Programa que fornece passagem para migrante que quer deixar capital paulista é suspenso
A Prefeitura de São Paulo suspendeu o serviço de fornecimento de passagens de ônibus para migrantes de baixa renda que queiram deixar a capital paulista.
Desde 2003 a prefeitura garantia o bilhete de volta para quem veio tentar a sorte em São Paulo e não se deu bem. Só no ano passado, foram fornecidas 1.687 passagens.
Há um ano, o Secretario de Assistência e Desenvolvimento Social, Felipe Sabará, chegou a fazer propaganda do programa nas redes sociais. Em um vídeo do Facebook, o secretário conversa com Antônio, morador de rua que tinha acabado de ganhar a passagem de volta para São Luiz, no Maranhão.
Mas, o programa foi suspenso há pelo menos dois meses.
Fábio Rodrigues de Sousa, de 32 anos, chegou atrás de trabalho, mas depois de dois anos enfrentando noites na rua e em albergues resolveu que era hora de voltar para casa, em Garanhuns, Pernambuco. Ele foi pedir ajuda em um centro de atendimento à população de rua.
Sonora: "Cheguei lá a assistente falou que a prefeitura não tá dando mais passagem e tem que ir pra outra cidade, no interior de São Paulo, pra conseguir a passagem."
Foi a mesma coisa com Francisco Marques de Sousa, na Paraíba.
Sonora: "Eles falaram que tinha cortado já. Nas antigas eles tinham. mas agora não tá tendo mais não. E o que tão podendo fazer é isso. Deixam as pessoas no albergue e é isso."
Para padre Júlio Lancelloti, coordenador da pastoral do Povo da Rua, o bilhete de volta é o serviço de assistência mais barato para os cofres públicos, só precisa ser feito com critérios.
Sonora: "Uma pessoa que está na rua em São Paulo custa para prefeitura, por mês, R$ 1,5 mil. Esse é um valor 10 vezes para ele voltar para família dele. Então tem que ter critério. Não é favorecer o turismo de fazer as pessoas ficarem circulando pelo Brasil. Não fazer isso por higienismo, como fazem muitas cidades, em São Paulo. Agora, ele tem família, a família o aceita de volta, ele quer voltar pra família? Porque não garantir esse direito pra ele de voltar à família?''
Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social do município, o serviço foi suspenso em função de atrasos na licitação de fornecedores, mas deve voltar à normalidade a partir de setembro.
O custo mensal do programa é de R$35 mil reais. Há duas semanas, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, do PSDB, reconheceu que a população de rua na capital paulista está crescendo muito e, por isso, o recenseamento da população deve ser antecipado.
A estimativa oficial é que mais de 20 mil pessoas vivam nas calçadas da capital paulista.
Fábio e Francisco acabaram ganhando passagens da Pastoral do Povo da Rua logo depois da entrevista com a Radio Nacional.
As passagens só iam até Belo Horizonte e foram doadas por voluntários.