Professora universitária teve bolsa de pesquisa negada em função da maternidade.
A professora da Universidade Federal do ABC, na região metropolitana da capital paulista, Maria Caramez Carlotto, se inscreveu para uma bolsa de produtividade no CNPQ. Mas além de ter a bolsa negada, o responsável por um dos pareceres alegou que a carreira científica da candidata foi prejudicada pela maternidade.
O caso foi tornado público pela própria professora nas redes sociais. Segundo ela, o parecer reconhece a carreira acadêmica, mas questiona a ausência de um pós doutorado no exterior, concluindo que "provavelmente suas gestações atrapalharam essas iniciativas" e que essa espécie de falha poderia ser compensada no futuro. A bolsa disputada pela professora é voltada para pesquisadores com grande experiência e o valor é de mil reais.
O argumento do responsável pelo parecer explicita as desigualdades de gênero no mundo acadêmico. E os dados são do próprio CNPQ.
Enquanto as mulheres respondem pela maioria das bolsas de pesquisa da instituição desde a iniciação científica até pós-graduação, em média 57%, à medida que a carreira avança elas perdem espaço e respondem por cerca de 25% dos cientistas no topo da carreira.
Projetos de pesquisa liderados por mulheres podem receber até 60% menos recursos que os liderados por homens.
Já as pesquisadoras que são mães tem o número de publicações científicas reduzido e precisam de cerca de 6 anos para retomar a produtividade.
Em uma audiência pública na Câmara dos deputados sobre esse tema, Isabela Andrade, reitora da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, defendeu políticas públicas para reduzir as desigualdades, como bancas de concurso que não tenham apenas homens ou pessoas brancas, e a obrigatoriedade de justificar descontos na pontuação da carreira dos pesquisadores.
Medidas que passaram a ser adotadas pela Universidade de Pelotas desde o ano passado.
Em nota, o CNPQ declarou que o juízo de valor apresentado no parecer foi inadequado, inclusive porque um estágio no exterior não é requisito para conseguir a bolsa de produtividade, e também por expressar preconceito associado à gestação.