Saiba como a construção das avenidas de Brasília fizeram Lúcio Costa adaptar seu plano urbanístico
Uma avenida, normalmente, é cercada por comércios. Mas aqui no Distrito Federal, pelo menos três importantes avenidas passam por áreas residenciais.
A primeira delas foi também uma das primeiras a serem abertas para a construção do DF. A Avenida Central do Núcleo Bandeirante começou a ser construída em 1956, quando a localidade ainda se chamava Cidade Livre.
O loteamento que recebeu a cidade deveria ser usado exclusivamente para o comércio e, por isso, o governo não fornecia alvarás para residências, porque o objetivo era desmontar tudo depois da inauguração de Brasília. Vamos explicar melhor a formação da cidade em uma próxima reportagem. O que interessa saber agora é que, mesmo sem autorização, os candangos foram erguendo barracos no entorno da via. E, quando Brasília foi inaugurada, alguns comerciantes se foram, mas os moradores reivindicaram a posse da terra.
Hoje, o Núcleo Bandeirante Tradicional, que inclui a, além da Central, a Segunda e a Terceira Avenidas, é um lugar essencialmente residencial, mas com um comércio que atende às necessidades dos moradores e atrai até quem vive em outras regiões do DF. Entre os destaques estão restaurantes de comida regional, lanchonetes e lojas de roupas e acessórios.
As outras duas avenidas que tem muitos moradores como vizinhos ficam no Plano Piloto.
A L2 é a segunda via paralela ao Eixo Rodoviário, no sentido leste. Por isso a letra L na sigla. A primeira é a L1, que separa as quadras 200 das 400. De norte a sul, a L2 separa as 400 das 600. Nas 400 ficam as superquadras, com os blocos residenciais e os comércios locais. Enquanto nas 600 funcionam instituições religiosas, escolas, universidades, clínicas e hospitais. É a avenida L2 que dá acesso aos parques da Asa Sul, na 615 Sul, e Olhos D’Água, na 415 Norte.
Já a W3, recebe esse nome por ser a terceira via a oeste do Eixão. Ela separa as quadras 500 das 700 e foi planejada para ser uma avenida comercial, para abastecer os moradores das superquadras. Tanto que a entrada do comércio deveria ser pela via W2. A W3 seria uma via de serviço, para transporte de estoque para as lojas.
Mas a avenida também faz parte da escala residencial da cidade planejada por Lucio Costa. Ainda durante a construção da nova capital, em 1958, o urbanista decidiu adaptar a ideia à realidade e construir casas geminadas na região destinada a receber floriculturas, hortas e pomares. Os primeiros moradores foram as famílias de técnicos que atuavam nas obras.
Isso na W3 Sul. No entorno da W3 Norte, as quadras 700 deram espaço para oficinas e, depois, para os “esticadinhos”. Em vez de “puxadinhos”, comuns nas regiões de periferia Brasil afora, em Brasília os prédios cresciam para cima. Daí o apelido de “esticadinhos”.
Os 25 primeiros anos da W3 são considerados os anos de ouro. Nos primeiros anos de Brasília, era por lá que desfilavam as escolas de samba. De meados da década de 80 pra cá, os comércios locais e os shoppings concentraram grandes lojas e deixaram a via mais próxima do planejamento original, com lojas menores.
O bônus foram os importantes equipamentos de cultura, que não estavam inicialmente previstos, como o Sesc, a Biblioteca Demonstrativa e o Espaço Cultural Renato Russo.
Com o tempo, a região foi recebendo menos investimentos do governo, e, no ano passado, a situação das calçadas e marquises estava tão ruim, que o GDF começou uma grande reforma para revitalizar a W3. Tomara que dessa vez dê certo.
* Essa é mais uma reportagem do especial Brasília 60 Anos, que vai ao ar na Rádio Nacional e parceiras. Acesse todas as reportagens publicadas até aqui nesta página. O especial continua até o dia 21 de abril, quando Brasília completa 60 anos de inauguração.