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Educação

Educação de Jovens e Adultos no DF terá 55 mil estudantes este ano

Jéssica Gonçalves - Repórter da Radioagência Nacional
Publicado em 26/02/2015 - 05:37
Brasília

Programa é destinado a jovens e adultos que não tiveram acesso ou não concluíram os estudos Divulgação/Agência Brasil                         

Raimunda Oliveira nasceu em uma família pobre no interior do Maranhão. Começou a trabalhar ainda criança e precisou trocar os livros e cadernos pela enxada. Junto com oito irmãos, ajudava o pai a capinar, colher arroz e quebrar coco. Depois de alguns anos ela veio morar em Brasília para tentar uma vida melhor. Aqui, casou-se e teve dois filhos.

Hoje, com 34 anos, Raimunda, que trabalha como doméstica, decidiu aprender a ler e escrever. “Mudou muita coisa, porque a gente já lê um bilhete, a gente vai a um lugar e sabe ler a placa de um ônibus. Eu dependia muito dos outros, falava: moço esse ônibus vai para onde? Aí eu ia ao hospital: como é esse nome? Agora não, eu mesma leio, só às vezes eu não entendo, aí pergunto.”

Assim como Raimunda, milhares de moradores do Distrito Federal decidiram estudar, mesmo depois de ter ultrapassado a idade escolar. São os alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), que têm mais de 15 anos de idade e ingressaram no ensino fundamental, ou aqueles com mais de 18 que entraram no ensino médio. Segundo a Secretaria de Educação do DF, em 2015 serão aproximadamente 55 mil estudantes nessa modalidade.

Olga Setúbal deu aula para adultos em uma escola da cidade de Santa Maria, no DF, e disse que o método de alfabetização usado é diferente daquele destinado às crianças. “Como no meu caso eram pessoas que não sabiam ler e escrever, então a gente precisava de uma motivação diferente, precisava trabalhar a realidade, os meios de transporte, a vida cotidiana deles e o trabalho.”

O programa é destinado a jovens e adultos que não concluíram os estudos. A maioria deles trabalha durante o dia, por isso, as aulas geralmente são à noite. Além do cansaço, eles precisam superar barreiras como a distância entre a casa e a escola e o medo da violência. E foi justamente por causa do grande número de assaltos que os 500 alunos da EJA do Centro Educacional São Francisco, em São Sebastião, foram transferidos para outro colégio. A diretora, Leísa Sasso, disse que os alunos se sentiam muito inseguros. “São ruelas muito estreitas que favorecem a criminalidade. A gente ouviu muitos relatos de estudantes contando que foram roubados celulares, pertences, bicicletas a caminho da escola.”

A Secretaria de Educação do DF reconhece que a violência é um grande motivo para a evasão escolar. Segundo a diretora do São Francisco, as turmas começavam com 60 alunos e terminavam com menos de dez. De acordo com o coordenador de Educação de Jovens e Adultos, Claudio Amorim, este ano o DF vai aderir ao Pacto pela Segurança, uma parceria com a Secretaria de Segurança Pública e o governo federal. “A intenção é criar projetos setoriais entre as secretarias para evitar esse processo de evasão por meio da violência. Mas, sim, essa é uma realidade em alguns locais, principalmente em algumas regiões mais longínquas, na zona rural. A meta é conseguir reverter a situação”, ressaltou.

A pessoa que tem interesse em se inscrever na Educação de Jovens e Adultos do DF deve ligar para o telefone 156. O estudante pode escolher duas escolas para concorrer a uma vaga. Ele precisa informar o nome completo, endereço e CEP. Depois, é só conferir se foi selecionado no site da Secretaria de Educação e ir à escola fazer a matrícula.

É possível ainda estudar a distância. O conteúdo é ministrado pela internet, em um ambiente virtual desenvolvido pelo Ministério da Educação. A matrícula é feita pessoalmente na secretaria do Centro de Educação de Jovens e Adultos (Cesas), que fica na Asa Sul, área central da capital.

A Universidade Católica de Brasília também tem um projeto social para jovens e adultos, o Alfabetização Cidadã. Lá, muitos professores trabalham de forma voluntária para atender a alunos com mais de 18 anos que vivem em situação de vulnerabilidade social e têm renda mensal até R$ 400.

A estudante Márcia Garcia é voluntária no programa e disse que a experiência trouxe muitos benefícios para a formação profissional. “Me mostrou o lado sensível que a gente tem que ter com essas pessoas. É um cidadão que, infelizmente, não consegue exercer plenamente a cidadania pela condição de não leitor, ou pela oportunidade que não teve há muito tempo, ou que teve de ser abandonada por outras necessidades que eram prioridade no passado.”

O projeto funciona na própria universidade e em regiões como Areal, Samambaia sul e norte, Riacho Fundo 2, Varjão, Recanto das Emas e Brazlândia. Para se inscrever basta ir ao Campus 1 da Católica, que fica em Taguatinga.