Nova sede do Museu da Imagem e do Som será inaugurada no ano que vem
A nova sede do Museu da Imagem e do Som (MIS), na Praia de Copacabana, na zona sul do Rio, será inaugurada entre maio e junho de 2016, em área de 9,8 mil metros quadrados. O prédio também vai abrigar o acervo do Museu Carmen Miranda, que atualmente está no Flamengo, também na zona sul.
Desde 2010, o acervo vem recebendo tratamento com técnicas mais modernas de digitalização. O trabalho é coordenado pelos curadores do MIS, o jornalista Hugo Sukman e o diretor de arte e documentarista André Weller. O acervo tem 304.845 mil documentos entre discos, partituras, fotos, cartas, textos e vídeos. Há também 18 mil discos da Rádio Nacional, com músicas, novelas e scripts de programas que marcaram época.
Também fazem parte do acervo as coleções do radialista Almirante, dos músicos Abel Ferreira e Jacob do Bandolim, dos pesquisadores de música Sérgio Cabral e Hermínio Bello de Carvalho, além de obras de intérpretes da música popular brasileira, como as irmãs Linda e Dircinha Batista, Nara Leão, Elizeth Cardoso e Zezé Gonzaga.
“É importante que o povo brasileiro, estudantes, pessoas comuns tenham acesso a esses heróis. Eles são nossos heróis”, disse o curador Hugo Sukman, em entrevista à Agência Brasil.
Para a ampliação do acervo, o MIS começou a produzir material próprio a partir de janeiro de 1966. Até hoje já foram realizadas mais de mil entrevistas com personalidades de várias representações artísticas. Os depoimentos não têm hora marcada para acabar e podem ser assistidos pelo público. No prédio atual, há apenas 50 lugares na plateia, mas na nova sede o auditório terá 300 cadeiras.
“A impressão que dá é que todo mundo relevante na história da cultura brasileira passou pelo MIS e deixou o seu depoimento de viva voz, contou a sua história", disse o curador.
Hugo Sukman contou que, no depoimento de Vinícius de Moraes, feito em 1967, o compositor falou sobre como a Bossa Nova estava influenciando a música norte-americana, ao contrário do que diziam os críticos, que alegavam que era a música dos Estados Unidos que estava influenciando a brasileira. “Isso é um assunto típico de 1967, quando Tom Jobim estava gravando o disco dele com Frank Sinatra. É naquele momento que o depoimento consegue captar o pensamento de Vinícius de Moraes, com todo o calor que isso tem”, afirmou Sukman.
Com o mais novo artista a prestar depoimento não foi diferente. Durante a conversa com o cantor e compositor Djavan, na quarta-feira (23), o momento do país também ficou registrado. Ele comentou que o Brasil está atravessando uma fase riquíssima para sedimentar uma democracia, que era impensada há dez anos. “Como se poderia pensar há dez anos que pessoas luminosas, do ponto de vista empresarial e político, pudessem estar vivenciando o seu inferno astral? A gente está cuidando do Brasil como nunca se fez”, destacou. “O meu sentimento não é de decepção. É de esperança porque estamos vivenciando uma coisa rara no país”, disse.
Djavan disse ainda, em seu depoimento, que, se pudesse, proporia à classe política mais dedicação, nos próximos dez anos, somente ao Brasil, sem pensar em interesses particulares. “Sem pensar nos seus blocos políticos, nos seus cofrinhos. Depois podem fazer o que quiser, mas se fizermos isso, o Brasil vai ser um dos mais bem-sucedidos países do mundo, porque a gente tem um continente de terras agricultáveis, um acervo mineral riquíssimo e, principalmente, um povo maravilhoso. A gente tem tudo na mão”, disse Djavan.
O cantor e compositor Lenine, que participou do depoimento de Djavan, lembrou que o projeto do MIS permite aos convidados desempenhar o papel de cronistas de um tempo. “Não existe no mundo um país que foi tão fundo nessa equação entre palavras e sons. Então, é fundamental a gente documentar isso”.
O escritor e pesquisador da MPB Ricardo Cravo Albin destacou que o projeto do museu é original porque adotou o formato de conversas, em que as pessoas falam espontaneamente sobre sua vida. “A pessoa conta tudo aquilo que lhe apraz contar. Não o que é obrigada a contar”, observou.
Cravo Albin acrescentou que os depoimentos sempre foram acompanhados de muita emoção. E lembrou um deles: “O atleta Ademar Ferreira da Silva, no meio de uma pergunta emotiva, olhou para um lugar vago. Ficou como uma estátua e só caíram duas lágrimas. Permaneceu assim por um minuto e meio. Uma eternidade para um atleta”.
A presidenta do MIS, Rosa Maria Araújo, informou que a digitalização dos depoimentos estará à disposição do público e de pesquisadores. “Eles atravessaram 50 anos da cultura do país e estarão todos no novo museu, onde haverá um centro de pesquisa. É uma grande contribuição à memória da cultura”.
Na avaliação de Rosa Maria Araújo, a cultura é também um fator de desenvolvimento econômico. “É um fator de geração de riqueza, portanto, de desenvolvimento”.