Especial Transporte: trabalhadores do setor são afetados com jornada e salário menores na pandemia

Especial Transporte

Publicado em 11/08/2020 - 08:22 Por Renata Martins - Brasília

Motorista de ônibus, maquinista de trem, piloto de avião, comandante de embarcação. É deles a responsabilidade de levar e trazer tanta gente de um lado para o outro, profissionais de saúde, caixas de supermercados, jornalistas. Esses trabalhadores tão essenciais quanto os que são conduzidos por eles também foram afetados pela pandemia da Covid-19.

 

Para o presidente do sindicado dos rodoviários da capital mineira Belo Horizonte, Paulo César Silva, o maior impacto foi o financeiro.

 

Sonora: “Nós temos salário-base de R$ 2.354,00, o motorista. As empresas tiveram autorização do governo de fazerem redução de salário de 25%, 50% e até 75%. O governo federal, com seu programa de reposição salarial, essas empresas informavam esses profissionais para que o ministério da economia repusesse parte do salário, mas não deixando que os nossos profissionais sofressem uma grande perda do seu salário.”

 

Pesquisa da Confederação Nacional de Transportes – a CNT, aponta que este ano 42% das empresas de transporte já adotaram a suspensão temporária do contrato de trabalho. Percentual similar ao das empresas que recorreram à redução de salários; 43,6% fizeram demissões.

 

Só entre março e maio, 56 mil postos de trabalho foram fechados no setor, sendo os trabalhadores do transporte de passageiros os mais afetados.

 

Comissário de bordo da Gol Linhas Aéreas, Sergio Dias aderiu ao “part-time” - um dos programas voluntários oferecidos pela empresa. Ele, que é secretário-geral da Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil e atuou na realização de acordos coletivos de trabalhadores do setor, teve a jornada reduzida e o salário cortado pela metade.

 

Sonora: “Foi oferecido tanto licença sem remuneração, incentivo à aposentadoria ou você poderia ficar como 'part-time', que é a redução de 50% do seu salário, com gozo de 20 folgas regulamentares. Eu aceitei, sinalizei para aderir ao plano que é chamado de 'part-time'.”

 

Thiago Silva é funcionário do metrô do Distrito Federal e lida direto com o público. Preocupado com a saúde dele, da família e dos passageiros, desde o início da pandemia passou a fazer exames por conta própria para saber se havia sido infectado pelo coronavírus. Em meados de abril testou positivo.

 

Thiago relata que o exame que confirmou a contaminação não foi o suficiente para ser afastado e que foi obrigado a ir a um médico para conseguir um atestado.

 

Sonora: “Eu tive que voltar ao médico. O médico ainda me deu um sermão, falou 'poxa, que você está fazendo aqui? Você pode me contaminar, você pode contaminar um outro paciente. Você não deveria estar aqui'. Mas a minha empresa obriga que eu pegue um atestado médico. E aumentou bastante o número de casos, porque tem pessoas que estão trabalhando que testaram positivo porque não tem o atestado médico de afastamento.”

 

O Metrô DF nega que empregados com suspeita de Covid-19 continuem trabalhando e diz que a orientação da empresa é autorizar o afastamento preventivamente. Sobre a testagem em massa, a Companhia afirma que já fez mais 100 exames, que continuam sendo feitos, à medida que são disponibilizados pela Secretaria de Saúde.

 

Um motorista de ônibus de Belo Horizonte relata que não é apenas o desemprego ou a contaminação que o deixa inseguro. Temendo represálias, ele pediu para não se identificar, por isso, sua voz foi alterada. 

 

Sonora: “Cortou o ticket dos funcionários, que era R$ 454, e está dando uma cesta básica. E se o funcionário for reclamar da epidemia… você perde seu serviço. Passageiro, se você falar com ele para pagar a passagem ou usar mascara, ele te ameaça. 'Vou pegar você, motorista.' Se você chamar a polícia ele marca sua cara e no outro dia o cara te pega. E você está lá exposto, vendo as coisas e tem que fingir que não vê.”

 

Entre março e julho, o Ministério Público do trabalho recebeu quase 28 mil denúncias relacionadas a violações trabalhistas decorrentes da pandemia da Covid-19.

 

O MPT atuou para reverter a demissão de 3 mil rodoviários em Pernambuco e em ações para obrigar empresas a fornecerem equipamentos de proteção individual aos trabalhadores de transporte de passageiros.

 

Na próxima reportagem, vamos falar sobre a situação das empresas do setor.

 

* Produção: Graziele Bezerra e Marcela Rebelo
** Sonoplastia: Messias Melo

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