Em vigor desde julho, política de preço da Petrobras divide opiniões

Publicado em 05/10/2017 - 20:16 Por Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

Depois de cinco reduções seguidas, o preço do diesel volta a subir 0,5% amanhã (6). Já o preço da gasolina se mantém em baixa desde o dia 29 do mês passado, acumulando retração de 7%. O novo reajuste definido pela Petrobras para esse combustível, de menos 0,7%, entra em vigor também nesta sexta-feira. Considerando os reajustes para cima e para baixo observados desde o dia 30 de setembro, o preço do diesel às distribuidoras caiu 6,7%. 

A mudança na política de preços dos combustíveis passou a ser adotada pela Petrobras no início de julho nas refinarias. Desde então, os preços da gasolina e do diesel estão sendo alterados, às vezes, de um dia para o outro. A estatal afirma que a ideia é repassar com maior frequência as flutuações do câmbio, do petróleo e, com isso, permitir “maior aderência dos preços do mercado doméstico ao mercado internacional no curto prazo”, dando condições de competir “de maneira mais ágil e eficiente”.

Nas ruas, muitos motoristas relatam dúvidas sobre qual é o atual preço dos combustíveis derivados de petróleo. E outros reclamam da novidade. “Com essa variação de preços, a gente tem que estar procurando diferentes postos que façam preços melhores. Mas está muito alto”, disse o estudante de odontologia Rafael Pereira da Cunha Vasconcellos.

De acordo com a Petrobras, os ajustes nos preços poderão ser feitos “a qualquer momento, inclusive diariamente” desde que a variação acumulada no mês por produto esteja dentro da faixa de +7% ou -7%. Conforme a companhia, os ajustes praticados desde outubro do ano passado não foram suficientes “para acompanhar a volatilidade crescente da taxa de câmbio e das cotações de petróleo e derivados”. Por isso, a maior frequência nos ajustes foi adotada.

Porém, especialistas divergem sobre os efeitos da nova política nas contas do brasileiro.

Brasília - Postos de combustíveis ajustam os preços e repassam para o consumidor o aumento da alíquota do PIS e Cofins pelo litro da gasolina(Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Desde julho, Petrobras adotou política de reajuste mais frequente dos combustíveisMarcelo Camargo/Agência Brasil

Para o economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes, não há dúvida de que os reajustes irão refletir no cálculo da taxa da inflação deste ano. “Preços livres, como hortifrutigranjeiros, por exemplo, que vêm com uma variação bastante baixa nos últimos meses, de certa forma tendem a sentir o impacto do reajuste da gasolina e, principalmente, do diesel”, disse.

Em agosto, o Índice Nacional de Preços do Consumidor Amplo (IPCA) – a inflação oficial – registrou 0,19%, influenciada pela alta no preço dos combustíveis, que foi de 6,67% no período. O litro do etanol ficou, em média, 5,71% mais caro, enquanto o da gasolina subiu 7,19%, por causa do do aumento de 11% na alíquota do Programa de Integração Social e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (PIS/Cofins) e da política de reajuste da Petrobras.

O coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), André Braz, avalia que os aumentos serão temporários. Para ele, os preços nas bombas sofrem neste momento também influência do limite de oferta de combustível no mercado internacional por causa dos recentes furacões nos Estados Unidos, o que acaba encarecendo a gasolina. Com o fim dos efeitos do fenômeno climático, os preços voltarão à normalidade. 

“Se houver restrição da oferta do petróleo, isso pode fazer com que o preço da Petrobras suba. Se o real se desvalorizar frente ao dólar, dado que a gente importa gasolina, isso também pode influenciar no preço da bomba. São essas duas questões que podem fazer essa flutuação acontecer”.

Na avaliação de Braz, quando os preços eram ajustados uma ou duas vezes ao ano, as quedas nos preços não eram sentidas pelo consumidor. “A falta de uma política coerente de prática do preço que está acontecendo no mercado internacional nos lesa mais, nos deixa reféns de reajustes que caem de paraquedas uma vez ou outra. Agora, não. A gente pode colher os benefícios de uma queda nos preços ou de uma valorização do real, traduzidos em uma queda no preço da gasolina, quando isso acontecer. E se o preço do petróleo (no exterior) cai, a gente já vai ver um combustível um pouco mais barato na bomba. E essa chance agora é real, dada a política atual de preços. No passado, não era”.

Para a professora de Engenharia de Transportes do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe-UFRJ), Suzana Khan, o aumento é razoável, porque os preços ficaram represados durante muito tempo, causando inúmeros prejuízos para a companhia. Porém, reconhece que o aumento do combustível pode afetar o consumo, já que as transportadoras repassam os custos para o produto final vendido ao consumidor.

“Quem acaba sendo mais prejudicado é o consumidor, que tem o seu produto final mais caro”, afirmou.

A novidade – de ajustes frequentes – acaba por confundir o consumidor que não consegue acompanhar as mudanças, segundo o coordenador da Área de Serviços da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste), Carlos Confort.

Ele defende que o ideal seria alterações com periodicidade certa para permitir que os consumidores pudessem se preparar para isso. “A gente vê com certa preocupação porque, às vezes, o consumidor não consegue se planejar para esses aumentos e até controlar seus gastos para abastecer [veículo próprio], que são gastos fixos e acabam ficando variáveis. A gente sabe que, quando aumenta, aumenta para todo mundo; mas quando diminui, nem sempre diminui para todo mundo”.

O coordenador recomenda que o consumidor verifique se os postos estão aumentando ou diminuindo os preços seguindo as mudanças.

Edição: Carolina Pimentel

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