Pesquisa de soro contra Covid-19 produzido com cavalos avança no país
O nome parece difícil: soro equino hiperimune. Mas o efeito é simples: usar uma dose - desculpe o trocadilho - cavalar de anticorpos para tratar pacientes com Covid-19.
O soro produzido por cavalos não é uma novidade. Há mais de 100 anos pesquisadores brasileiros usam essa substância quando a gente é mordido por cachorro - para evitar raiva -, contra os efeitos de picada de cobra ou no combate ao tétano.
O soro contra a Covid-19 já é pesquisado em outros países. Entre eles a Argentina, onde o estudo está bastante avançado e o uso emergencial foi liberado no dia 10 de janeiro. O Brasil está quase lá, como conta o pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do estado, Jerson Lima Silva.
De acordo com os dados da Argentina, o soro deve ser usado em pacientes agudos com quadros moderados ou severos da Covid-19. Em 45% dos casos, a substância reduziu a mortalidade; em 24%, diminuiu a necessidade de internação; e em 36% dos pacientes, não foi mais necessário usar respiração mecânica.
Os cientistas da UFRJ, da Fiocruz, do Instituto Vital Brazil e do Instituto D’Or, que se uniram no desenvolvimento desse tratamento, esperam apresentar à Anvisa um pedido de uso emergencial no começo do mês que vem.
De acordo com Jerson Lima Silva, o soro desenvolvido em cavalos se mostrou eficaz contra três variações do novo coronavírus, mas não substitui a vacina.
Os cavalos que integram a pesquisa ficam no Instituto Vital Brazil, em Niterói, Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Eles não são contaminados com o novo coronavírus, mas recebem a proteína S, que fica na espícula do vírus. São aquelas pontinhas que parecem uma coroa - daí o “corona” do nome - e que ligam a estrutura do vírus às nossas células.
Essa proteína é injetada por baixo da pele dos animais, que não sofrem nenhum dano, como detalha o diretor Industrial do Vital Brazil e líder da pesquisa na instituição, o veterinário Luiz Eduardo Ribeiro da Cunha.
Quando uma pessoa é infectada, ela também cria anticorpos, como uma reação natural à Covid-19. A diferença é que o soro dos cavalos pode ter de 20 a mais de 150 vezes a quantidade de anticorpos que um ser humano é capaz de produzir.
Luiz Eduardo conta que o soro extraído de cada cavalo é suficiente para tratar centenas de pessoas.
O soro equino hiperimune já passou por testes em laboratório, que comprovaram que o medicamento bloqueou a ação do vírus. Os estudos preliminares já foram publicados e aprovados pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. Assim que a documentação estiver pronta, os pesquisadores vão pedir à Anvisa as autorizações para testes clínicos em 41 voluntários e para uso emergencial.