Coluna - O show tem que continuar? Ou é hora do trabalho?
Dentro de alguns dias começam as novas temporadas do NBB e da NBA, então ainda é tempo de falar sobre as seleções brasileiras e os respectivos objetivos. Na verdade, no ano que antecede os Jogos Olímpicos de Tóquio, o objetivo é o mesmo para todos: conseguir a classificação. Na coluna de hoje, a atenção vai para o basquete 3x3 (lê-se "três xis três" ou "três contra três"), a grande novidade no programa. Nesta semana, a FIBA (Federação Internacional de Basquetebol) divulgou os meios de classificação para a Olimpíada e, o que surgiu como uma ideia remota, um embrião ainda sem garantia de vir ao mundo, agora vai começando a ter traços bem definidos. E como é habitual quando algo é novidade, a curiosidade sobre o que vai acontecer nos próximos meses, inclusive em julho de 2020, em Tóquio, é grande.
Estabelecido como esporte desde 2010, o 3x3 atingiu outro patamar com o anúncio do Comitê Olímpico Internacional feito em 9 de junho de 2017, portanto, há quase dois anos e meio. Ali, ficou claro e cristalino que o COI enxerga na modalidade a possibilidade de dar ao basquete uma nova injeção de emoção, talvez preocupado com o fenômeno das cartas marcadas no basquete "convencional". Pelo lado do esporte, foi um empurrão para tentar sair da sombra do primo mais conhecido. Paradoxalmente, o 3x3 é vendido pela FIBA e pelo COI como um esporte "urbano" mas o jogo em si tem muito mais a ver com o que vemos na televisão do que com o que é praticado nas ruas. Muda o sistema de pontuação, o tempo e o número de jogadores, mas a essência está lá. A irreverência ainda pede para entrar, não vem logo de cara. Não tem tantas nuances diferentes como o vôlei de praia em relação ao vôlei indoor, por exemplo. É descolado mais pelos adornos, pelas ambientações, principalmente pela música que evoca a ideia que temos do basquete de rua, não pelo que se vê em quadra.
Muita gente achou que veria as grandes estrelas do basquete mundial resolverem que iam brincar de jogar com regras diferentes, mas os nomes do 3x3 são outros. É objetivo fechado da FIBA criar uma geração de atletas que nasceu e cresceu no 3x3, mas, evidentemente, essa fase ainda não chegou. O esporte é povoado por jogadores pouco conhecidos que saíram do "cinco-contra-cinco" e fizeram a adaptação para a quadra menor. Ainda não há uma identidade específica. A FIBA vem criando mais e mais competições, até mesmo de base (a Copa do Mundo sub-23 acontece neste momento, inclusive). Nas primeiras edições do principal torneio, a Copa do Mundo, a Sérvia conquistou quatro títulos mundiais entre os homens e foi considerada como o país mais forte, com atletas podendo se dedicar exclusivamente ao 3x3. Porém, em junho desse ano, os Estados Unidos levaram uma equipe com um ex-atleta que agora é comentarista de TV, outro que enveredou pelo mundo dos corretores de plano de saúde e um terceiro que agora produz um podcast. E os americanos sobraram, sendo campeões com folga. Da mesma forma, entre as mulheres, quando contaram com jogadoras de renome mundial da WNBA, os Estados Unidos emendaram logo dois títulos. Quando não foi possível montar um elenco tão estrelado, sequer se classificaram para a competição. O 3x3 ainda não se firmou a ponto de afirmarmos com convicção quais são suas figurinhas carimbadas e potências indiscutíveis.
Talvez a Olimpíada seja o que está faltando para isso acontecer. Os Jogos abriram uma porta que estava fechada a muitos desses atletas: o brilho de uma olimpíada. Pela magnitude do evento, é provável que todos levem muito a sério o processo de classificação. Segundo a FIBA informou, serão oito vagas entre os homens e oito entre as mulheres. O Japão, país-sede, tem uma vaga garantida para a equipe que estiver melhor ranqueada em 1º de novembro, a feminina ou a masculina. Metade dessas vagas será definida exatamente nessa data, através do ranking da FIBA. O resto será decidido em quadra, em torneios pré-olímpicos em março. Não há divisão por continente, então o Brasil terá que performar acima do que o ranking mostra: é o 14º do mundo entre os homens e o 28º entre as mulheres. Nunca foi mais longe do que o 18º lugar em Copas do Mundo entre os homens e não participou das últimas quatro edições no feminino. De qualquer forma, se não for possível participar, essa é uma festa que vai valer a pena assistir. Pelo menos para ver se predomina o estilo e a urbanidade ou o pragmatismo da bola na cesta. O que foi treinado exaustivamente ou o que foi improvisado. Um dos dois vai valer ouro.