Mulheres líderes nos três poderes brasileiros – Executivo, Legislativo e Judiciário e da sociedade civil, debateram, nesta quarta-feira (29), no encontro “Mulheres em Ação”. O evento aconteceu em Brasília.
Na pauta, desafios como o combate à diversas formas de violência e o assédio contra as mulheres, as desigualdades racial e de gênero no mercado de trabalho.
O encontro foi promovido pelo Instituto de Estudos Jurídicos Aplicados. Uma das convidadas, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, falou sobre os desafios das mulheres indígenas contra o preconceito e racismo.
“Como mulheres indígenas, nos olham como incapazes, que a gente enfrenta como herança colonial e do machismo. Precisamos superar barreiras culturais, onde muitos povos até hoje não permitem que mulheres assumam lugares de poderes e de decisão. Eu sou um exemplo real”.
Já a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, tratou o feminicídio como morte de causa evitável. Ela ainda relatou que o Ministério das Mulheres acompanha a discussão sobre influenciadores digitais de masculinidade, em plataformas on line.
“Estes grupos organizados têm um discurso, um vocabulário próprio, comum e, geralmente, violento que se refere às mulheres com palavras de baixo calão, ofensivas e misóginas. Utilizam o discurso de ódio, como uma prática de pedagogia da desumanização da outra, por meio de repetição de mensagens de objetivação e inferiorização das mulheres. E buscam naturalizar e legitimar relações de desigualdade de gênero e as violências contra elas cometidas. Na machoesfera, a misoginia reina”.
Como representante do poder Legislativo, a deputada federal Maria do Rosário, do PT gaúcho disse que o desafio de transformar o mundo é imenso. A parlamentar defendeu o fim da violência de gênero na política brasileira.
“Participamos de processos eleitorais que nos tratam de forma violenta. A violência não está só dentro das instituições, está quando as candidaturas são apresentadas, na forma com que são tratadas, nas fakenews espalhadas. Então, a violência política de gênero no Brasil não pode nos definir”.
A deputada Benedita da Silva, do PT fluminense destacou a necessidade dos partidos políticos cumprirem as cotas de representatividade e de destinação de 30% dos recursos do Fundo eleitoral para candidaturas de mulheres.
“Não é possível que não cumpram, que não haja uma punição. Nós temos que estar vigilantes. Não podemos deixar porque isso é uma irregularidade”.
As mulheres trans também tiveram voz no encontro. A secretária Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, Symmy Larrat, relatou que passou pela prostituição, em Belém, no Pará, para sobreviver até passar pela transição de gênero. A secretária destacou é preciso, ainda, ter uma política nacional de proteção às pessoas LGBTQIA+, com orçamento.
“É preciso construir programas que pensem na superação nos campos da empregabilidade, educação e renda. Isso é urgente! A gente precisa pensar nessa população, sobretudo a transgênero e negra, para que esteja dentro de uma estrutura burocrática para cair o dinheiro lá e executar a política [pública]”.
A deputada federal Duda Salabert também trouxe ao debate dados sobre a violência contra a comunidade trans que coloca o Brasil na posição de país que mais mata esse público no mundo, há 14 anos. Para a parlamentar, as mulheres trans ainda são ‘coisificadas”.