Rio: pesquisa mostra impacto do isolamento no mercado de trabalho
Pesquisa realizada pelo Instituto Fecomércio RJ (IFec RJ) nos últimos dias 14 e 15 deste mês, junto a 554 empresas de todos os portes do setor formal de comércio e serviços do estado do Rio de Janeiro, revelou impactos do isolamento social no mercado de trabalho.
No levantamento, 16,1% dos entrevistados disseram que o isolamento - provocado pela pandemia do novo coronavírus - resultou em demissão de funcionários. Outros 19% disseram que ainda pretendem demitir. Em média, são dois trabalhadores demitidos por empresa.
O diretor do IFec RJ, João Gomes, disse hoje (24) à Agência Brasil que, em termos absolutos, 335,5 mil pessoas foram ou serão demitidas. Esse número pode alcançar 464 mil pessoas se a ele forem somados os 128,5 mil empresários que trabalham no próprio negócio e ficarão sem trabalho caso sua empresa venha a fechar. Esse contingente é superior à população de 91% dos municípios fluminenses, diz a pesquisa. “É um cenário bem complicado”, afirmou o diretor.
Insuficiência
O estudo revela que o impacto negativo sobre o mercado de trabalho decorre da queda da demanda pelos bens e serviços oferecidos pelo setor de comércio e serviços, percebida por 92% dos empresários; e, também, das medidas adotadas até agora pelo governo federal, consideradas insuficientes para atravessar esse momento de pandemia por 74,2% dos consultados.
Desse total, 28% disseram não ter tido acesso à principal medida anunciada pelo governo até o momento, que foi a destinação de R$ 40 bilhões para financiamento emergencial da folha de pagamento de funcionários, por dois meses, para apoiar micro e pequenas empresas. No estado do Rio de Janeiro, são 290 mil microempresas ao todo, informou João Gomes. O diretor do Instituto Fecomércio RJ afirmou que as microempresas estão fora, devido ao limite estabelecido para candidatura ao financiamento, que é para empresas com faturamento entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões por ano.
Cerca de 27% dos empresários do setor de comércio e serviços fluminense empregam entre um e quatro funcionários. Portanto, a maioria não fatura R$ 360 mil/ano, o que os exclui da medida anunciada pelo governo federal. “Não têm acesso por serem microempresários”, apontou o diretor do IFec RJ. De acordo com o estudo, ficam excluídos da proposta em torno de 381,5 mil pessoas ocupadas, sendo 253 mil trabalhadores e 128,5 mil empregadores.
Burocracia
Outros 27,7% dos consultados afirmaram que o acesso às medidas tomadas envolve um processo burocrático, enquanto 27,3% acreditam que a quantidade de recursos disponibilizada até agora é insuficiente.
“Você tem limitação da canalização do recurso, tem problema com capital, com aluguel, com fornecedor. O microempresário que está lutando ali no dia a dia, está com as portas fechadas e não tem canal de venda 'online'. Ele faz o quê?”, indagou Gomes.
Segundo o IFec RJ e considerando dados de dezembro, a taxa de desemprego no estado, igual a 13,7%, subiria para 19%, em decorrência das demissões registradas no mercado de trabalho formal do setor de comércio e serviços no período de crise. A força de trabalho totaliza 9 milhões de pessoas no território fluminense, sendo 1,5 milhão de desocupados, informais ou não, e 7,5 milhões de empregados formais. Como os dados deverão ser atualizados a cada três meses, João Gomes adiantou que a taxa de desemprego pode exceder 20%, sem incluir o contingente de informais que ficou desempregado quase que imediatamente após a decretação do isolamento social.