Dois indígenas do programa de pós-graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) vão poder escrever a dissertação de mestrado na língua materna.
A iniciativa é considerada um marco no sistema do ensino superior para os índios do Brasil.
O professor de mestrado em antropologia social e orientador de um dos alunos, Gilton Mendes, explica que o projeto é fruto de um longo processo iniciado em 2010 no programa de pós-graduação.
Nesta época, a instituição implantou as cotas para o ingresso de indígenas. Ele destaca que a solicitação partiu dos alunos e foi acatada pela direção.
Sonora: "A primeira questão é que todos nós sabemos. Isso é uma coisa simples, você pensa melhor, expressa melhor na língua materna, na língua que você foi educado para o mundo. Neste caso, em particular, esses alunos atualmente fizeram essa reivindicação com base neste primado: de que eles se expressam melhor em sua língua nativa.”
O professor esclarece que os alunos também vão escrever uma versão completa em português. Mas a ideia é que no futuro, isso não seja necessário.
Dagoberto Lima é um dos alunos. A dissertação dele é sobre a formação do ambiente terra-floresta segundo a visão Tukana.
Dagoberto destaca que os conceitos são diferentes para os não índios. Por isso, para ele, é importante escrever a tese em língua indígena.
Sonora: "Por exemplo, terra-floresta, para os não indígenas, dividindo terra eles falam uma coisa, floresta falam outra coisa. Mas, para o nosso conhecimento, não há esta divisão. A floresta está em cima da terra. A terra depende da floresta e a floresta depende da terra. Não há como fazer essa separação. Entra as questões de mito, mitologia, e fundamenta nosso conhecimento.”
O estudante pretende apresentar a dissertação ainda neste mês. A banca não está definida, mas a apresentação será em Tukano.