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Direitos Humanos

Segurança alimentar é debatida em evento internacional no Rio

Encontro reúne mais de 500 delegados e representantes de 162 cidades
Akemi Nitahara – Repórter da Agência Brasil
Publicado em 17/10/2022 - 16:34
 - Atualizado em 17/10/2022 - 20:36
Rio de Janeiro
O diretor do Instituto Fome Zero, José Graziano da Silva, discursa na abertura do 8º Fórum Global do Pacto de Política Alimentar Urbana de Milão(MUFPP), na Cidade das Artes, Barra da Tijuca, zona oeste da cidade.
© Tânia Rêgo/Agência Brasil

Promover a alimentação saudável, com sistemas alimentares sustentáveis, para alcançar a justiça climática e reduzir a desigualdade social são os objetivos das discussões que começaram hoje (17), no 8º Fórum Global do Pacto de Política Alimentar Urbana de Milão.

O evento reúne mais de 500 delegados, prefeitos e representantes de 162 cidades do mundo, como Paris, Copenhagen, Chicago e Washington, até quarta-feira (19), na Cidade das Artes, zona oeste do Rio de Janeiro.

Entre os temas tratados estão o desperdício de alimentos, resiliência e justiça climática nas cidades, alimentação escolar fomentando a diversidade local e sustentável, alfabetização alimentar como forma de resgate histórico e cultural, políticas alimentares pós-pandemia e agricultura urbana, com troca de experiências.

Na mesa de abertura, a vice-prefeita de Milão, Anna Scavuzzo, destacou que o desafio de evitar desastres climáticos revendo os processos alimentares deve ser enfrentado em conjunto, por toda a humanidade, para promover inclusão social.

“As cidades podem, ou devem, procurar a justiça climática. É isso que nós queremos e o que devemos buscar juntos. Nosso compromisso é aprender uns com os outros. Cada cidade que trabalha por esse objetivo pode providenciar meios para superarmos nosso desafio. Estamos vivendo crises sem precedentes e o Pacto de Milão é uma forma de apoiar os esforços”.

O pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz Valber Frutuoso ressaltou a importância de restaurar os sistemas alimentares sustentáveis, como ferramenta para evitar uma catástrofe climática.

“Entender os sistemas alimentares sustentáveis deve ser feito através da promoção, em conjunto, de políticas para o meio ambiente, políticas de saúde, políticas de transporte, deslocamento e mobilidade, e também de energia. Dada a diversidade de cada território, esses esforços exigirão que as instituições sejam fortes tanto no nível local, nacional e global, de modo que as cidades e os seus cidadãos possam promover mudanças sistêmicas no sistema alimentar urbano”.

FAO

Para o ex-diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), José Graziano da Silva, o Brasil passa por uma situação contraditória, já que o país é campeão em exportação de alimentos ao mesmo tempo que tem 33 milhões de pessoas que passam fome.

“O caso brasileiro é um exemplo acabado de que as tecnologias da revolução verde, embora tenham sido capazes de aumentar a oferta de alimentos e baratear a produção, não foram capazes de produzir alimentos saudáveis nem evitar uma série de problemas ambientais e sociais, como o desmatamento, a perda da biodiversidade, a degradação do solo, a poluição da água, escassez de agricultores familiares, ordenação fundiária e riscos à saúde com os defensivos químicos”.

Ele destaca também que a predominância das monoculturas pode levar a uma “monotonia alimentar”, o que contribui para a epidemia de obesidade. Segundo Graziano, experiências com o sistema agroecológico já se mostraram exitosas em mais de 700 localidades no país, sendo capaz de alcançar uma alta produção de alimentos saudáveis.

Sustentabiildade

De acordo com o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, os sistemas alimentares representam uma grande parte das emissões globais de gases do efeito estufa e formas mais sustentáveis de produção e distribuição de comida poderiam contribuir para retardar o aquecimento global.

“Acelerar a transição para dietas saudáveis e sustentáveis é uma das ações mais impactantes para garantir justiça climática. A produção global de alimentos é uma das maiores pressões sobre os recursos naturais. Alimentar e produzir alimentos para 7,7 bilhões de pessoas são responsáveis por aproximadamente 24% das emissões dos gases de efeito estufa. Com dietas saudáveis e sustentáveis, somente os países do G20 podem reduzir quase 20% de suas emissões”. O prefeito citou algumas iniciativas municipais, como o projeto Prato Feito Carioca, a alimentação escolar e as hortas cariocas.

Pacto de Milão

O Pacto de Política Alimentar de Milão é um acordo internacional entre prefeitos, que visa ser uma ferramenta para ações concretas das cidades, lançado na Expo Milão 2015. A lista de 37 ações recomendadas, divididas em seis categorias, traz indicadores de monitoramento de implementação. As categorias são: governança, dietas e nutrição sustentáveis, igualdade social e econômica, produção alimentar, abastecimento alimentar e distribuição e desperdício alimentar.

Algumas atividades do fórum estão sendo transmitidas ao vivo pelo Youtube.

Ouça na Radioagência Nacional:


*Matéria alterada às 20h34 para correção de informação. Diferentemente do que foi publicado, Graziano é ex-diretor da FAO e não ocupa o cargo atualmente.