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Direitos Humanos

A história de Pureza: da luta contra o trabalho escravo ao cinema

Trabalhadora rural é considerada ícone do combate à exploração
Kariane Costa - Repórter do Radiojornalismo
Publicado em 29/01/2021 - 11:07
Brasília
Trabalho escravo
© Ministério Público do Trabalho - Divulgação

Pureza Lopes Loyola é uma trabalhadora rural que, depois de ficar sem notícias do filho, em 1993, vendeu tudo o que tinha no Maranhão e saiu em uma jornada de três anos à procura dele. No trajeto se deparou com trabalhadores vítimas de maus-tratos e em situação semelhante à escravidão.

O reencontro de mãe e filho aconteceu três anos depois no Pará, quando ele conseguiu fugir de uma fazenda da região.

A saga dessa maranhense foi parar no cinema. O diretor Renato Barbieri diz que o filme levou 12 anos para ficar pronto. Ele, que trabalha há décadas com temas ligados à escravidão, conheceu os detalhes dessa busca por meio de um amigo fotógrafo, e se inspirou na coragem de dona Pureza para contar a história.

Ouça na Radioagência Nacional:


Do interior do Maranhão a Londres

Dona Pureza recebeu um Prêmio Internacional contra a Escravidão da AntiSlavery International Award, a organização não governamental (ONG) mais antiga e respeitada do mundo nessa temática.

A trajetória dessa mulher a transformou em um ícone na luta contra a exploração e os maus-tratos a trabalhadores. Aqui no Brasil, ela teve um papel importante para que o país passasse a reconhecer, em 1995, a existência do trabalho escravo moderno. Foi quando começaram os resgates, explica o diretor Renato Barbieri.

Isso pode explicar também por que muitos trabalhadores brasileiros têm dificuldade em reconhecer o trabalho escravo moderno. Na avaliação de Renato, nascemos dentro de uma mentalidade escravagista, que acompanha o brasileiro há séculos e acaba normatizando a escravidão.

O chamado trabalho escravo contemporâneo é caracterizado em quatro situações: condições degradantes de trabalho, jornada exaustiva, trabalho forçado e a servidão por dívida, diz o procurador Italvar Medina, vice-coordenador nacional de Erradicação do Trabalho Escravo e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.

Segundo Medina, quando os trabalhadores são resgatados, o vínculo trabalhista é encerrado com direito a todas as verbas rescisórias. Se não houver acordo com o empregador, o caso vai para a Justiça, a fim de que a vítima receba o que tem direito.

O empregador que explora o trabalho escravo fica sujeito a multa e responde a ação civil por danos morais e ação criminal no Ministério Público Federal, além de entrar para a lista suja do trabalho escravo.

Denúncia contra trabalho semelhante à escravidão pode ser feita por meio do Disque 100, pelo site mpt.mp.br  ou ainda presencialmente nas procuradorias do Ministério Público ou nas superintendências.

A matéria de D. Pureza é parte de uma série de três matérias da Rádio Nacional em alusão ao Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo, celebrado em 28 de janeiro. Ouça aqui as outras matérias da série: 

Trabalho Escravo: 1,8 mil mulheres foram resgatadas em 15 anos


"Não nos calemos'', diz boliviana resgatada em situação degradante