Fotógrafo do Brasil, Evandro Teixeira terá cinzas jogadas em Canudos
O corpo do fotojornalista Evandro Teixeira, um ícone da fotografia brasileira e internacional, deixou a Câmara dos Vereadores no Rio de Janeiro, no início da tarde desta terça-feira (5), sob uma chuva de aplausos. Foi exatamente na Cinelândia que Evandro fez uma das suas imagens mais icônicas: a da Passeata dos Cem Mil, em 1968.
Baiano nascido em 1935, Evandro Teixeira saiu de Irajuba, a 307 quilômetros de Salvador, para fotografar o Brasil. E fez isso tão bem que é difícil dissociar o nome dele de qualquer evento na segunda metade do século XX, como avalia o jornalista Ancelmo Gois, que esteve presente ao velório. Para ele, Evandro foi um documentarista da história mais recente do país.
Em 70 anos de carreira, 47 deles no Jornal do Brasil, Evandro registrou fatos como o golpe militar de 1964 e as manifestações estudantis de 1968, além de eternizar imagens de Pelé e Ayrton Senna.
Quem também marcou presença no último adeus ao fotógrafo, foi o colega de profissão Ricardo Beliel, que fala sobre como Evandro Teixeira era reverenciado e se recorda da parceria que tiveram por mais de 50 anos.
“O Evandro era aquela pessoa inquieta. Sempre procurando por um furo. Nós que éramos concorrentes, de veículos concorrentes, era sempre uma preocupação ter o Evandro próximo, porque ele era sempre aquela pessoa que poderia apresentar uma outra visão para o fato, diferente daquilo que nós estávamos fazendo. Depois da cobertura nós éramos amigos fraternos de, inclusive, rirmos das situações em que nos tratamos como concorrentes”.
O legado de Evandro Teixeira deixa, acima de tudo, inspiração. A começar pela filha dele, a jornalista Karina Almeida, que seguiu os passos do pai.
“Eu e minha irmã, Adriana, crescemos indo aos plantões dos finais de semana no Jornal do Brasil. Na época da faculdade, fiz economia e comunicação, ele vivia me arrumando estágio em banco. E eu: pai, vou seguir o jornalismo, não tem jeito. Ele era um gênio, gênios são raros, mas o que a gente aprendia com ele era: disciplina, trabalho, qualidade, busca da perfeição. Ele sempre dizia que a sorte só vem pra quem tá na hora certa, no momento certo. Então, esse é o legado dele”.
As fotografias de Evandro estão espalhadas por inúmeros museus. Os cliques dele integram acervos de museus como o de Belas Artes de Zurique, na Suíça; o do Museu de Arte Moderna La Tertulha, na Colômbia; o do Masp, em São Paulo; e os do MAM e do MAR, ambos no Rio de Janeiro. Evandro recebeu muitos prêmios de fotografia, como o da Unesco e da Nikon.
Após o velório, o corpo do fotojornalista foi cremado no Cemitório do Caju e as cinzas vão ser jogadas em Canudos, na Bahia. O local foi escolhido devido ao trabalho fotográfico que ele desenvolveu com descendentes de sobreviventes da guerra de Canudos.
Evandro Teixeira morreu por falência múltipla de órgãos, em decorrência de complicações de uma pneumonia. Ele tinha 88 anos e deixa a esposa Marli, com quem esteve casado por 60 anos, duas filhas e três netas.