Mercado de seguro por demanda deve crescer, dizem especialistas
Os consumidores brasileiros têm uma nova forma de contratar seguros, de acordo com sua necessidade de tempo de cobertura, que pode ser por minutos, horas, dias, mês, ou por trecho percorrido por um carro, por exemplo. A nova modalidade está liberada desde agosto do ano passado pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), que editou a Circular 592. A norma traz as condições gerais para a customização de planos de seguros com vigência reduzida de contrato e período intermitente.
Nesse tipo de seguro, o cliente aciona a cobertura quando considera que há risco ou desativa quando não há necessidade, chamando de liga-desliga. A ideia é que, com o desenvolvimento do setor no Brasil, o seguro por demanda possa ser contratado, por exemplo, para carros, celulares, tablets, notebooks, bicicletas e até para viagens.
Assim, o seguro de um carro pode ter a cobrança por minuto ou por quilometragem percorrida, e o usuário pode comprar créditos para isso. Outra possibilidade é para as pessoas que viajam muito. Em vez de contratar um seguro para cada viagem, o consumidor compra créditos e ativa o seguro sempre que estiver em viagem.
Essa evolução no mercado brasileiro de seguros, no entanto, ainda é incipiente, com poucas empresas ofertando a modalidade. A coordenadora-geral de Regulação de Seguros Massificados, Pessoas e Previdência da Susep, Mariana Arozo, acredita que a tendência é de crescimento dos seguros por demanda. “As primeiras empresas fizeram parcerias ou têm um modelo de negócio mais inovador. A própria concorrência vai fazer com que as seguradas mais tradicionais possam investir nesse tipo de produto”, disse Mariana. Ela citou a parceria de seguradoras tradicionais com as insurtechs, termo que resulta da mistura de insurance (seguro, em inglês) e technology (tecnologia). São startups (empresas emergentes voltadas para tecnologia e inovação) que facilitam a contratação de seguros.
Segundo Mariana Arozo, a Susep não tem dados específicos das seguradoras que já oferecem o serviço por demanda no país, por não haver essa segmentação das empresas.
O presidente da Comissão de Automóvel da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), Walter Pereira, disse que duas ou três seguradoras associadas oferecem o seguro por demanda, mas diz que muitas empresas do setor já se preparam para lançar o produto. Para ele, após a pandemia de covid-19, deve haver uma aceleração da oferta desse tipo de seguro. “Talvez as seguradoras tenham postergado o desenvolvimento dessas modalidades em função da situação que estamos atravessando. Agora, com a estabilização do trabalho remoto e algumas possibilidades de poder voltar ao normal, pode ser acelerado o desenvolvimento”, disse Pereira.
No caso do seguro por demanda para carros, Pereira disse que é basicamente direcionado aos consumidores que usam pouco os seus veículos. “Em São Paulo, temos o rodízio durante a semana. Aqueles que têm dois carros por causa do rodízio poderiam contratar o seguro por demanda para aquele carro que fica fora de uso a maior parte do tempo. A ideia é oferecer ao consumidor aquilo que ele precisa, pode pagar, o melhor custo-benefício para cada um”.
Apesar de prever a expansão do segmento, Pereira acredita que o seguro por demanda não substituirá a modalidade tradicional, mas será um complemento na carteira de produtos. Ele lembra que a oferta de produtos envolve investimentos em inovação e tecnologia pelas empresas. “As seguradoras precisam de tecnologia para oferecer o seguro, que ajude o cliente a ligar e desligar o serviço. Ao colocar o carro em movimento, por exemplo, precisa dar um alerta ao cliente para ativar o seguro”, disse Pereira.
Mariana Arozo ressaltou que o período de pandemia deixou ainda mais clara a necessidade de oferta desse produto aos consumidores. “Neste período de pandemia, esse tipo de seguro ficou muito em voga. Muitos segurados estão com o carro parado ou enfrentam dificuldades de renda. É uma oportunidade para atender ao segmento. Acredito que a tendência é de crescimento neste ano”, disse. Ela destacou que, quanto mais produtos de diferentes preços disponíveis no mercado, melhor será para o consumidor.