Operação Carne Fraca: Esquema envolvia grandes frigoríficos e fiscais da Agricultura
A Polícia Federal deflagrou nesta sexta-feira (17) uma operação envolvendo 40 empresas de produtos alimentícios que distribuíam para todo o país e o exterior. O esquema, segundo o delegado Maurício Moscardi Grilo, incluía o uso de substâncias cancerígenas em quantidades cinco vezes maior que o permitido para maquiar a carne e disfarçar o cheiro de carne podre.
O grupo também injetava água para que o peso do produto fosse maior e trocava a proteína da carne por soja e fécula de mandioca, que são mais baratos. As investigações mostraram ainda que em determinados momentos em os fiscais envolvidos aguentavam a má qualidade do produto. Diziam que não dava para receber a mercadoria desse jeito.
A Operação Carne Fraca é a maior já realizada pela PF. Foram mais de 300 mandados cumpridos com relação a esse esquema de fiscalização irregular de frigoríficos e liberação de licenças. As investigações começaram há dois anos depois da denúncia de um dos fiscais.
Estão envolvidas as principais empresas do Brasil: a JBS, que controla a Friboi e a Seara e a BRF, que controla a Sadia e a Perdigão. O delegado Maurício Moscardi Grilo disse que são grandes as chances de carne podre ou abaixo das especificações terem sido consumidas por todo o país.
O esquema seria comandado pelo superintendente regional do Ministério da Agricultura, Daniel Gonçalves Filho, e pela chefe do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal, Maria do Róscio Nascimento. Os policiais encontraram uma grande quantidade de dinheiro, durante as buscas nesta sexta-feira (17). Na casa do atual superintendente regional, Gil Bueno, por exemplo, foram apreendidos R$ 65 mil.
O delegado disse ainda que há indícios de que parte do dinheiro tenha sido destinado a campanhas políticas. O ministro da Justiça, Osmar Serraglio, do PMDB, seria padrinho político de um dos envolvidos. Em nota, afirmou que soube, que soube nesta sexta-feira, assim como um cidadão igual a todos, que seu nome havia sido citado na investigação. E que a conclusão é de que não há indícios de ilegalidades na conversa degravada. O ministro se referiu à transcrição de uma conversa em que chama Daniel Gonçalves Filho de grande chefe. O delegado disse que não havia indícios de crime. Mas que, por cautela, era necessário dar o informe.
O PMDB informou que desconhece o teor da investigação e não autoriza ninguém a falar em nome do partido. A JBS afirmou que não há ordem judicial contra seus executivos e que sua sede não foi alvo da operação. E que a empresa e suas subsidiárias atuam em absoluto cumprimento de todas as normas regulatórias no Brasil e no exterior. As outras empresas não responderam aos contatos da reportagem.
* O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, divulgou nota sobre a Operação Carne Fraca. Leia a íntegra abaixo:
"Diante dos fatos narrados na Operação Carne Fraca, cuja investigação começou há mais de dois anos, decidi cancelar minha licença de 10 dias do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O que as apurações da Polícia Federal indicam é um crime contra a população brasileira, que merece ser punido com todo o rigor.
Neste momento, toda a atenção é necessária para separarmos o joio do trigo. Muitas ações já foram implementadas para corrigir distorções e combater a corrupção e os desvios de conduta, e novas medidas serão tomadas. Estou coordenando as ações, já determinei o afastamento imediato de todos os envolvidos e a instauração de procedimentos administrativos. Todo apoio será dado à PF nas apurações. Minha determinação é tolerância zero com atos irregulares no Mapa."
Blairo Maggi
Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento