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Quatro anos após rompimento de barragem, água do Rio Doce ainda gera desconfiança

Tragédia de Mariana
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Lucas Pordeus León
17/10/2019 - 06:00
Ipatinga (MG)

Passados quase quatro anos do rompimento da barragem da Samarco, Vale e BHP em Mariana, ainda tem município que não aceita usar o Rio Doce para abastecimento humano por desconfiar da qualidade da água.

 

A prefeitura de Resplendor, em Minas Gerais, prefere buscar água através de caminhões-pipa em córregos e rios próximos a retomar a captação no Rio Doce, como explicou o prefeito da cidade, Diogo Scarabelli.

 

“A população hoje não acredita que o Rio Doce está apto para o consumo. Já virou algo psicológico. 99,9% da população acredita que a água está absolutamente contaminada”.

 

A cidade de Resplendor tem cerca de 17 mil habitantes, e o centro urbano é divido ao meio pelo Rio. O comerciante Ramon Nicolini, nascido em Resplendor, afirma que a desconfiança em relação a qualidade da água é maior que os transtornos causados pelo abastecimento a base de caminhão-pipa.

 

“Apesar de nós passarmos a nossa famosa ponte, aqui, e vermos os peixes pularem, nós não acreditamos na qualidade dessa água porque nós vemos as pessoas pescarem e pegarem esse peixe todo estragado por dentro. Ele é pego doente, com coloração escura e até mesmo algumas transformações”.

 

O Instituto Mineiro de Gestão das Águas, o IGAM, faz o monitoramento da Bacia do Rio Doce em 14 diferentes pontos, e alega que a água é própria para o consumo, desde que passe por um tratamento. A diretora-geral do IGAM, Marília Melo, afirma que a poluição do rio chegou aos níveis anteriores ao rompimento.

 

“Toda a série histórica do IGAM, antes do rompimento da barragem, a turbidez era em torno de 74 unidades de turbidez. Esse era o valor médio. Depois que ocorreu o desastre nós tivemos valores em torno de 955 de turbidez, essa foi a média. Mas tivemos valor máximo de 9.168 unidades de turbidez”.

 

Em 2019, a média de unidades de turbidez chegou a 64, abaixo da média histórica. O município de Governador Valadares, com aproximadamente 250 mil habitantes, usa a água da do Rio Doce para abastecer a cidade. Mas a população local tem se organizado para pedir mudanças nesta captação e, por isso, uma obra está em andamento para buscar recursos hídricos de outras fontes, como revelou o promotor do Ministério Público da comarca do município, Leonardo Castro Maia. Para o promotor, esta é a principal demanda das cidades que se abastecem no Rio Doce.

 

“Hoje a água, pelo monitoramento realizado, tem condições de ser tratada. O que não quer dizer que não haja riscos, em razão dos rejeitos, para a saúde das pessoas. Riscos ainda estão sendo apurados, o estudo ainda não concluído. Agora, o fato é que a população hoje não confia nesses laudos e avaliações dos órgãos competentes. Em todos os locais da bacia que captam a água do Rio Doce existe desconfiança”.

 

A Fundação Renova, financiada pelas mineradoras para fazer a reparação dos danos causados pelos rejeitos, no primeiro momento, fez ações de limpeza nas margens dos rios e uma revegetação emergencial para evitar a erosão do solo. Também foram recuperadas mil nascentes na região nesses quatro anos, e o plano é chegar a 5 mil. A Renova ainda financia iniciativas inovadoras para a melhoria da qualidade da água, mas que ainda estão em fase de testes.

 

Outro programa apontado pela Fundação para recuperar a bacia é o de saneamento básico, com investimentos estimados em R$ 500 milhões.

 

* Matéria alterada às 14h45 para correção da localização do repórter, e às 22h50 para correção de informação.

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