Na Trilha da História: Jesuítas foram mais que referências religiosas para o Brasil
Olá! Eu sou a Isabela Azevedo e está começando o Na Trilha da História! Hoje nós vamos falar sobre a trajetória dos jesuítas no Brasil. Criada em 1534, a Companhia de Jesus tinha a missão de difundir o catolicismo pelo mundo. No Brasil, os padres jesuítas começaram a chegar em 1549. Quem vai nos ajudar a entender esse importante capítulo da história do nosso país é o jornalista Tiago Cordeiro, autor do livro "A grande Aventura dos Jesuítas no Brasil". Ele dá uma ideia da influência desses religiosos na construção do país.
Sonora: "Eles ajudaram a desenhar as cidades, eles não eram apenas referências religiosas. Eles pegaram em armas, participaram de batalhas, eles ajudaram os portugueses a entender os índios. Eles se movimentaram por toda área que formava nossa colônia. Sem eles, o Brasil não seria o que é hoje."
Mas um dos principais focos dos jesuítas no Brasil era a educação e a cultura.
Sonora: "A língua portuguesa que a gente fala aqui no Brasil é resultado dos estudos que eles fizeram da língua dos indígenas, as misturas que eles fizeram para facilitar a comunicação com os índios. Eles ajudaram a formar nossa música, nossa poesia, nosso idioma, nossas bibliotecas".
Os jesuítas eram padres jovens de origem europeia. Cruzar o oceano, conhecer tribos indígenas e viver em uma terra pouco explorada era uma grande aventura.
Sonora: "O que é hoje uma criança que assiste à Jornada nas Estrelas, pensa ir para Marte, para Lua, conhecer outros planetas... era isso. Quando eles chegavam, eles encontravam pessoas com tons de pele diferente, altura diferente, idiomas diferentes roupas diferentes, era como ir para outro planeta”.
Em contato com os indígenas, os jesuítas presenciaram rituais canibalistas, conviveram com pessoas que andavam praticamente nuas e ouviam perguntas que consideravam inusitadas.
Sonora: "Você explicar para um índio que o filho de Deus havia sido pregado numa cruz já era uma coisa estranha. Era um derrotado de guerra na cabeça de um índio. Mas come? Onde ele mora? Ele vai no banheiro? Eles tinham muita boa vontade, eles queriam entender, por isso interrogavam. E o cristianismo era questão de fé, aquilo faz sentido se você cresceu ouvindo".
Alguns jesuítas ganharam bastante destaque nos livros de História. Um deles é o padre Antônio Vieira.
Sonora: "Essa vida de aventura deixou um legado para nossa literatura, um legado para os nossos sermões, na própria cultura dos índios. Ele ajudou os índios na região do Maranhão a serem ainda mais rebeldes contra a liderança dos portugueses, a não aceitarem ser escravizados, a se rebelarem contra os chefes".
E o dia a dia nas aldeias? Como era a convivência entre os jesuítas e os indígenas?
Sonora: "Os líderes nas aldeias eram índios, mas eles tinham de colocar roupa, ter só uma esposa e adorar a um único Deus. E adaptar a língua também, falar essa língua misturada que os jesuítas estavam criando. Mas era um modelo que funcionava porque ali eles poderiam se desenvolver, e não eram escravizados. No geral, os colonizadores não estavam nem aí para os índios. Eles queriam as índias para sexo e os índios para trabalho. E os jesuítas eram muito mais sofisticados do que isso".
Mas enquanto os jesuítas protegiam os indígenas da escravidão, os padres usavam o trabalho escravo dos africanos nas plantações.
Sonora: "Eles não pensavam duas vezes não. Eles compravam e vendiam escravos negros com essa justificativa bem cínica de que o escravo não tinha alma".
Nos dois séculos que os jesuítas permaneceram no Brasil, muita coisa mudou. Muitos missionários se deixaram levar pelo desejo de influenciar na política e pela ambição econômica. Em 1759, eles acabaram expulsos da colônia portuguesa e a aventura pelo Brasil acabou.
Sonora: "Os jesuítas perderam o pouco o foco e surgiram críticas na Europa. O fato de eles terem fazendas era considerado um absurdo, não era para isso que eles estavam no Brasil. Era uma insatisfação geral".
A Companhia de Jesus foi reaberta em 1812 e o trabalho dos missionários continua. O jesuíta mais popular da atualidade é Jorge Bergoglio, o papa Francisco. E o Na Trilha História fica por aqui. Essa é uma versão reduzida programa. O episódio completo tem uma hora de duração e traz, além da entrevista completa com o jornalista Tiago Cordeiro, músicas que tem tudo a ver com o nosso tema da semana. Para ouvir, acesse: radios.ebc.com.br/natrilhadahistoria. Até semana que vem, pessoal.
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