Coluna - A dor e a delícia de cobrir um dia de competições
Quem assiste às reportagens pela televisão ou acompanha os textos na internet talvez não faça ideia, mas antes de apertar o botão de publicar ou colocar algum conteúdo no ar, muitos erros e dúvidas acontecem. Cobrir uma competição com tantas modalidades diferentes, ainda mais em um país com barreiras de linguagem evidentes, e um desafio por si só. O primeiro dia na ginástica artística foi um exemplo disso.
A primeira etapa foi compreender o que de fato estava em jogo e como seriam disputadas as provas do chamado all-around. A prova era por equipes ou individual? A resposta só veio ao chegar ao Estádio de Ginástica. Qualificatória por equipes, final no individual geral. Aí surgiu outra dúvida: por que Arthur Nory, campeão mundial na barra fixa na semana passada, não estava relacionado? Nory ficou o tempo todo acompanhando a prova com um uniforme de delegação, não de competição. E não apenas isso, ele deu todo o suporte moral e técnico para os atletas. Isso porque a ginástica não levou um técnico para Wuhan. Nory, com dores no ombro após a conquista em Stuttgart, na Alemanha, acabou sendo poupado dos Jogos Mundiais e "deslocado" para outra função.
Na prova desta segunda-feira, os ginastas se apresentavam nos seis aparelhos (ou não). Alguns estavam apenas em alguns aparelhos, colaborando para o resultado por equipes. Foi o caso de Arthur Zanetti nas argolas. Eles eram agrupados por país e estavam unidos na qualificatória por equipes, mas separados no individual geral. Os brasileiros abriram a série, e Caio Souza foi o mais bem classificado entre nossos cinco representantes. Restou esperar pelas apresentações dos chineses, os favoritos. No final, o placar mostrava que as três melhores notas no geral eram deles. Caio veio em quarto, 0,33 ponto atrás do terceiro. Uma pena. Mas então surge o ginasta brasileiro no pódio, em terceiro lugar! O que aconteceu? Lá vamos nós procurar saber.
Acontece que na ginástica as finais não podem ter mais do que dois representantes de cada país. Pelas circunstâncias, a final individual geral dos Jogos Mundiais Militares teve, mas somente dois poderiam subir ao pódio. Caio acabou sendo beneficiado e subindo um degrau, garantindo o bronze para o Brasil. Não é comum admitir que não sabemos algo, mas é parte do processo e do charme da profissão. Sempre aprender. Um processo em tempo real, muitas vezes acelerado, um aprendizado imediato para ser transformado em informação confiável. Nem sempre é possível esperar a tradução do chinês para o inglês e daí para o português, por mais solícitos que sejam os voluntários. Talvez nada disso transpareça no conteúdo que de fato chega ao leitor/espectador. E, se realmente não transparecer, é sinal de que, por mais tensa que tenha sido a jornada, valeu a pena.