A Marinha enviou carta à Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados com críticas ao pedido de entrada de João Cândido, líder da Revolta da Chibata, em 1910, no livro de Heróis e Heroínas da Pátria.
De acordo com o documento, a revolta representou “uma subversão”, sendo “deplorável página na história nacional”.
Segundo a Marinha, apesar de justa a reivindicação de fim das chibatadas, os rebelados buscavam vantagens corporativistas e ilegítimas, como aumento de salários e trabalho menos exigente.
Além disso, a carta aponta que incluir João Cândido no livro seria transmitir à sociedade e aos militares de hoje a mensagem de que é lícito recorrer às armas que lhes foram confiadas para reivindicar direitos.
O Ministério Público Federal, que defendeu em março deste ano a instalação de processo administrativo para reconhecer João Cândido como anistiado político, alega que a reparação ao almirante Cândido foi incompleta, pois ele não recebeu reparação ou pensão do Estado. Houve apenas uma pensão concedida pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.
O procurador da República Júlio Araújo contesta a negativa da Marinha.
“No nosso entendimento, acho que a Marinha comete um erro grave ao relativizar a gravidade dos castigos físicos e das chibatadas como prática de reprimenda aos marinheiros. A gente torce para que isso seja revisto e que a Marinha entenda a importância do João Cândido também para a correção de rumos, que, com a Revolta da Chibata, isso acabou, a Marinha se tornou um espaço melhor”.
A carta é concluída com o argumento de que a entrada no livro não contribui para o estabelecimento e manutenção do verdadeiro Estado Democrático de Direito.