Candangos ou pioneiros? Como surgiu o título que batiza os primeiros moradores da capital do país
“O difícil é chegar lá. Não tem estrada e nem campo de aviação. Eu digo: vou de pés, mas vou assim mesmo”.
Quando Carlito Alves Rodrigues decidiu se mudar de Ipu, no Ceará, para o Planalto Central, no fim de 1956, estava cheio de coragem. Passou a virada do ano na estrada, a bordo de um pau de arara que trouxe ele e dezenas de trabalhadores para o local onde um dia seria o Distrito Federal.
“Arrumaram um caminhão, um pau de arara, e nós saímos lá em dezembro. Viajamos durante 29 dias, até que chegamos no Catetinho. E o motorista e o fretante do caminhão disseram: pronto, fim de viagem, aqui é Brasília. Eu olhei Brasília, e era só Cerrado. Cerrado e nada mais. Não existia carro, nós andávamos de charrete”.
No livro “Brasília Kubitschek de Oliveira”, o jornalista, historiador e ex-governador do DF Ronaldo Costa Couto conta que, em 1º de novembro de 1956, havia 232 operários em Brasília. Em fevereiro de 1957, a cidade reunia mais de três mil pessoas. Em julho daquele ano, o Censo do IBGE contou quase 13 mil residentes e, um ano antes da inauguração, a população de Brasília passava dos 60 mil habitantes.
Bravos... candangos ou pioneiros?
O pesquisador João Carlos Amador, autor do livro “Histórias de Brasília”, conta que, se naquela época os termos significavam pessoas de posições sociais opostas, com o tempo, eles se tornaram sinônimos.
“Candango era uma expressão pejorativa. Ela foi resgatada da época dos escravos, ainda, e significa alguém de menor valor. Então os candangos eram todos os que faziam trabalho braçal, que era o trabalho da obra, mesmo. Inclusive tinha eleição dos 10 mais candangos da cidade, que eram os mais mal vestidos. Mas no discurso de posse do JK foi quando houve essa virada. Ele agradeceu os candangos, falou deles como pessoas de muita importância para a construção da cidade. E aí todo mundo queria ser candango”.
Na reportagem desta sexta-feira vamos falar sobre a organização administrativa um tanto quanto singular da nossa capital.
Com produção de Graziele Bezerra e Renato Lima.