BC prevê queda de 6,4% na economia este ano

A retração se deve aos efeitos da pandemia da covid-19

Publicado em 25/06/2020 - 09:04 Por Kelly Oliveira – Repórter da Agência Brasil - Brasília

O Banco Central (BC) prevê queda de 6,4% da economia este ano, devido aos efeitos da pandemia da covid-19. No Relatório de Inflação (RI), divulgado hoje (25), o BC revisa a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB), soma de todos os bens e serviços produzidos no país, de estabilidade, prevista em março, para a retração de 6,4%, neste ano.

“A alteração da projeção está associada, essencialmente, ao avanço e à duração da pandemia da covid-19 em território nacional, com a consequente adoção, a partir da segunda quinzena de março, de medidas de isolamento social no país. A magnitude desses dois fatores tem superado significativamente o que se esperava na data de corte do último RI”.

Segundo o BC, a projeção para o PIB anual considera que o recuo no segundo trimestre será o maior observado desde 1996, início do atual Sistema de Contas Nacionais Trimestrais. “Espera-se que tal contração seja seguida de recuperação gradual nos dois últimos trimestres do ano, repercutindo diminuição paulatina e heterogênea do distanciamento social e de seus efeitos econômicos”, diz relatório.

Agropecuária

No âmbito da oferta, o crescimento esperado da agropecuária foi reduzido de 2,9%, no relatório de março, para 1,2%. “Essa redução reflete menores expansões nos levantamentos para a safra de grãos e, principalmente, na estimativa para o desempenho da pecuária, em razão dos impactos da pandemia sobre a demanda interna e externa por proteínas”, afirmou o BC.

Indústria

A previsão para a variação do setor industrial passou de queda de 0,5% para uma retração ainda maior: - 8,5%, “com perspectiva de recuo em todas as atividades em função de efeitos do surto da covid-19 maiores do que os antecipados anteriormente”.

A projeção para o desempenho da indústria de transformação passou de variação de -1,3% para -12,8%, “motivada pela maior retração na demanda final, principalmente por bens de consumo duráveis e de capital, além da redução na oferta resultante das medidas de distanciamento social”.

A variação estimada para a produção da indústria extrativa recuou de 2,4% para estabilidade, “ante expectativa de menor demanda por minério de ferro e petróleo, em cenário de maior desaceleração mundial”.

A construção deve apresentar retração de 6,7%, comparativamente à projeção de recuo de 0,5% feita em março, “repercutindo comportamento de maior cautela das famílias e dos empresários do setor, além de diminuição no ritmo de algumas obras pela necessidade de adoção de protocolos especiais para prevenir contágio pelo novo coronavírus”.

Comércio e Serviços

O BC estima ainda queda de 5,3% no setor de comércio e serviços em 2020, ante estabilidade projetada em março. O BC destaca as revisões em setores mais afetados por medidas de restrição de mobilidade: o comércio de -0,7% para -10,8%; transporte, armazenagem e correio, de -1,2% para -13,4%; e outros serviços – que engloba atividades como alojamento, alimentação fora de casa e atividades artísticas de -1,1% para -9,4%.

Consumo

O BC projeta “contração expressiva do consumo das famílias, apesar da magnitude das medidas governamentais de transferência de renda”. “Em relação ao último RI, a projeção foi revista de crescimento de 0,8% para queda de 7,4% em virtude dos impactos maiores do que os antecipados anteriormente da pandemia sobre o comportamento dos consumidores e a evolução da massa de rendimentos do trabalho, além dos efeitos decorrentes das medidas de distanciamento social e de restrições à mobilidade”, acrescentou.

Investimentos e consumo de governo

Para o BC, a “perspectiva de efeitos mais pronunciados da pandemia sobre a atividade econômica e incertezas elevadas em relação ao processo de retomada devem ocasionar postergação de decisões de investimentos”. Assim, a previsão para o desempenho anual da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) mudou de -1,1% para -13,8%.

A projeção para o consumo do governo permaneceu inalterada (0,2%). “Apesar da estimativa de significativa perda de receitas, o governo deve preservar gastos essenciais em momento de crise”, disse o BC.

Exportações e importações

As exportações e as importações de bens e serviços, em 2020, devem variar, nesta ordem, -8,1% e -11,1%, ante projeções respectivas de 0,9% e 0,6% apresentadas no RI anterior. “A redução na projeção para exportações resulta da expectativa de menor demanda externa, especialmente por bens manufaturados, em virtude de reavaliação da atividade econômica global.  A diminuição na estimativa para as importações reflete a redução nas projeções de crescimento da atividade doméstica, em especial da indústria de transformação e da FBCF, com o consequente decréscimo nas aquisições de insumos e de máquinas e equipamentos, bem como a perspectiva de redução do consumo das famílias”, destacou o BC.

Inflação

As projeções para a inflação feitas pelo BC estão em quatro cenários, elaborados com base em estimativas para o câmbio e a taxa básica de juros, a Selic. As projeções são para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

No cenário com Selic e câmbio constantes em 3% ao ano e em R$ 4,95, respectivamente, a inflação termina este ano em 1,9%, depois sobe para 3%, em 2021, e para 3,6%, em 2022.

Já no cenário com a Selic e o câmbio estimados pelo mercado financeiro (pesquisa Focus), o IPCA fica em 2,4%, neste ano, chega a 3,2%, em 2021, e permanece nesse patamar em 2022. Nesse cenário, o dólar termina 2020 em R$ 5,20, cai para R$ 5,00 no final de 2021 e R$ 4,80 no final de 2022. A Selic encerrar 2020 em 2,25% ao ano, vai para 3% ao ano no final de 2021, a 5% ao final no final de 2022 e 6% ao ano no fim de 2023.

No cenário com Selic da pesquisa Focus com o câmbio constante, a inflação fica em 2% neste ano, em 3,2% em 2021, e em 3,5%, em 2022.

O último cenário considera Selic constante e câmbio da pesquisa Focus. Nesse cenário, o IPCA fecha 2020 em 2,3%, sobe para 3% no próximo ano e termina 2022, em 3,3%.

*Matéria alterada às 9h45 para acréscimo de informações.

 

Edição: Valéria Aguiar

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