Exposição lembra os 100 anos da publicação de A Metamorfose, de Kafka
Poderia ter sido apenas uma noite maldormida, comum a qualquer pessoa, mas os sonhos intranquilos de Gregor Samsa marcaram a história da literatura mundial. Ao despertar, o caixeiro-viajante “encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso. Estava deitado sobre suas costas duras como couraça e, ao levantar um pouco a cabeça, viu seu ventre abaulado, marrom, dividido por nervuras arqueadas”.
Sem mais detalhes sobre a causa da transformação, foi assim que Franz Kafka decidiu iniciar A Metamorfose, um de seus livros mais famosos, publicado pela primeira vez há 100 anos. Esse aniversário é lembrado em exposição na Casa das Rosas, aberta no sábado (7), na Avenida Paulista (região central da capital).
As situações insólitas e opressoras, como provenientes de pesadelos intermináveis, são a marca do escritor tcheco. “Quando a gente usa o adjetivo kafkaniano geralmente a gente se inspira ou faz referência a Metamorfose ou ao Processo. Essas duas obras, junto com o Castelo, que ele deixou inacabado, são consideradas grandes obras do Kafka”, explica o curador da mostra, Reinaldo Damásio, que lembra ainda a importância dos contos e narrativas curtas na obra kafkaniana.
Uma imersão nesse universo criado pelo escritor é a proposta da exposição. “Cada sala é uma espécie de instalação. A gente usa imagens, texto, ambientação, que parece um labirinto em alguns momentos. Em outros, a ideia do próprio quarto onde ocorre a metamorfose. A gente usa fotos, livros, bastante material bibliográfico e locução - tem vozes que leem trechos da Metamorfose em alemão”, detalha Damásio.
Para os que já conhecem o trabalho do tcheco, a proposta é, segundo o curador, dar novos elementos para repensar A Metamorfose. Para os que ainda não tiveram a oportunidade de ler, a mostra pretende incentivar uma aproximação com essas narrativas. “A pessoa que conhece a obra do Kafka vai encontrar alguns elementos críticos que vão instigá-la em uma nova possibilidade de leitura. Quem não conhece o Kafka vai ter um mergulho meio radical, que vai ser uma experiência bastante lúdica aqui no espaço, e vai ficar instigado a conhecer mais”, diz Damásio.
Além de materiais relacionados especificamente aos contos e novelas, são apresentadas referências a vida do autor, como anotações e até cartas escritas para as noivas. A frustração com o trabalho burocrático e o relacionamento conturbado com a família, especialmente o pai, aparecem de diversas maneiras nas obras do escritor. “Não diretamente, nunca há uma transposição direta da vida para obras. É sempre uma transfiguração”, diz o curador.