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Educação

Dizem as Fontes destaca jornalismo investigativo na educação midiática

Reportagens bem apuradas seguem na contramão de informações rápidas
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Mariana Tokarnia e Akemi Nitahara
21/02/2025 - 07:15
Rio de Janeiro
Podcast Dizem as fontes
© Arte EBC

A investigação é uma das práticas cotidianas do jornalismo. Para que haja um bom jornalismo, é necessário checar as informações, dados e afirmações. E a investigação está também presente em grandes reportagens, constituindo até mesmo um gênero: jornalismo investigativo. É o jornalismo especializado em desvendar o que está oculto da sociedade e que é de interesse público, como esquemas de corrupção, fraudes, mas também injustiças e violações de direitos humanos.

Grandes reportagens e de longo período de apuração parecem ir na contramão de um ritmo cada vez mais acelerado, de uma enxurrada de informações rápidas e de vídeos curtos para prender a atenção do público. Mas, para o jornalista Bruno Fonseca, esse jornalismo vale a pena e se conecta com as necessidades da sociedade.

Bruno é chefe de redação da Agência Pública, uma agência de notícias sem fins lucrativos. Seus conteúdos podem ser reproduzidos desde que citada a fonte. A Pública foi fundada por repórteres mulheres em 2011. E produz grandes reportagens investigativas.

“É claro, o jornalismo tem que se preocupar com a audiência. O jornalismo precisa ser lido. Mas ser lido é diferente de buscar clique e page views a todo e qualquer custo.”

Um dos diferenciais da agência pública é que, junto com as reportagens, ela disponibiliza os materiais que usou como fonte e explica em detalhes quais foram os dados usados. Esta é uma maneira de detalhar o trabalho jornalístico e também de fazer educação mediática.

Já a jornalista Ariene Susui, indígena do povo Wapichana, em Roraima, conta que seu trabalho está voltado para as questões indígenas, pois são muitos assuntos que precisam ser reportados.

“Nós temos a questão da saúde, nós temos a questão da educação, nós temos a questão do território. Nós estamos falando de mais de 300 povos no Brasil, povos distintos, línguas. ... Enfim, são tantas questões que envolvem esse ambiente que eu não tenho tempo para ir para outras pautas, assim. Não porque eu não queira, não porque não consigo falar sobre, mas é que essa pauta, especificamente, é uma pauta muito grande e muito cara também, porque a gente está falando de uma das pautas que tem um dos embates políticos, um dos embates do Congresso Nacional mais duros, né, que nós acompanhamos desde a história, desde a época da colonização.”

Fazer jornalismo investigativo na Amazônia tem algumas especificidades. A logística é muito mais complexa que a de grandes cidades, por exemplo. Ainda mais quando se tratam de territórios indígenas. Às vezes, são dias de viagem de barco para acessar determinado território. Quando não consegue ir presencialmente, a Ariene busca as fontes de forma remota, pelo WhatsApp. Mas também não é simples. Às vezes, uma troca de áudios demora uma semana, por conta da qualidade da internet. Outra dificuldade é a língua. Para se ter ideia, segundo o Instituto Socioambiental, são mais de 160 línguas e dialetos no Brasil.

Tanto para Ariene, quanto para Bruno, o papel do jornalista é trazer à tona o que está escondido, aquilo que está prejudicando grupos de pessoas, que está desrespeitando as leis e os direitos humanos e que, por interesses, acaba sendo mantido. Para eles, o papel do jornalista é contribuir para a sociedade. E também, contar histórias.

Este é o podcast Dizem as Fontes, uma parceria entre a Radioagência Nacional e a Agência Brasil. Este projeto começou na academia, fruto do mestrado profissional de Mariana Tokarnia, na área de mídias criativas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ.

 Acompanhe também outras produções da Radioagência Nacional, como os 50 anos do Hip Hop e Transformando as Artes. Todos os capítulos estão disponíveis nos tocadores de áudio e no site da Radioagência Nacional, um serviço público de mídia da EBC. No penúltimo episódio, trazemos relatos da mídia pela mídia. 

PODCAST DIZEM AS FONTES - Episódio 4 – A investigação

VINHETA: Dizem as fontes - jornalismo e educação midiática

SOBE SOM 🎶 

Episódio 4 – A investigação

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EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER 🎶

MARIANA:A investigação é uma das práticas cotidianas do jornalismo. Ela está presente nas pequenas matérias. Para que haja um bom jornalismo, é preciso investigar cada informação, é preciso que cada dado seja checado. E a investigação está também presente em grandes reportagens, constituindo até mesmo um gênero: jornalismo investigativo. É o jornalismo especializado em desvendar o que está oculto da sociedade e que é de interesse público, como esquemas de corrupção, fraudes, mas também injustiças e violações de direitos humanos.

EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER 🎶

BRUNO: No caso, na Pública, nós buscamos fazer jornalismo investigativo, então nós tentamos apurar, né, histórias que não estão sendo faladas ou ir além dos pontos que já estão sendo falados das histórias que circulam na nossa realidade.

EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER 🎶

MARIANA: Este é o Bruno Fonseca. Ele é chefe de redação da Agência Pública, uma agência de notícias sem fins lucrativos, cujos conteúdos podem ser reproduzidos desde que citada a fonte. A Pública foi fundada por repórteres mulheres em 2011. E produz grandes reportagens investigativas.

EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER 🎶

BRUNO: Meu nome é Bruno Fonseca. Eu sou jornalista. Atualmente, eu sou chefe de redação na Agência Pública de Jornalismo. Trabalho aqui na Pública já há 10 anos. Tenho 35 anos. E sou um homem, a pele morena clara. Tenho barba, cabelos pretos, olhos pretos. Uso óculos.

EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER 🎶

BRUNO: Nós somos guiados pelos direitos humanos, então nossas histórias, a maior parte delas trata, né, de violações de direitos humanos. A gente acredita que isso é um papel essencial do jornalismo, né, está no código de ética do jornalista, mas também é o que guia nossas investigações. E acredito que o jornalismo, de uma forma geral, ele é esse produzir, né, de narrativa sobre a realidade, que busca tratar da realidade com o máximo de exatidão possível, com o máximo de transparência possível, sempre se guiando por, os valores éticos do jornalismo. Que são credibilidade, ser fidedigno, ter uma apuração rigorosa. Acho que isso seria uma explicação mais genérica, mais ampla do que eu poderia dizer do que é jornalismo. E o jornalista acho que, né, é esse profissional que trabalha justamente para produzir essas narrativas, né, essas histórias, guiadas pelo interesse público e pelos valores democráticos.

EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER 🎶

SOBE SOM  🎶 

MARIANA: A agência pública foi responsável por reportagens, como a que denunciou que a empresa iFood havia contratado uma empresa de publicidade para desmobilizar a greve dos entregadores em 2021, em meio à pandemia.

ÁUDIO PÚBLICA: E aí a pessoa veio me mostrar isso do tipo, cara, tá vendo esse meme aqui? Pode parecer engraçado e tal, mas não sei, tô vindo te mostrar isso aqui porque esse meme foi publicado, foi criado por uma agência de publicidade. A pessoa falou que tinha trabalhado nessa agência de publicidade e que esse meme teria sido criado numa campanha contratada pelo iFood. E aí eu olhei aquilo e fiquei, cara, como assim?

MARIANA: Um dos diferenciais da agência pública é que, junto com as reportagens, ela disponibiliza os materiais que usou como fonte e explica em detalhes quais foram os dados usados, de onde foram tirados e por que foram utilizados de determinada forma. Esta é uma maneira de detalhar o trabalho jornalístico e também de fazer educação mediática.

EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER 🎶

BRUNO: Essa é uma prática que começou aqui na agência pública até há muitos anos quando a gente ainda fazia checagem de fatos. A gente começou um projeto de checagem em 2014, né, nas eleições presidenciais. E na época, a checagem acabava se baseando muito em fontes de dados, né, em dados públicos. Continua sendo hoje, inclusive, para os veículos que fazem checagem, porque, muitas vezes, sejam os políticos, né, quando são candidatos, sejam os próprios governantes, quando estão ocupando algum cargo, eles não gostam muito, eles não têm o costume de serem transparentes com as informações que eles passam. Então, era muito importante para a gente buscar esses dados, nas bases de dados governamentais, por exemplo, para poder usar para checagem. O que a gente percebeu é que era muito importante, inclusive por a gente estar exigindo essa transparência dos políticos e dos governantes, que a gente também fosse extremamente transparente. Então, desde essa época, a gente sempre publiciza as bases de dados que a gente utiliza, e quando são matérias que envolvem alguma metodologia mais complexa, quando envolve um cruzamento, ou mesmo quando a gente usa algum algoritmo, algum tipo de refinamento da base de dados, a gente deixa a metodologia explicada. Porque a gente acredita, primeiro, que é um valor ético do jornalismo ser transparente com aquilo que você conseguiu obter. A gente só esconde, a gente só protege as nossas fontes de informação quando envolvem, né, denúncias de pessoas que estão em situação de risco, quando são denúncias que você realmente não pode expor a sua fonte pelo risco que ela pode correr. Mas quando são dados governamentais, não faz sentido você, como jornalista, não dizer de onde você tirou aquela informação.

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BRUNO: A gente acredita que isso é uma prática, não só ética do jornalismo, mas que fomenta o próprio campo de outras investigações. Então, para a gente, é um valor muito grande quando outros veículos, outras organizações, utilizam as nossas reportagens, as bases de dados das nossas reportagens para produzir as suas próprias investigações. Quando o professor dá uma aula utilizando esses dados, a gente acredita que isso é um papel muito importante para poder fomentar não só o jornalismo, mas a educação, a pesquisa, o ensino. A gente teve alguns grandes bancos de dados que a gente montou, por exemplo, de intoxicações por agrotóxico, de violência no campo, e que todos eles, no final, tinham a base de dados. E a gente fica muito feliz quando a gente vê, depois, um professor, de alguma região do Brasil, dizendo que utilizou isso em aula. Eu acho que traz um valor, assim, para o jornalismo, um impacto do jornalismo, que faz muito sentido para a gente, inclusive porque todas as nossas reportagens são abertas para a republicação, né.

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SOBE SOM  🎶 

MARIANA: Fazer reportagens longas demanda tempo, organização e financiamento. É preciso também ouvir todos os lados da história.

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BRUNO: Eu acho que o mais importante é sempre ter em mente e fazer um planejamento de quais são as fontes e quais são os recursos que você precisa ter para poder avançar nessa apuração. Então, por exemplo, se é um banco de dados de saúde, primeiro você vai precisar saber e entender bastante essa base de dados para tirar conclusões corretas em cima desses dados. Se esses dados apontarem, por exemplo, que está faltando algum atendimento em saúde de uma determinada região, a partir daí você busca, né, lideranças comunitárias nessa região, quem são os responsáveis pelo Estado nessa região, especialistas, pessoas que estudam essa área que vão saber mais do que você, o repórter, sobre esse problema. Então, acho que o mais importante é mapear quem são as outras fontes de informação que vão complementar aquela apuração inicial que você começou, seja de um documento, seja de uma denúncia, seja de um vazamento, né. Sempre vão ter, em determinado tema, organizações, sejam elas do Estado, sejam elas da sociedade civil, sejam elas pesquisadores, que vão tratar e trabalhar essa informação inicial que você está querendo apurar para conseguir aprofundar e realmente chegar na investigação.

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BRUNO: Então, uma prática que a gente tem aqui na pública é buscar sempre tentar esgotar as possibilidades de pessoas e fontes a serem ouvidas para conseguir levar as apurações adiante. E pensando que nessas fontes podem ser pessoas, né, que estão em determinados cargos, podem ser pesquisadores, pessoas de organização da sociedade civil, mas também fontes de dados, bancos de dados, documentos produzidos pelo poder público, diários oficiais, pesquisas, relatórios. O mais importante é tentar esgotar realmente, assim, as possibilidades de informação para dar esses passos além da apuração que a gente faz. O nosso modelo também investigativo ele permite que muitas vezes a gente complemente uma informação que a gente conseguiu com um pedido de lei de acesso, que vai durar às vezes 20, 30 dias, né, para ser respondido, mas que a gente acha que é importante para poder dar seguimento a algumas reportagens. Então, não desistir dessa apuração, tentar ir mais além daquela primeira informação que chega para você.

EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER 🎶

SOBE SOM  🎶 

MARIANA: Reportagens longas e de longo período de apuração parecem ir na contramão de um ritmo cada vez mais acelerado, de uma enxurrada de informações rápidas e de vídeos curtos para prender a atenção do público. Mas, para Bruno, esse jornalismo vale a pena e se conecta com as necessidades da sociedade.

EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER 🎶

BRUNO: É claro, né, o jornalismo tem que se preocupar com a audiência. O jornalismo precisa ser lido. Mas ser lido é diferente de buscar clique e page views a todo e qualquer custo. Pelo menos é isso que eu acredito. De fato, o jornalismo ele compete com plataforma de streaming, compete com redes sociais, compete com o vídeo do gatinho que está passando, mas eu acredito que a gente tem que saber ter uma serenidade, maturidade para entender como a gente vai entrar nessa competição por audiência e por atenção das pessoas e até que medida você vai sacrificar o seu jornalismo para isso. Hoje, na pública, o que a gente acredita é que as reportagens, elas precisam ter o tamanho que elas precisem ter. É claro que nós editamos as reportagens nós pensamos em como o texto vai ser claro, inteligível para as pessoas, a gente tem que pensar, inclusive, que muitas vezes jornalistas escrevem só para jornalistas. Muitas vezes as pessoas ligam o noticiário, a TV, o rádio e você vê uma cobertura econômica ou política que é completamente incompreensível para quem não está muito por dentro daquele assunto, né. Então eu acho que muitas vezes essa preocupação em tentar ser claro, em tentar tratar a atenção do leitor como algo importante e valioso não se baseia só em fazer coisas curtas ou coisas mais atraentes, assim, visualmente. Acho que isso é um lado, mas o outro também é de tentar ser transparente, de tentar ser claro com o leitor. Eu acho que esse tipo de jornalismo mais transparente também é uma forma de você buscar a sua audiência e de tratar bem o leitor.

EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER 🎶

SOBE SOM  🎶 

MARIANA: A Pública é apenas um exemplo de veículo que investe em grandes reportagens. Existem outros e existem também muitos outros jornalistas que fazem jornalismo investigativo. Uma delas é a Ariene Susui, especializada em cobertura de questões indígenas.

EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER 🎶

ARIENE: Eu sou Ariene Susui. Eu sou do povo Wapichana. Eu sou do estado de Roraima, da comunidade indígena Truaru da Cabeceira, da Terra Indígena Truaru também. Eu sou uma mulher indígena, de pequena estatura, tenho cabelo curto e estou usando, né, um brinco de pena. Eu sou formada em comunicação, sou jornalista com formação e também com mestrado em comunicação, com especificação em comunicadores indígenas, comunicação indígena.

EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER 🎶

ARIENE: O meu trabalho ele é envolvido, especificamente, com o movimento indígena. Tem tantos temas, tem tantas pautas, mas eu trago as pautas do movimento indígena, das questões indígenas, porque são pautas muito grandes. Nós temos a questão da saúde, nós temos a questão da educação, nós temos a questão do território, nós estamos falando de mais de 300 povos no Brasil, povos distintos, línguas. Então, além de povos em recente contato, povos em isolamento voluntário. Então, são povos que nem sequer ainda nós sabemos, né, qual é a língua, qual... Enfim, são tantas questões que envolvem esse ambiente que eu não tenho tempo para ir para outras pautas, assim. Não porque eu não queira, não porque não consigo falar sobre, mas é que essa pauta, especificamente, é uma pauta muito grande e muito cara também, porque a gente está falando de uma das pautas que tem um dos embates políticos, um dos embates do Congresso Nacional mais duros, né, que nós acompanhamos desde a história, desde a época da colonização.

ÁUDIO REPORTAGEM: O dia começou bem cedo para centenas de grupos indígenas reunidos no 19º Acampamento Terra Livre. Para este ano, o tema escolhido foi o futuro indígena é hoje, sem demarcação não há democracia. Sob esta bandeira, os indígenas pretendem pedir ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a demarcação de territórios e a proteção de recursos ancestrais para proteger suas reservas da mineração e extração ilegal de madeira, entre outros crimes.

SOBE SOM MÚSICA INDÍGENA 🎶 

ÁUDIO REPORTAGEM: O Supremo Tribunal Federal retomou hoje o julgamento do chamado marco temporal para demarcar terras indígenas no Brasil.

SOBE SOM  🎶 

MARIANA: Fazer jornalismo investigativo na Amazônia tem algumas especificidades. A logística é muito mais complexa que a de grandes cidades, por exemplo. Ainda mais quando se tratam de territórios indígenas. Às vezes, são dias de viagem de barco para acessar determinado território. Quando não consegue ir presencialmente, a Ariene busca as fontes de forma remota, pelo WhatsApp. Mas também não é simples. Às vezes, uma simples troca de áudios demora uma semana, por conta da qualidade da internet. Outra dificuldade é a língua, que nem sempre ela tem muita familiaridade. Para se ter ideia, segundo o Instituto Socioambiental, são mais de 160 línguas e dialetos no Brasil.

EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER 🎶

ARIENE: Então, eu acabo tendo esse contato muito por telefone, apesar de estar no contexto próximo. Por questão de recursos, nós estamos numa área extremamente cara. Se eu fizer uma viagem, tipo assim, às vezes, o orçamento que dá só cabe uma viagem. Por exemplo, no Amazonas, onde eu estou hoje. Tem essa questão, que é um fator principal, né. Às vezes, a gente até consegue fazer com que a gente vá, mas acaba esbarrando na questão do próprio orçamento, né, não tem recursos suficientes. Às vezes, as pessoas não querem pagar o suficiente para poder arcar com a questão do combustível, a questão do barco, a questão do ônibus, às vezes, a questão do avião, né. São pautas muito caras. Então, nem todo mundo está disposto a pagar por essas pautas. E a grande maioria, eu consigo falar de forma online muito dificultosa também, porque a internet é muito ruim. E aí, acaba tendo essas dificuldades, né, do próprio telefone. Mas, assim, a grande maioria tenho conseguido ir presencialmente. Às vezes, de alguma forma, consigo aproveitar algumas viagens, aproveitar alguma coisa que eu já aproveito para fazer entrevistas, e assim vai.

EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER 🎶

ARIENE: Né, então, a gente acaba aproveitando oportunidades, mas, sim, hoje é que consigo fazer a maior parte, assim, de forma online. Às vezes, a internet mesmo, assim, são longas. Às vezes, tem uma semana inteira para tentar construir um negócio de diálogo, assim, sabe. E teve um que, por exemplo, como eu lido muito com a questão indígena, tenho que também entender o que a pessoa está falando. Tipo, tem lideranças que não falam bem português. Então, às vezes, eu tenho que interpretar o que quer dizer com isso. Então, às vezes, tem que fazer um esforço a mais ali, para poder compreender o que é a liderança, o que o jovem, o que uma mulher, o que uma pajé falou, para eu não cometer alguns erros em questões linguísticas, étnicas.

EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER 🎶

SOBE SOM  🎶 

MARIANA: O tempo de apuração de Ariene, muitas vezes acaba sendo mais longo que nas redações tradicionais. Às vezes, dura anos.

EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER 🎶

ARIENE: As pautas, na verdade, assim, todas as que eu escrevi até o momento, elas nascem em anos anteriores, assim, com muitos antecedentes. Tipo, não acontece isso daqui para amanhã. Tipo assim, ah, 2020, achei uma coisa interessante, mas eu não vou escrever logo, assim. Eu escrevo, às vezes eu pego um depoimento, às vezes eu gravo ali. E aí eu vou seguindo, assim, sabe? Até ter uma pauta mais robusta. E, às vezes, eu até tenho já o material quase pronto, mas aí, sim, eu começo a trabalhar nessa pauta. Tenho muita calma com isso, assim, de ir no meu tempo, que, às vezes, as pessoas não querem. Isso faz muito parte, por exemplo, de eu não estar em muitas redações, porque o tempo das pessoas ela é um tempo muito corrido. E é um tempo que eu não costumo me dar bem, assim, tipo, ah, faz isso, faz aquilo. E aí eu acabo tendo que ter um tempo maior, porque eu gosto de verificar a realidade, de conversar, de entender um pouco mais e de estudar um pouco mais. Até porque a gente está falando de pessoas, a gente está falando de vidas.

EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER 🎶

SOBE SOM  🎶 

MARIANA: Tanto para Ariene, quanto para Bruno, o papel do jornalista é trazer à tona o que está escondido, aquilo que está prejudicando grupos de pessoas, que está desrespeitando as leis e os direitos humanos e que, por interesses, acaba sendo mantido. Para eles, o papel do jornalista é contribuir para a sociedade. E também, contar histórias.

EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER 🎶

BRUNO: Eu acho que esse ato de trazer histórias para as pessoas, narrar essas histórias, ao mesmo tempo é uma responsabilidade muito grande, né, porque você conta pelos seus olhos, pela sua boca, pelos seus ouvidos, às vezes, a história de outras pessoas, né? E, é claro que tem o seu filtro, tem a sua interpretação, sua criatividade. Mas, por outro lado, eu também acho que é uma atividade muito digna e que acho que diz muito, assim, da nossa sociedade. Acho que é uma prática ainda muito bonita, assim. É claro que o jornalismo não é só isso, não é feito só de personagens, ele é feito, às vezes, inclusive, de denúncias muito tristes e sérias, às vezes são de dados. Mas eu acho que, independente do formato, o que ainda me mantém, o que ainda me motiva é justamente conseguir trazer essas histórias, esses pedacinhos, assim, de realidade para as pessoas, que eu acho que são importantes, que acho que fazem sentido. E que acho que é bom que exista algo como jornalismo para falar para as pessoas, “não, olha pra isso daqui”, olha pra isso ou com cuidado ou com atenção ou com carinho, porque isso é importante para o mundo que a gente vive.

EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER 🎶

ARIENE: Eu acredito que seja contribuir com a sociedade de uma forma que leve, de fato, a voz, né, da sociedade, coloque, de alguma forma, esse anseio, né, de tantas problemáticas do contexto social, da desigualdade, da justiça, com a falta de, enfim, são tantas questões que precisam ser colocadas de alguma forma, que precisam ser explanadas de alguma forma, e sabemos que uma pessoa só não consegue fazer tanto, mas um jornalista consegue, porque ele consegue colocar em alguns veículos, né, essas vozes, consegue ecoar essas vozes. Essas vozes, elas existem, elas estão ali, elas estão falando, mas se não tiver um papel do jornalista compromissado com a sociedade, de demonstrar, e mostrar para a sociedade, mas para as autoridades, para quem aquilo que as pessoas estão ali gritando, tipo, estão falando, estão denunciando e tudo mais, se não tiver um papel do jornalista compromissado com a causa social, eu acredito que a gente pouco muda essa realidade. Então, o papel do jornalista é fundamental nessa sociedade, principalmente quando estamos falando de uma falta de educação política, estamos falando de uma falta de educação ambiental, estamos falando de uma falta. Enfim, são tantas faltas, né, tipo, e acaba que precisa suprir isso de alguma forma, e o jornalista ele acaba tendo esse papel que é de fazer esse intermédio, chegar até as autoridades. E isso tem que ser um papel fundamental, porque quando a gente acaba perdendo essa essência do que é falar, do que é denunciar, do que é, tipo, trazer essas pautas que estão ali bem quietinhas, mas tem pessoas ali falando sobre isso, tem pessoas falando os problemas da sua cidade, enfim, né, então envolve tantas questões. Isso tem que, de alguma forma, trazer para o debate público. E quem, de alguma forma, traz para o debate público são os jornalistas.

EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER 🎶

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MARIANA: Este é o Dizem as Fontes, podcast que discute o papel do jornalista na educação midiática e como a educação midiática pode contribuir com o próprio jornalismo.

SOBE SOM  🎶 

MARIANA: Eu sou Mariana Tokarnia, repórter da Agência Brasil. O projeto Dizem as Fontes é fruto do meu mestrado profissional em Mídias Criativas na Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ, com orientação de Inês Maciel. Eu fiz a reportagem, entrevistas, roteiro, apresentação e montagem desse podcast.

Akemi Nitahara complementou a edição, sonorização e adaptação.

Tâmara Freire gravou a vinheta e os títulos dos episódios. 

Implementação Web de Lincoln Araújo e Beatriz Arcoverde, que também faz a coordenação de processos. 

Utilizamos na trilha sonora a composição Informalidade, de Ricardo Vilas. 

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MARIANA: Este episódio usou áudio de vídeos da TV Brasil, AFP e Metrópoles, disponíveis no YouTube, e de Pauta Pública, podcast da Agência Pública.

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MARIANA: Acompanhe também outras produções da Radioagência Nacional, como os 50 anos do Hip Hop e Transformando as Artes. Todos os capítulos estão disponíveis nos tocadores de áudio e no site da Radioagência Nacional, um serviço público de mídia da EBC. No penúltimo episódio, trazemos relatos da mídia pela mídia. 

EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER 🎶

SOBE SOM 🎶 

Em breve

Reportagem, entrevistas, roteiro, apresentação e montagem

Mariana Tokarnia
Edição, sonorização e adaptação Akemi Nitahara 
Coordenação de processos

Beatriz Arcoverde

Identidade visual e design:

Caroline Ramos

Interpretação em Libras: Equipe EBC
Implementação na Web:

Lincoln Araújo e Beatriz Arcoverde

Trilha Ricardo Vilas
Locução da vinheta e títulos dos episódios Tâmara Freire
Áudios Rádio Nacional, Voz das Comunidades, Voz de Guadalupe e do Instagram do Rio Parada Funk

 

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