Violência contra professores e alunos cresce na rede pública paulista
Pesquisa inédita realizada pelo Instituto Locomotiva e pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) revela que 54% dos professores já sofreram algum tipo de violência nas escolas. Em 2017, o percentual era 51% e, em 2014, 44%. Entre os estudantes, 37% declararam ter sofrido violência (em 2014 eram 38%, e 2017, 39%).
A presidente do sindicato e deputada estadual, professora Bebel [Maria Izabel Azevedo Noronha], analisa os dados com preocupação. "Os números demonstram que o estado não tem uma política para prevenir e reduzir o índice de violência nas escolas paulistas. É necessário que a Secretaria da Educação tome medidas para que este assunto seja debatido nas escolas. A violência não será resolvida simplesmente com medidas repressivas" disse. A pesquisa foi divulgada hoje (18) na Casa do Professor, em São Paulo.
Em 2019, 81% dos estudantes e 90% dos professores souberam de casos de violência em suas escolas estaduais no último ano. Ocorrências mais frequentes de violência nas escolas estaduais envolveram bullying, agressão verbal, agressão física e vandalismo.
Entre os estudantes, há mais casos de bullying, citados por 62% deles e, entre os professores, as ocorrências mais frequentes são de agressão verbal, citada por 83% dos docentes. "O bullying é o ponto de partida para diversas violências", disse a presidente do sindicato.
Para o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, a violência, em todas as suas manifestações, frustra a vocação escolar. "É preocupante verificar a quantidade de professores e estudantes relatando episódios de discriminação, indicando que talvez ainda não estejamos sabendo lidar adequadamente com esse tema dentro das escolas. Quando o estado não consegue garantir paz nas escolas, nós temos um problema", afirmou.
Outro ponto da pesquisa mostra que 95% da população de SP, 98% dos estudantes e 99% dos professores afirmam que o governo estadual deveria dar mais condições de segurança às escolas.
Opinião semelhante tem a população do país: 93% dos brasileiros acreditam que o governo estadual deveria dar mais condições de segurança as escolas, revelou o estudo.
A percepção da violência pelos professores aumentou nos últimos anos: 71% dos estudantes e 71% dos professores perceberam o aumento este ano. Em 2017, a percepção era de 72% para os estudantes e 61% para os professores. Em 2014, a taxa era menor: 70% e 57% respectivamente.
Entre a população, a grande maioria (77%) soube de algum caso recente de violência em escolas públicas. No estado de São Paulo, essa percepção atinge 79% da população. "A violência passa a fazer parte do território da aprendizagem, é essa a realidade das escolas", lamentou Meirelles.
Campanhas de prevenção
Quanto às campanhas de prevenção contra a violência nas escolas, em 2019, 57% dos estudantes disseram que a escola já fez campanha contra a violência. Em 2017 esse índice era de 78%. Entre os professores, 83% afirmam ter havido campanhas contra 84% em 2017.
Ainda segundo a pesquisa, aumentou o percentual de alunos que declararam que as escolas promovem campanhas contra discriminação e preconceito: 67% dos estudantes afirmaram que a escola realiza campanhas e conversas contra o preconceito.
Em 2017, esse índice era de 36%. Já 84% dos professores dizem que há campanhas. Em 2017, o índice era de 82%.
A pesquisa mostrou, também, que 86% da população de São Paulo, 88% dos estudantes e 92% dos professores concordam que na escola deve ser possível conversar sobre todos os assuntos.
Mas, apesar de desejarem um espaço escolar livre para a reflexão e o debate de ideias, a pesquisou indicou que, entre estudantes e professores, um terço disse que já se sentiu constrangido ao expor alguma ideia.
Crise e cortes na educação
Para a população, saúde e educação são áreas que deveriam ser poupadas de cortes mesmo em períodos de crise. Para 45% dos entrevistados, a saúde vem em primeiro lugar e não deveria sofrer cortes. Em seguida, figuram educação, criminalidade, violência e geração de empregos.
Para professores e alunos, educação e saúde também devem ser as áreas mais protegidas de cortes em períodos de crise.
Entre os estudantes, 47% citam a educação em primeiro lugar e, entre os professores, 74% querem ver a educação em primeiro lugar. E 84% da população acreditam que economizar com educação compromete o futuro do país, disseram os entrevistados.
A pesquisa revelou ainda que 22% dos estudantes e 7% dos professores consideram o salário do professor de escola pública ótimo ou bom. Para 80% da população do estado de São Paulo, 82% dos estudantes e 97% dos professores os docentes são menos valorizados pelo governo do que deveriam.
Outro dado mostrou que 76% da população do estado, 79% dos estudantes e 97% dos professores acreditam que os professores no Brasil ganham menos do que deveriam.
O levantamento - realizado entre 5 de setembro e 1º de outubro - ouviu 1.516 pessoas com mais de 18 anos em 13 regiões metropolitanas; mil estudantes da rede estadual de ensino com mais de 14 anos; e 701 professores da rede pública.
A meta é monitorar a percepção da população e da comunidade escolar sobre qualidade da educação, segurança nas escolas e outros temas relevantes para a educação pública.
Versão da Secretaria de Educação
Em nota, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo argumentou que a pesquisa encomendada e divulgada pela Apeoesp "não tem credibilidade técnica por estar ligada a uma entidade que possui interesses políticos partidários". Acrescenta que, "além de ouvir somente mil estudantes nas escolas estaduais, o que corresponde a ínfimos 0,028% dos 3,5 milhões de alunos da rede, [a pesquisa] induz respostas que só dão margem ao que a Apeoesp deseja legitimar.”
E prossegue: “o mesmo acontece com as supostas entrevistas feitas com professores por telefone. A análise afirma ter escutado 701 professores por telefone. Hoje, há cerca de 190 mil docentes, com diferentes características. Construída de maneira enviesada, a pesquisa não reflete a realidade da rede estadual de educação, disse a secretaria.
A nota finaliza esclarecendo que "a secretaria sempre agiu em absoluto respeito à gestão democrática, entendendo que a educação de crianças e adolescentes deve ir muito além das motivações eleitoreiras personalistas. O governo do estado apresentou no último dia 13 de novembro as diretrizes do plano de reestruturação de carreira dos professores que atuam na rede estadual de educação de São Paulo. A mudança vai representar o maior crescimento do salário inicial da história de São Paulo. A principal alteração é que em 2022 um professor com a carga horária de 40h terá salário inicial de R$ 4 mil, um aumento de 54,7% em relação à remuneração atual. No topo da carreira, o docente poderá chegar a um salário de R$ 11 mil".
*Matéria alterada às 10h18 do dia 19 de dezembro para acréscimo de informações