Em entrevista, filho de Mãe Bernadete diz que crime foi encomendado
Jurandir Pacífico, filho da líder quilombola Maria Bernadete Pacífico, assassinada nesta quinta-feira dentro de casa na comunidade quilombola Pitanga de Palmares, em Simão Filho, região metropolitana de Salvador, informou que a mãe recebia ameaças há pelo menos seis anos.
Em entrevista à TV Brasil, Jurandir disse esperar respostas do governo da Bahia e do Ministério da Justiça para esclarecer o crime, o segundo do tipo a vitimar sua família.
De acordo com Jurandir Pacífico, a proteção policial que Mãe Bernadete recebia do estado por conta das ameaças se limitava ao monitoramento por câmeras de segurança instaladas na casa onde morava e visitas policias diárias que duravam em torno de meia hora. Para ele, o assassinato da mãe foi crime encomendado.
No mês passado, durante visita da presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Rosa Weber, ao Quilombo Quingoma, em Lauro de Freitas, cidade vizinha a Salvador, Mãe Bernadete relatou as ameaças sofridas.
Nesta sexta-feira, em coletiva de imprensa, a delegada do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, Andréa Ribeiro, explicou que as investigações são conduzidas com a colaboração de várias unidades da Polícia Civil.
Segundo a Polícia Civil da Bahia, as investigações não descartam uma possível correlação do assassinato da Mãe Bernadete com o de Flávio Pacífico dos Santos, filho da líder quilombola, morto em 2017.
A Secretaria de Segurança Pública informa que trabalha junto com representantes do governo federal para esclarecer o assassinato de Bernadete Pacífico. A Superintendência Regional da Polícia Federal na Bahia instaurou inquérito policial para investigar o homicídio.
Em nota, a presidente do STF, ministra Rosa Weber, lamentou a morte da líder quilombola, e fez referência ao encontro que tiveram em julho, na Bahia.
Weber destacou o relato que ouviu de Mãe Bernadete sobre a violência a que os quilombolas estão expostos e sobre a dor de ter perdido um filho morto com 14 tiros dentro da comunidade.
A presidente do STF pediu providências urgentes para o esclarecimento do acontecido e imediata proteção a familiares e outras lideranças locais.
O comunicado assinado por Weber conclui que é "absolutamente estarrecedor que os quilombolas, cujos antepassados lutaram com todas as forças e perderam as vidas para fugir da escravidão, ainda hoje vivam em situação de extrema vulnerabilidade em suas terras", e clamou pela paz e garantia dos direitos individuais dos membros dessas comunidades tradicionais.