Nível de pobreza reduz no país, mas incluir mulheres negras é desafio
O Brasil terminou 2023 com os menores níveis de pobreza e de extrema pobreza já registrados pela Síntese de Indicadores Sociais, pesquisa feita pelo IBGE, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, desde 2012.
Apesar do recuo, os dados divulgados nesta quarta-feira (4) mostram que, no ano passado, 59 milhões de pessoas ainda viviam na pobreza, enquanto 9,5 milhões, na extrema pobreza.
Entre os dois últimos anos da pesquisa, 8,7 milhões de pessoas saíram da pobreza e 3,1 milhões de pessoas deixaram de ser extremamente pobres.
O estudo leva em conta a chamada pobreza monetária, ou seja, a família não ter rendimentos suficientes para prover o bem-estar. Para traçar as linhas limites, o IBGE utilizou o critério do Banco Mundial de US$ 2,15 por pessoa por dia. Na moeda brasileira, seriam R$ 209 por mês para a extrema pobreza e de US$ 6,85 por pessoa por dia (ou R$ 665 por mês) para a pobreza.
De acordo com o IBGE, dois fatores explicam as reduções da pobreza e extrema pobreza: o emprego e os benefícios sociais, como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC), que garante um salário mínimo para idosos e pessoas com deficiência.
Em relação ao trabalho e rendimentos, o estudo mostra que ainda há muito o que fazer, principalmente para inserir as pessoas pobres, pretas e pardas. E também reduzir as diferenças dos salários pagos entre os brancos e este grupo que, no ano passado, chegou a 7,5 vezes, a maior na comparação com 2012.
Em 2023, 3,6 milhões de mulheres pretas ou pardas estavam fora da força de trabalho, enquanto a proporção de mulheres brancas era de 1,5 milhão. Já entre os homens, 1,5 milhão de pretos ou pardos estavam desempregados, enquanto os brancos eram 792 mil.
Na avaliação da analista do IBGE, Denise Freire, que participou da elaboração da pesquisa, a recuperação do mercado de trabalho não está atingindo os jovens mais pobres, pretos e pardos, principalmente as mulheres.
"A maioria dos jovens são mulheres jovens que estão fora da força de trabalho. Elas não conseguem nem ir em busca de uma ocupação. São mulheres que tem que ficar em casa tomando conta de filhos, ou tomando conta de algum parente, porque não tem uma rede de apoio ou porque não tem creche suficiente ou porque não tem local de convivência para idosos. Então são essas mulheres, pretas e pardas, que não conseguem nem ir em busca de uma colocação".
Ainda segundo o estudo, no ano passado, cerca de 9 milhões de jovens entre 15 e 29 anos de idade já haviam abandonado a escola sem concluir a educação básica, que incluia a infantil, o fundamental e médio. O principal motivo foi a necessidade de trabalhar.
Já 40% das pessoas com 25 a 64 anos não haviam concluído o ensino médio no Brasil. O percentual foi mais do que o dobro da média dos países da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em 2022, de 19,8%.