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Política

Retrospectiva: Perda de mandato e prisão marcaram biografia de Cunha em 2016

Retrospectiva
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Victor Ribeiro
31/12/2016 - 18:17
Brasília

Dois mil e dezesseis foi um ano marcado pela instabilidade política. Além do afastamento de Dilma Rousseff da Presidência da República, acompanhamos a cassação do então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que depois foi preso, e a decisão judicial, não cumprida, que afastava Renan Calheiros da Presidência do Senado. Eu acompanhei mais de perto os processos contra Cunha e Renan.

 

O agora ex-deputado Eduardo Cunha, do PMDB, começou o ano respondendo àquele que seria conhecido como o mais longo processo de cassação que já ocorreu na Câmara. A gente ouvia muito falar em manobras de Cunha – o que ele sempre negou –, mas uma coisa é fato: o ex-deputado conhecia profundamente o Regimento da Câmara. E o usava a seu favor.

 

Em março do ano passado, Cunha prestou voluntariamente um depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras e disse que não tinha contas bancárias no exterior. Seis meses depois, as autoridades suíças encaminharam ao Brasil provas de que Eduardo Cunha movimentou pelo menos quatro contas nos últimos anos. Para a maioria dos deputados do Conselho de Ética, Eduardo Cunha mentiu e, por isso, quebrou o decoro parlamentar.

 

No dia 12 de setembro, um ano e meio depois do depoimento à CPI, Cunha foi cassado. Mas avisou que não deixará a vida política.

 

Sonora: “Eu vou escrever um livro do impeachment. Vou contar tudo que aconteceu no impeachment. Vou mostrar todos os diálogos, com todos os personagens que participaram desses diálogos comigo, vou divulgar na sua integralidade.”

 

Ao longo desse processo, o ex-deputado fez críticas ao presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo, do PR.

 

Sonora: “Eu não fiz intervenção no Conselho de Ética. Nós temos um presidente do Conselho de moral duvidosa, que buscou um holofote que ele jamais encontrou na vida pública.

 

E atribui sua derrocada à imprensa e ao governo.

 

Sonora: “Um ano inteiro na TV Globo de campanha como [o governo] fez. Eu culpo o governo, não que o governo tenha feito nada pra me cassar. Mas quando o governo patrocinou a candidatura do presidente que se elegeu, em acordo com o PT, o governo, de certa forma, aderiu à minha cassação.

 

Eduardo Cunha enfrentou protestos.

 

Sonora: Sobe som de “Fora, Cunha”, por manifestantes que foram à Câmara protestar

 

Mas também recebeu apoio, porque era considerado um dos principais articuladores do impeachment. Um dos integrantes da chamada “tropa de choque” de Cunha era o deputado Carlos Marun, também do PMDB.

 

Sonora: “Cada um neste momento deve fazer seu juízo. Se essas pessoas se sentem felizes com os aplausos que vão receber é uma questão de foro íntimo. Não é meu jeito. Talvez fosse o mais correto ter coragem de enfrentar esse evento da opinião pública, e eu tenho a consciência que defendi uma causa impopular.”

 

Antes de perder o mandato de deputado, Eduardo Cunha já estava afastado da Presidência da Câmara. Em maio, o Supremo Tribunal Federal tinha decidido que, enquanto estivesse no cargo, Cunha significaria uma ameaça às investigações da Operação Lava Jato.

 

No dia 19 de outubro, o juiz federal Sérgio Moro mandou prender Eduardo Cunha. O ex-parlamentar alegou que a prisão era absurda e sem motivação. A defesa entrou com pedidos de habeas corpus, que foram negados pela Justiça Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça. No dia 19 de dezembro, Cunha foi transferido da carceragem da Polícia Federal em Curitiba para o Complexo Médico Penal, um presídio que fica na região metropolitana da capital paranaense.

 

Eduardo Cunha vai contar a versão dele da história para Sérgio Moro no dia 7 de fevereiro.

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