Guaranis lançam campanha reivindicando demarcação de terras na capital paulista
Um grupo de índios guaranis lançou hoje (17) uma campanha para a demarcação das terras que ocupam tradicionalmente na cidade de São Paulo. O ato ocorreu em frente no Pátio do Colégio, marco de fundação da capital. Os índios ocuparam o local, onde funcionou o colégio mantido pelos padres jesuítas, na tarde de ontem (16) e só saíram na tarde de hoje para começar as atividades de divulgação da campanha. Além de debaterem a questão com representantes de movimentos sociais, os índios cantaram, dançaram e fumaram cachimbos cerimoniais.
“Nós estamos reivindicando a demarcação e reconhecimento do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a última instância que falta para demarcação do nosso território que já foi reconhecido pela Funai [Fundação Nacional do Índio] como área de ocupação tradicional guarani”, disse David Karaí Popyguá, um dos líderes da comunidade que fica no Jaraguá. A Terra Indígena Tekoa Pyau tem atualmente 1,7 hectare (1 hectare é uma área equivalente à de um campo de futebol) e 800 habitantes. No entanto, segundo os guaranis, a Funai já reconheceu um território de 532 hectares para a comunidade.
A maior parte da área é, de acordo com Popyguá, destinada à preservação ambiental. No entanto, já exite pressão para que o uso das terras seja modificado. “Uma parte dessa terra, pela especulação imobiliária, querem transformar em área de desenvolvimento urbano. Nós estamos na luta para que toda essa área seja uma macrozona, que seria uma área de preservação ambiental”, explicou.
Em Parelheiros, extremo sul da cidade, onde vivem cerca de 1,3 mil guaranis, a Funai reconheceu a Terra Indígena Tenondé Porã, com 15,6 mil hectares. “É vital para a gente realmente preservar a cultura ter um espaço apropriado para ensinar as nossas crianças sobre o plantio, colheita, sobre toda a nossa tradição”, disse Karai Popyguá sobre a importância da demarcação.
Os índios marcaram para a próxima quinta-feira (24) uma passeata na Avenida Paulista para cobrar as duas demarcações. Foi lançada ainda uma petição reivindicando as demarcações, que já tem 2 mil assinaturas. Eles prometem enviar uma caneta para o ministro Cardozo por cada apoio recebido. “Nós pensamos que talvez ele não assinasse as demarcações por falta de caneta, de uma caneta bonita. Então nós vamos dar essa motivação a ele”, disse, brincando, a professora Jera Guarani.