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Jovens da Maré dizem que Teatro do Oprimido ajuda na reflexão sobre a sociedade

Akemi Nitahara - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 14/03/2015 - 18:33
Rio de Janeiro

Às vésperas do Dia Mundial do Teatro do Oprimido, comemorado no dia 16 de março, cerca de 40 jovens que participam do projeto Teatro do Oprimido na Maré visitaram na tarde de hoje (14) a exposição Augusto Boal no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no centro do Rio de Janeiro.

Desenvolvido por Boal e apresentado na forma de técnica em 1971, o Teatro do Oprimido é mundialmente difundido como uma forma de preparação de atores e democratização dos meios de produção cultural, propondo o diálogo com a sociedade, e não um monólogo apenas do artista para o público. A exposição termina na segunda-feira.

Uma das coordenadoras do projeto no Museu da Maré Claudete Felix explica que o trabalho na comunidade proporciona mais reflexão entre os moradores como um todo, não só dos jovens que participam do grupo de teatro. “São dois anos seguidos que a gente vem trabalhando, desenvolvendo as parcerias, que são fundamentais para a gente instrumentalizar os jovens a discutirem sua relação de vida, seu futuro, suas potencialidades artísticas e políticas. São uns 50 jovens e a gente vai apresentar temas diferenciados a partir da história de vida de cada pessoa.”

Ela explica que os textos são todos escritos coletivamente pelos três grupos de trabalho. Outra técnica usada é o Teatro Fórum, em que é mostrada uma cena e pede-se ao público alternativas para mudar a relação de opressão apresentada. A pessoa toma o lugar do ator e refaz a cena.

Morador da comunidade Nova Holanda, o estudante Gabriel Horsth, 18 anos, já participava do projeto Teatro em Comunidades, parceria com a Unirio, e conheceu o Teatro do Oprimido por meio de amigos. Para ele, a técnica de Boal proporciona mais reflexão sobre a sociedade.

“Eles te fazem lutar contra as opressões que você vive diante dessa sociedade. Você vai aprendendo a lidar com isso, a ter mais argumentos, a ter mais caminhos para lidar, a ser politizado e a combater essas opressões. Você muda a sua vida completamente, porque no teatro comum eles vêm com o texto pronto. No Teatro do Oprimido, nada é pronto, tudo acontece de você, da sua história, da sua vivência, você está vivendo aquilo de verdade, então você está passando uma coisa real, o que é magnífico.”

O estudante Gabriel Afonso, de 18 anos, também participava do Teatro Comunidade e há um ano foi para o Teatro do Oprimido. Para ele, como a Maré vive sob muita opressão, nunca falta material para trabalhar no grupo.

“Para a gente, morador de comunidade que sofre a opressão, é tudo muito transparente, a opressão é algo natural, é o normal da sociedade. Com o Teatro do Oprimido a gente começa a perceber e ter o senso crítico de defender o nosso lado. É não aceitar, contestar a opressão que a gente vive. Com o Teatro Fórum, e a gente apresentando dentro da comunidade, fica mais claro para o morador ele perceber a opressão e tentar, de um modo crítico, resolver. Estimula o senso crítico do morador e ele começa a perceber, com o espetáculo e depois, as situações de opressão que ele achava normal e agora não é mais natural.”

Também hoje, às 19h os jovens da Maré participam de um ensaio aberto no evento Viva Boal!, no Centro do Teatro do Oprimido, na Lapa, com peças, poesias e músicas, tudo aberto ao público. No dia 29 serão feitas as apresentações oficiais dos três grupos de trabalho no Centro de Arte da Maré. Em maio ocorre o festival com a apresentação dos espetáculos em locais como escolas e centros de saúde da comunidade.