Tragédias climáticas agravam desigualdades raciais e sociais

Enchentes no sul levantam discussão sobre racismo ambiental

Publicado em 07/05/2024 - 16:27 Por Madson Euler* - repórter da Rádio Nacional - São Luís

Mais de uma semana após o início das fortes chuvas que já afetaram mais de 1,4 milhão de pessoas no Rio Grande do Sul, o estado tem mais de 50 alertas vermelhos em vigor por causa do grande volume de água segundo o Cemaden, Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais.

Gustavo Ramos faz parte da coordenação estadual do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas do Rio Grande do Sul, movimento social que luta pela reforma urbana e pelo direito à moradia digna. Pelas redes sociais, ele relata que, em menos de um ano, esta é a terceira vez que precisou ser resgatado por causa de enchentes. 

“Na última enchente eu tive que vir também pra ocupação, resgatado pelos próprios companheiros do nosso movimento. Foi em novembro, a anterior foi em setembro. E a gente passa por isso cada vez mais. Nosso povo tá aqui sofrendo, desalentado, famílias sendo desalojadas, perdendo tudo que trabalharam. Eu perdi tudo na minha casa”.

Em meio a tragédia no Rio Grande do Sul, ao resgate de milhares de atingidos, como Gustavo, uma reflexão é em relação ao chamado Racismo Ambiental. O conceito surgiu nos Estados Unidos, nos anos 80, e vem se manifestando na sociedade de maneira cada vez mais explícita, justamente por causa das tragédias climáticas. 

O Racismo Ambiental é quando o acesso a serviços básicos como água e saneamento não chegam para todos, impactando a população de periferia, aquela que vive em favelas e comunidades urbanas, onde historicamente a maioria da população é parda ou preta segundo o IBGE. Thales Vieira, co-diretor executivo do Observatório da Branquitude, reflete sobre o conceito de racismo ambiental e sua relação com a emergência climáticas. 

“Pessoas que moram em periferia, nas áreas urbanas ou nas áreas rurais, comunidades quilombolas, comunidades indígenas, pessoas negras de maneira geral, são afetadas de forma desproporcional dos efeitos das mudanças climáticas, dos efeitos das políticas de saneamento, de aterramento sanitário e de doenças de veiculação hídrica, por exemplo. A gente tá falando de populações que moram perto de encostas, que moram perto de barrancos, populações que já têm as suas condições de vida e de ambiente, afetadas”.

Thales também destaca que se o racismo ambiental persistir, as catástrofes climáticas só irão aumentas as desigualdades sociais já existentes. 

“Nos próximos dez anos, certamente teremos um agravamento dessa crise, um agravamento da emergência climática. A partir desse agravamento, a gente tem uma escassez de recurso, como a gente está vendo no Rio Grande do Sul. Com este cenário catastrófico, as desigualdades sociais e raciais serão acentuadas. Então, é muito importante que politicas públicas focalizadas para as comunidades racializadas sejam feitas pra agora e sejam feitas já”.  

Segundo o último boletim da Defesa Civil, o Rio Grande do Sul tem 397 dos seus 497 municípios com algum relato de problema relacionado aos temporais. Mais de 48 mil pessoas estão em abrigos e outras 156 mil estão vivendo provisoriamente em casa de familiares e amigos.

* Com colaboração de Priscilla Mazenotti

Edição: Paula de Castro / Fran de Paula

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