Peritos que tentam identificar ossadas de Perus receberão apoio psicológico

Publicado em 27/03/2015 - 15:28 Por Daniel Mello - Repórter da Agência Brasil - São Paulo

Os peritos que trabalham na identificação dos restos mortais encontrados em uma vala clandestina no Cemitério Dom Bosco, em Perus, receberão apoio psicológico. Na vala, aberta em 1990, foram encontradas mais de mil ossadas, entre as quais acredita-se que estejam as de vítimas da ditadura militar e de grupos de extermínio que atuaram entre 1960 e 1970.

Os técnicos terão apoio do Programa Clínicas do Testemunho, da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, que atende a vítimas e parentes dos atingidos pela repressão militar. Um protocolo assinado hoje (27) estende o serviço aos especialistas que trabalham com os restos mortais encontrados em Perus. Participaram da assinatura do protocolo a ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, Ideli Salvatti, e o secretário adjunto de Direitos Humanos da prefeitura de São Paulo, Rogério Sottili.

Para o presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão, cuidar da saúde mental dos envolvidos no processo de identificação deve colaborar com os resultados do trabalho. “Esses profissionais carregam uma carga histórica pesada sobre os ombros, e nós percebemos que poderíamos contribuir para a saúde mental [deles] nesse processo, disse Abrão durante a cerimônia. Para ele, isso ajudará os peritos a “atingir seu êxito, que é dar uma resposta a todas as pessoas que aguardam a localização desses restos mortais”.

Atualmente, existem quatro clínicas do testemunho: duas em São Paulo, uma no Rio de Janeiro e outra no Rio Grande do Sul. Uma delas, a Clínica do Testemunho Instituto Ser e Sapientiae começou a terapia com os peritos. Segundo a coordenadora do grupo, Maria Cristina Ocariz, os profissionais estão expostos a diversos tipos de tensão, que vêm tanto do contato com os familiares quanto da leitura dos falsos relatos produzidos pelos agentes da repressão.

“A maior angústia é o contato com os familiares. Eles são antropólogos, historiadores, arqueólogos e fotógrafos; não têm formação psicanalítica. Ouvem histórias que não sabem como manejar”, diz Cristina sobre as impressões que teve nas reuniões semanais com os especialistas. Os encontros duram cerca de duas horas.

O processo de investigação sobre as ossadas de Perus tem um histórico de mais de 20 anos. Algumas ossadas foram analisadas na década de 90 pelo Departamento de Medicina Legal da Universidade Estadual de Campinas. Em 1992, foram identificados os restos mortais de dois presos políticos.

Desde então, o processo de identificação ficou parado, sendo retomado no ano passado. O prazo para identificação dos restos mortais vai até o fim do ano que vem. Os exames genéticos estão previstos para o segundo semestre deste ano em laboratórios internacionais – capazes de fazer identificações em grande volume.

Paulo Abrão destaca que, mesmo que não seja possível determinar a identidade dos enterrados na vala clandestina, o próprio processo de busca é um avanço. “A simples disposição de fazer a abertura da vala e, pela primeira vez, promover um trabalho cientificamente rigoroso, na tentativa de identificação das ossadas, é uma resposta diferenciada em relação ao tratamento histórico que o Estado deu ao tema.” 

Edição: Beto Coura

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