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Saúde

Discurso antivacina favorece a alta mortalidade infantil no Brasil

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Tâmara Freire - Repórter da Rádio Nacional
05/05/2022 - 15:48
Rio de Janeiro

Duas em cada três mortes de bebês com até um ano ocorridas no Brasil poderiam ter sido evitadas com ações simples de atenção básica à saúde. O cálculo representa mais de 50 mil crianças que morreram entre 2018 e 2020 de causas como diarreia e pneumonia ou doenças, para as quais já existem vacinas, entre elas o rotavírus, e que estavam erradicadas no país há anos, a exemplo do sarampo.

Os dados são do Observatório de Saúde na Infância, que reúne pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz e da Univale, o Centro Universitário Arthur de Sá Earp Neto.

De acordo com um dos coordenadores da pesquisa, o doutor em epidemiologia Cristiano Boccolini, todas as quase 23 mil mortes anuais ocorridas no período avaliado são evitáveis. Tanto que países desenvolvidos com o Japão registram apenas 2 óbitos de bebês para cada 1.000 nascidos vivos por ano, enquanto a taxa no Brasil é de 11,4, e parou de cair de 2016 para cá.

O epidemiologista lista as principais medidas que podem levar à diminuição desse número e já adianta que a maior parte delas converge para a valorização do Programa de Saúde da Família.

Somente o pré-natal adequado é capaz de reduzir em 40% as mortes ao prevenir complicações na gravidez e no pós-parto. Já a amamentação exclusiva poderia baixar os números entre 15 e 20%. Mas precisa começar logo depois do nascimento.

Hoje, 62% das mães brasileiras conseguem amamentar seus bebês na primeira hora de vida, quando o ideal é 80%. O Observatório ressalta ainda que as mulheres precisam de orientação adequada para terem sucesso na amamentação. Além disso, todas deveriam ter direito à licença maternidade remunerada durante seis meses para poder manter o aleitamento exclusivo. Também é preciso desestimular a troca do leite materno pelas fórmulas infantis quando não há necessidade real.

O Observatório de Saúde na Infância verificou, ainda, as consequências trágicas da queda da cobertura vacinal nos últimos anos.

De acordo com a doutora em Saúde Coletiva Patricia Boccolini, que também coordena os estudos, somente o sarampo provocou a morte de 26 crianças com até 5 anos, entre 2019 e 2021, e a internação de mais de 1.600. E os discursos antivacina, que têm ganhado força ultimamente, colocam ainda mais lenha na fogueira.

De acordo com os dados, a cobertura da vacina tríplice viral, que protege contra o sarampo, caxumba e rubeóla, ficou em menos de 53% no Brasil no ano passado. Normalmente, a primeira dose é tomada com 12 meses, mas por causa do crescimento do número de casos, uma campanha está sendo realizada em todo o país, e todas as crianças acima de 6 meses devem ser imunizadas.

Mas até a BCG, que é a primeira vacina tomada pela criança logo após o nascimento e protege contra a tuberculose, teve cobertura de apenas 73,55% no ano passado.

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