Cerimônia no Rio faz homenagem às vítimas do Holocausto
Aleksander Laks é um dos sobreviventes de campo de extermínio que vivem no Brasil. Ele foi preso pelos nazistas quando tinha 11 anos. Depois de passar seis meses em Auschwitz, na Polônia, e ser vendido para uma empreiteira construtora de fortificações para o Exército alemão, foi levado para a marcha de morte, trem que transportava judeus que seriam afogados para não cair na mão de aliados. A marcha, segundo ele, resultou na morte de 2 milhões de judeus. A libertação ocorreu após o bombardeio ao trem. “Foi o exército francês que nos libertou”, lembra.
O sofrimento, porém, não acabou logo e Aleksander se tornou garoto de rua na Alemanha. Ainda precisou se abrigar em um campo de refugiados perto de Frankfurt e acabou indo para os Estados Unidos, de onde veio para o Brasil, em 1948, após escrever uma carta para uma tia que morava no Rio de Janeiro, cidade onde o pai dele, morto em um campo de concentração, dizia ser o ponto de encontro da família, após a guerra, caso fossem separados pelo exército alemão.
“Mandaram-me passagem. Vim ao Brasil como turista e não voltei mais. Não me arrependo de não ter voltado. Sou um dos poucos que conseguiram refazer sua vida. Hoje estou com 87 anos”, disse antes de participar da cerimônia organizada pelo Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio), em parceira com a Confederação Israelita do Brasil (Conib) e a Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro (Fierj), para marcar o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, lembrado nessa terça (27). “Luto por um Brasil justo e fraterno e por um mundo sem preconceito. Holocausto nunca mais”, disse em seu discurso na cerimônia.
Aleksander Laks, que é presidente da Associação Brasileira dos Israelitas Sobreviventes da Perseguição Nazista, disse que todo ano vai à Alemanha, onde é muito bem tratado atualmente, mas, apesar disso, não consegue afastar o passado. “Sinto-me muito bem e sou muito respeitado lá, mas as lembranças não deixam não”, disse, ao acrescentar que chegou a passar quatro anos sem poder tomar banho e sem se alimentar. Hoje ainda tem pesadelos. “Não sai, não sai [da memória]”, completou.
O cônsul-geral da Alemanha no Rio de Janeiro, Harald Klein, disse que o seu país mantém os campos de concentração e outros monumentos que lembram o Holocausto como forma de alerta para que as barbáries cometidas não sejam repetidas. “Que seja como exemplo para manter os valores da democracia, do Estado de Direito, do respeito, da tolerância, para evitar que coisas como essas passem de novo em qualquer parte do mundo. Seja contra judeus cristãos, minorias étnicas”, declarou em entrevista à Agência Brasil, lembrando que os monumentos são locais de grande visitação.
A judia holandesa Nanette Blitz Konig, de 85 anos é uma sobrevivente do Campo de Bergen-Belsen, foi amiga de Anne Frank e a encontrou em um campo de concentração. “Ela me contou sobre o esconderijo onde tinha continuado a escrever o diário, que eu tinha visto primeiro no aniversário dela, em 1942 e que ela queria usar o diário para escrever um livro quando acabasse a guerra. Infelizmente ela não sobreviveu, não tinha condição. O tifo estava rompante e ela estava muito debilitada. Não sei como sobrevivi. Acho que foi por acaso.”
Na avaliação do presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), Fernando Lottenberg, o holocausto é algo que o mundo tem de se lembrar sempre. “A gente não faz isso por uma obsessão com o passado, mas é aprendendo com o que aconteceu lá, interpretar os sinais que a realidade nos manda e agir com relação aos riscos que o mundo nos apresenta. Estamos tentando evitar que fenômenos como esse voltem a acontecer não só com os judeus, mas também com outras minorias e outros povos que se vejam perseguidos apenas pelo que eles são e não pelo que eles fazem.”
Para o diretor do Centro de Informação das Nações Unidas, Giancarlo Summa, deve ser combatido qualquer tipo de intolerância religiosa, étnica, racial, filosófica e política – raiz do Holocausto. “Isso é inadmissível. É criminoso e uma página sombria da história humana, mas é também algo que pode voltar a acontecer, não provavelmente naqueles termos, mas a ideia da intolerância sim, porque a intolerância é ainda presente, o racismo, a intolerância religiosa, as perseguições raciais. Estamos testemunhando no mundo sob os nossos olhos. Precisamos preservar a memória da barbárie para que não se repita.”
Na cerimônia, no Palácio do Itamaraty, no centro do Rio, seis sobreviventes acompanhados de representantes da sociedade brasileira, incluindo religiosos e de movimentos como LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), acenderam seis velas, representando, cada uma, 1 milhão de vítimas do Holocausto.