Avós da Praça de Maio reconhecem a neta número 110
A Avós da Praça de Maio anunciou hoje a descoberta da neta número 110. A organização, que há mais de 36 anos busca os filhos dos desaparecidos durante a ditadura argentina, calcula que 500 crianças desapareceram entre 1976 e 1983. Elas nasceram em centros de tortura clandestinos ou foram sequestradas junto com seus pais. A maioria teve a identidade alterada e foi adotada ilegalmente, muitas vezes por pessoas envolvidas direta ou indiretamente na morte de seus pais. Hoje são adultos de mais de trinta anos.
A organização criou um banco de sangue, com amostras dos parentes dos desaparecidos, para continuar a busca. No começo, muitos netos foram encontrados graças a ligações anônimas de vizinhos que desconfiavam da origem dos filhos de determinadas famílias. Com o passar do tempo, os netos passaram a buscar a organização, porque tinham dúvidas sobre a própria identidade.
Foi o caso da neta número 110, cujo nome não foi revelado. Ela buscou a Avós da Praça de Maio em outubro do ano passado, porque começou a duvidar da história contada por seus pais adotivos: que tinha sido encontrada por policiais, abandonada numa estrada. O pai adotivo também era da polícia.
Hoje as avós revelaram a verdadeira história. A neta número 110 é filha de dois integrantes do grupo guerrilheiro Montoneros: Liliana Acuna, estudante de economia, e Oscar Romulo Gutierrez, sociólogo. O casal foi sequestrado em agosto de 1976, e desapareceu nos porões da ditadura. Na época, Liliana estava grávida de cinco meses.
“Uma vez mais, apesar do tempo que passou e dos rastros que tentam apagar, a verdade triunfa sobre a mentira”, disse o comunicado da Avós da Praça de Maio. A organização lamentou o fato de as avós da neta número 110 terem morrido antes de conhecê-la.
Na Argentina, o sequestro de bebês e o desaparecimento de militantes durante a ditadura são considerados crimes contra a humanidade que não prescrevem. É mantida por tempo indeterminado a possibilidade de o Estado punir o autor. Alguns filhos de desaparecidos temem buscar a verdadeira identidade, porque não querem ser responsabilizados pela prisão de pais adotivos.