento que me comunicaram, me senti muito aquém de qualquer mérito em relação a esse prêmio. Em todo caso, tenho o maior prazer em dedicá-lo a muitos atores que têm contribuído ao longo da minha trajetória”.

Estabelecido em 1954, o Prêmio Nansen do ACNUR homenageia indivíduos e organizações dedicados ao apoio e à proteção de refugiados e pessoas deslocadas em todo o mundo.

 

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