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Alta tecnologia preserva cultura dos kuikuros, no Alto Xingu

Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 23/05/2017 - 20:40
Rio de Janeiro

Os resultados de uma experiência inédita feita entre os dias 8 e 18 deste mês na aldeia dos kuikuros, no Alto Xingu, pela organização não governamental (ONG) People's Palace Projects do Reino Unido e pela fundação Factum Foundation, sediada em Madri, foram apresentados hoje (23), no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, durante o seminário Xingu: arte, tecnologia e preservação. A fundação espanhola é líder em tecnologia digital de preservação do patrimônio cultural.

Na avaliação do diretor dada Factum Foundation, Adam Lowe, os resultados da residência artística internacional registrada este mês na aldeia Ipatse, no Território Indígena do Xingu, em parceria com a Associação Indígena Kuikuro do Alto Xingu, foram imediatos. “Eles gostaram de fazer essa troca conosco”, disse Lowe, que respondeu ao desafio proposto pelos artistas indígenas de levar alta tecnologia para preservar a cultura dos kuikuros.

A Factum Foundation levou para o Alto Xingu a mesma tecnologia que utiliza no mundo inteiro. “Os mesmos artistas que preservaram [digitalmente] o túmulo de Tutankamon [faraó do Antigo Egito que morreu na adolescência; era filho de Aquenáton], no Vale dos Reis, no Egito; os mesmos que cuidaram [da preservação digital] de quadros de Caravaggio [pintor italiano, atuou em Roma, Nápoles, Malta e Sicília, entre 1593 e 1610]; os mesmos que fizeram uma cópia exata da Última Ceia, de Michaelangelo [pintor, escultor, poeta e arquiteto italiano, considerado um dos maiores criadores da história da arte do Ocidente], eles têm alta tecnologia que emprestaram para os kuikuros para preservar a cultura deles e para replicar, difundir a cultura deles”, disse o diretor.

Segundo Paul Heritage, diretor da People’s Palace Projects, o que os indígenas querem é respeito à sua cultura, às suas tradições; divulgação da cultura sem que isso acarrete destruição no intercâmbio com outras culturas. Drones e impressão em 3D foram algumas tecnologias usadas na experiência pela Factum Foundation. Heritage disse que da mesma forma que vídeos foram utilizados há 20 ou 30 anos nas aldeias como forma de “trocar a cultura entre si e com o mundo dos brancos”, o intercâmbio centrou suas atividades em novas tecnologias.

Continuidade

A ideia é continuar com essa experiência. A People's Palace Projects pretende retornar, em setembro deste ano, à aldeia dos kuikuros, que estão construindo uma oca que vai “virar um centro cultural”. Segundo Heritage, ali eles poderão mostrar a cultura, danças, rituais, máscaras e seu modo de viver. A ONG pretende replicar também a cultura indígena em outros locais do Rio de Janeiro e em Londres. “Acho que é o momento mais que certo que a gente tem que aprender com o povo indígena o jeito como eles tratam o planeta, como vivem juntos, a coletividade, que a gente perdeu em nossa sociedade atual de juntar com a luta deles por direitos políticos, pela sobrevivência”.

O diretor da ONG sustentou que a preservação da cultura é a preservação do povo, da língua, do ponto de vista de uma coletividade. “É um ato de olhar”. Isso foi fundamental na civilização europeia ao classificar os objetos e preservar sua cultura, disse. “A gente precisa dessa preservação. Faz parte da biodiversidade humana”.

O projeto-piloto resultará em outros experimentos. Gradualmente, serão construídos elementos que podem resultar em uma exposição do próprio povo Kuikuro. Paul Heritage deixou claro que não se trata de uma mostra da ONG, mas dos indígenas. “A gente está lá para ajudar eles a criar essa nova aldeia por meio dessas tecnologias”.

Esta foi a primeira vez que a Factum Foundation, reconhecida internacionalmente por seus trabalhos com alguns dos maiores artistas e museus do mundo, efetua um projeto no Brasil, a convite da ONG People’s Palace Projects.

 

Matéria alterada às 18h54 do dia 25 de maio para alteração de informações