PCC e Sindicato do Crime nascem reivindicando direitos, diz professora
Diante dos ataques promovidos por uma facção criminosa no Rio Grande do Norte e da operação da Polícia Federal que prendeu suspeitos de outra facção de São Paulo, com planos de sequestro e homicídio de autoridades e servidores públicos, entrevistamos Camila Nunes Dias, doutora em Sociologia pela USP, a Universidade Federal de São Paulo, professora da Universidade Federal do ABC Paulista e uma das autoras do livro "A Guerra: a ascensão do PCC e o mundo do Crime no Brasil".
A professora Camila pesquisa principalmente temas ligados ao sistema prisional, à criminalidade organizada e à segurança pública e vai poder nos explicar um pouco sobre a história e atuação dessas organizações no Brasil.
A íntegra da entrevista, feita por Lucas Pordeus Leon, pode ser ouvida e baixada no player do topo da página.
Rádio Nacional: Primeiro, explica para os nossos ouvintes qual a origem de organizações como PCC, de São Paulo, e Sindicato do Crime, que tem sido apontado aí como o responsável pelos ataques no Rio Grande do Norte. Existe algo em comum entre essas organizações?
Camila Nunes Dias: Sim. Costuma-se chamar de facções, mas elas tem em comum a origem dentro de estabelecimentos prisionais. Uma origem que está vinculada a reivindicação de direitos, contra a opressão existente dentro das prisões. A gente sabe que o sistema prisional brasileiro é um sistema violador de direitos, sempre foi e continua sendo. Então esses grupos surgem nesse contexto. O PCC surge em São Paulo. Já o Sindicato do Crime, no Rio Grande do Norte, surgem lá por 2013 já num contexto até de reação também contra o PCC, que estava se espalhando pelo Brasil. Então ele surge dentro desse campo de reivindicação por direitos e como reação também. O PCC surge em 1993, e o Massacre do Carandiru ocorreu em 1992. Então o surgimento do PCC é uma espécie também de busca de união dos presos contra aquilo que eles entendiam que seria uma ameaça à segurança deles. Se o governo do estado, através da Polícia Militar, promoveu ali o massacre de 111 presos, quem garante que aquilo não iria se repetir? Então é nesse contexto que o PCC foi criado.