Os jogos do Flamengo pelo Campeonato Estadual do Rio, o chamado Carioca, não estão sendo transmitidos pela TV. O clube não aceitou os valores propostos pela TV Globo e entende que, por uma questão de demanda dos telespectadores – em especial nos jogos transmitidos na TV fechada – e de audiência, merece receber mais que Botafogo, Fluminense e Vasco. Ele está certo?
Ano passado tive a oportunidade de entrevistar dois especialistas em administração esportiva – Pedro Daniel, da EY, e Cesar Grafietti, do Banco Itaú. E ambos têm uma visão clara de que, em poucos anos, não teremos mais os chamados 12 grandes clubes, mas de cinco a seis, principalmente porque o foco das competições vai mudar para as nacionais e internacionais, com premiações maiores e mais interessantes. Segundo eles, a rivalidade estadual vai perdurar pela história, mas a nacional vai se tornar maior. E, como exemplo, vale lembrar que, agora em fevereiro, o Flamengo vai disputar um título nacional contra o Athletico Paranaense, e que, no Brasileirão, os principais adversários deverão ser, ao menos em tese, Palmeiras e Grêmio.
Dito isso, vamos voltar ao cenário estadual. E para isso vou aproveitar informações de outro estudioso, Vinícius Paiva. Que se valeu da audiência da TV nos três últimos Estaduais do Rio para mostrar que, nos clássicos, a média de audiência do Flamengo foi de 34 pontos, contra 31 do Fluminense, 29 do Vasco e 28 do Botafogo; contra os chamados “pequenos”, as médias foram, respectivamente, 27, 18, 21 e 19. Nos clássicos em que o Flamengo esteve presente, a média ficou em 34 pontos; sem ele (envolvendo apenas Fluminense, Vasco e Botafogo), 26.
Na TV fechada, a diferença se torna ainda maior, já que o ranking de torcidas que aderiram ao PPV coloca o Flamengo com 18,9% em primeiro lugar; o Vasco vem em quinto, com 7,4%; o Fluminense, em 11º, com 3,8%; e o Botafogo em 12º, com 3,55%.
É curioso ver que nos Estaduais a diferença entre as cotas dos grandes para os de menor investimento é infinitamente maior que a do Brasileirão. Há campeonatos em que ela é de 13 vezes mais!!! E ninguém surge para defender esses clubes, que têm história no passado e que abasteciam os grandes com os jogadores que revelavam. Esses “pequenos” praticamente desapareceram, mas os “grandes” sobreviveram, o que reforça a tese dos consultores citados acima.
A frieza dos números deixa claro que a presença do Flamengo numa transmissão faz diferença. Que pode não representar um valor tão mais alto que o clube deseja arrecadar, mas que justifica uma cota maior que os demais. A questão é mensurar quanto a mais vale o show.