Bolívia: para professor, derrotas nas urnas explicam reação da direita

Publicado em 27/06/2024 - 14:32 Por Gabriel Correa - repórter da Rádio Nacional - São Luís

Especialistas veem relação entre a tentativa de golpe de Estado na Bolívia, nessa quarta-feira (26), com o golpe ocorrido em 2019, quando o ex-presidente Evo Morales foi deposto, sob alegação de fraude eleitoral. Quase um ano depois, o partido Movimento ao Socialismo – MAS, retornou ao poder por meio do voto nas urnas.

Segundo Raphael Seabra, professor do departamento de Ciências Sociais da Universidade de Brasília, em 2019, houve uma participação mais ativa de forças institucionais da polícia, do judiciário e do legislativo, algo diferente da tentativa "isolada" de agora, que gerou resistência também de outros líderes internacionais. Raphael considera que nos últimos anos, as derrotas políticas da direita têm gerado insatisfação na oligarquia boliviana, com dificuldades para voltar ao poder contra os últimos governos eleitos.

“Ainda que seja um governo mais favorável ao povo indígena em geral, manutenção dessa ideia plurinacional, soberania um pouco mais acentuada. Não é um governo revolucionário. Então a gente vê o nível de agressividade dessa direita quando ela se vê afastada dos órgãos de poder, porque a economia ainda é uma economia capitalista. Então, isso explica... essa dificuldade de vencer pela via eleitoral, explica essa agressividade. E é um fenômeno que a gente vê na América Latina, como um todo”.

A Bolívia tem uma particularidade: as reservas de lítio, considerado "ouro branco", são do estado boliviano. O professor da Universidade de Brasília, argumenta que as disputas comerciais entre EUA e China colocam a reserva boliviana no radar das principais potências econômicas mundiais. Segundo Raphael Seabra, possuir essas commodities dá potencial para o desenvolvimento, mas mantém a Bolívia como extrativista.

“O estado acaba tendo a receita aumentada e consegue fazer alguns programas de distribuição de renda, que não são revolucionários, acho que a gente tem que colocar isso bem em pauta, mas, sim, dá um alívio pro país e coloca ele como detentor de commodities que têm potencial de valorização bastante significativa. Aumenta a reserva internacional, pode promover alguns programas de desenvolvimento nacional. Mas, vai continuar sendo um país fornecedor de matéria-prima no contexto mundial”.  

O professor Guillermo Johnson, do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão, considera que a disputa externa pelo lítio boliviano é central no projeto de desenvolvimento interno.

“A tentativa do governo boliviano de estabelecer alianças com empresas estatais chinesas e russas, na tentativa também de beneficiar, minimamente, a população boliviana, tentando instalar fábrica pra processar o lítio”.

Uma condição econômica e política não apenas da Bolívia, mas de outras partes da América Latina, argumenta o professor Guillermo Johnson.

“A divisão internacional do trabalho, na qual nós não fomos consultados, evidentemente, tem colocado a América Latina como fornecedora de matérias-primas, de maneira geral. Isso tem feito com que essa disputa geopolítica assuma, na América Latina, justamente esse papel de que forma cada um desses países vão se apropriar das matérias-primas que estão no nosso solo”.

Na noite dessa quarta-feira (26), o Ministro da Defesa da Bolívia, Edmundo Novillo Aguilar, declarou à imprensa que determinou uma investigação para esclarecer quem participou da tentativa de golpe fracassado em La Paz, promovida pelo ex-comandante do Exército General Juan José Zúñiga. 

Edição: Nadia Faggiani / Fran de Paula

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