Moradores de rua aprovam albergue temporário em São Paulo

Publicado em 22/06/2016 - 23:52 Por Bruno Bocchini - Repórter da Agência Brasil - São Paulo

Albergue temporário em São Paulo

Albergue temporário em São PauloDivulgação

No segundo dia de funcionamento do abrigo temporário da Galeria Prestes Maia, no Vale do Anhangabaú, na capital paulista, moradores de rua que se alojaram no local elogiaram o tratamento oferecido pelos agentes da prefeitura, a limpeza do espaço e a localização. O local está situado bem no centro da cidade. No entanto, eles reclamaram da maneira como têm sido abordados pela Guarda Civil Metropolitana nas ruas e da dificuldade de serem acolhidos em albergues na região central.

“De primeiro dia que estou vendo, qualidade do atendimento, higiene, tudo que estou vendo aqui é bom. É provisório, mas ajuda. Já frequentei outros albergues, mas pela falta de higiene, eu optei ficar na rua. Na rua vejo mais higiene do que dentro do albergue. É muita gente e é difícil ver algum lugar limpo”, disse Djalma Vieira de Andrade, de 46 anos, há 30 morando na rua.

Djalma elogiou o jantar recebido no Prestes Maia na noite de hoje (22): almondegas, arroz, feijão, farofa e uma garrafa de água. Ele torce para que o albergue provisório no Vale do Anhangabaú se torne definitivo, principalmente pela localização. “Esse alojamento aqui é mais centralizado. Às vezes a gente tem de ir lá em São Miguel Paulista [na zona Leste] para pegar um pernoite, tem que ir lá em Ermelino Matarazzo [na zona Leste]. É muito longe para a pessoa pernoitar, porque como que ela vai voltar?”, disse. “Várias vezes a pessoa tem que se humilhar dentro do ônibus para poder pegar condução de volta para o centro. Aqui seria ótimo se ficasse definitivo”.

Guarda Civil Metropolitana

Djalma disse que tem enfrentado problemas com a Guarda Civil Metropolitana. Segundo ele, quando estava morando na Praça 14 Bis, na região da Bela Vista, foi abordado “com ignorância” pelos agentes, e levaram seus pertences.

“Quando eles vem, vem de surpresa. Chega invadindo, pegando tudo. Às vezes até brigando com a gente, batendo boca com a gente. E a gente briga com eles também, porque na verdade ninguém quer ser ofendido. A gente não é cachorro para ser tratado desse jeito”, disse.

Baixas temperaturas

As temperaturas baixas que têm sido registradas na cidade de São Paulo tem feito com que moradores de rua aceitem serem acolhidos pelos albergues. Parte deles preferem ficar na rua para proteger objetos pessoais, como as carrocinhas, ou animais de estimação que, geralmente, não são aceitos nos albergues.

O morador de rua que só se identificou como Manoel, de 55 anos, disse que havia dormido na primeira noite do funcionamento do Prestes Maia, e que gostou do acolhimento. Ele disse que prefere ficar na Praça da Sé, mas, com o frio intenso, decidiu ir para o albergue.

“Eu vim ontem e dormi de ontem para hoje. Eu gostei muito e é por isso que eu voltei. O pessoal me recebeu muito bem. Eu estava na rua, eu estava na Sé quando a perua daqui chegou para pegar a gente. Foi uma benção. Já peguei frio de zero grau. O senhor não sabe como que a gente estava passando o relento. O frio chegava a doer e a gente desprevenido”.

Poucas regras

O serviço de acolhimento para pessoas em situação de rua na Galeria Prestes Maia, no Vale do Anhangabaú, tem 500 vagas. No primeiro dia, 232 delas foram utilizadas. O equipamento oferece o pernoite para homens, o jantar e o café da manhã. O local não disponibiliza banhos, mas caso o morador de rua tenha interesse, ele pode ser encaminhado para outro serviço municipal nas proximidades. Para entrar, o usuário precisa apenas se identificar com o primeiro nome. Não é obrigatória a apresentação de documentos.

“O espaço para as carrocinhas e para os cães está sendo providenciado, está sendo montado no térreo da galeria e vai ficar sob a coordenação e vigilância da Guarda Civil. Os cachorros vão ficar numa sala com canis, aos cuidados também da Guarda Civil”, disse coordenadora de Proteção Especial da prefeitura, Isabel Bueno.

De acordo com Isabel, os moradores que procuraram o acolhimento no equipamento, em sua maioria, estavam dormindo na rua, apesar da existência de outros albergues. “A grande maioria estava na rua. Não posso afirmar de pronto se já passaram por outros serviços da rede. A única exigência é o primeiro nome. É um espaço para garantir o acesso daqueles que estavam com mais dificuldades de entrar nos espaços mais regulares, por conta das regras, do funcionamento, então a exigência é baixíssima aqui”.

Rede ampliada

Segundo a prefeitura, a Galeria Prestes Maia é o 15º abrigo emergencial aberto na cidade para o período do inverno. Desde 16 de maio, além de 10 mil vagas fixas em 80 centros de acolhida, o município ampliou a rede em 2.067 leitos. Foram criados alojamentos emergenciais na Casa Verde, Capela do Socorro Itaim Paulista, Itaquera, Lapa, Mooca, Brás, Pirituba, Santo Amaro, Sé e agora no Vale do Anhangabaú.

Em nota divulgada na semana passada, o comandante da Guarda Civil Metropolitana, Gilson de Menezes, disse que a corporação tem como um de seus principais deveres zelar pelos direitos das pessoas em situação de rua da cidade de São Paulo. De acordo com ele, os guardas recebem formação em direitos humanos e prestam apoio de segurança aos servidores das 32 subprefeituras “no trabalho de reorganização urbana, que tem como objetivo retirar materiais inservíveis em calçadas e ruas da capital paulista e impedem o fluxo de pedestres e veículos”.

“Nesse momento, não estamos retirando nem os cobertores que servem para cobrir essas moradias precárias. A pessoa em situação de rua sempre fica com seu cobertor e lençol e o guarda não pode permitir que esses itens sejam levados. Se a pessoa em situação quiser dobrar e levar, perfeito, se ele não levar, esse tipo de objeto continuará lá”, disse.

 

Edição: Fábio Massalli

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