Em Tóquio, judô brasileiro quer manter a escrita olímpica

Dirigente da CBJ diz que adiamento dos Jogos foi benéfico ao país

Publicado em 12/05/2020 - 16:10 Por Juliano Justo - Repórter da TV Brasil - São Paulo

O judô é o esporte que mais deu medalhas olímpicas para o Brasil. São 22, sendo quatro ouros, três pratas e 15 bronzes. E, em meio às incertezas provocadas pela pandemia do novo coronavírus (covid-19), uma live (transmissão ao vivo)  realizada na noite de ontem (11) - perfil oficial da Federação Piauiense de Judô,  no Instagram - abordou o atual momento do esporte e a realização dos Jogos de Tóquio (Japão) em julho de 2021. 

Entre os participantes, Ney Wilson, gestor de alto rendimento da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), evitou fazer prognósticos para a Olimpíada no ano que vem. "Esse tipo de projeção exige uma visão mais macro da realidade. Como os países ainda não definiram os nomes que irão compor as seleções, isso é impossível. O certo é que queremos ganhar pelo menos uma medalha para seguirmos sendo a única modalidade brasileira a subir no pódio em todas edições olímpicas, desde 1984 ", revelou o dirigente. Nos jogos de Los Angeles (1984), o judô brasileiro faturou três medalhas: uma prata (Douglas Vieira)e dois bronzes (Walter Carmona e Luís Onmura).

Segundo Ney Wilson, para conquistar duas medalhas, por exemplo, o país precisa chegar com chances em pelo menos quatro categorias. "Confiamos muito no trabalho que vem sendo feito. Mas, não é hora de fazer previsões. Me lembro bem do que ocorreu em Londres [2012], quando projetamos, ainda no Brasil, a conquista de quatro medalhas. Seria um recorde para a modalidade. A marca foi atingida, mas apenas no último dos cinco dias de disputas do judô. Tivemos o ouro inédito da Sarah Menezes e o bronze do Felipe Kitadai na abertura da competição. Depois, completamos as quatro medalhas com os bronzes da Mayra Aguiar e do Rafael Silva no encerramento do torneio olímpico. Tive que responder a várias perguntas de jornalistas sobre a projeção das quatro medalhas. Mas, graças a Deus, chegamos lá", recorda. 

Incertezas

Com o adiamento dos Jogos de Tóquio para julho de 2021, a Federação Internacional da modalidade (IJF, sigla em inglês) estendeu até 29 de junho do ano que vem o prazo para a classificação dos atletas (pontuação/ranking). “Terá pelo menos o mesmo número de eventos no processo de qualificação, incluindo também todos os eventos que já foram agendados no calendário oficial no período até a nova data final da qualificação. O número final de eventos incluídos depende de vários fatores, mas principalmente da situação da saúde no mundo e das possíveis restrições de viagem, bem como a disponibilidade de locais e comitês organizadores locais", informou o IJF por meio de comunicado oficial, publicado no site da entidade em abril. 

Ney Wilson, Gestor de alto rendimento da Confederação Brasileira de Judô.
Ney Wilson, gestor de alto rendimento da CBJ, prefere não fazer prognóstico sobre medalhas do país nos Jogos de Tóquio - Marcio Rodrigues/MPIX/CBJ/Direitos Reservados

 

Antes da remarcação dos Jogos de Tóquio para julho de 2021, a IFJ havia determinado que o ranking olímpico do judô fecharia no dia 30 de junho deste ano. A data Campeonato Mundial, inicialmente marcado para setembro de 2021, também poderá ser antecipada. Se isso ocorrer, é provável que os resultados obtidos valham para o ranking classificatório dos Jogos de Tóquio 2021. Mas, até o momento, isso não foi definido pela IJF.

O dirigente da CBJ diz que, devido às indefinições causadas pela pandemia de covid-19, a entidade trabalha com vários cenários. "Nós temos um contato direto com a Federação Internacional. E a informação que recebemos é que eles só devem liberar o novo calendário de competições quando houver um cenário mais definido da doença,em nível mundial. O nosso cenário mais otimista é de uma retomada das competições em novembro e dezembro. E o mais pessimista é a volta apenas no ano que vem", avalia Wilson. 

O gestor adiantou ainda que, em nível nacional, a ideia da CBJ é investir em treinamentos, depois que a situação sanitária estiver normalizada. "Uma das possibilidades é fazer trabalhos em cada uma das regiões do Brasil, respeitando todas as regras das autoridades de saúde. Esse seria o cenário ideal. Mas pensamos também em fazer treinos separados com cada uma das categorias de peso, com um calendário específico em apenas uma sede”.

Seleções

Para a Olimpíada de Tóquio no ano que vem, o ranking mundial vai ser usado para alocar as 352 , vagas na ordem hierárquica de qualificação. Os 18 mais bem classificados pelo ranking, em cada uma das 14 categorias (sete em cada naipe) asseguram vaga direta, com o máximo de um atleta por Comitê Nacional, por categoria. Estarão disponíveis ainda mais 100 vagas continentais, distribuídas também de acordo com a posição no ranking. Para as Américas são oferecidas dez vagas no masculino e 11 no feminino. 

Atualmente, o Brasil, tem atletas elegíveis em todas as categorias. Vale ressaltar que a campeã olímpica Rafaela Silva, da categoria até 57 quilos, permanece na zona de classificação. A atleta aguarda o julgamento de um recurso pela Corte Arbitral do Esporte para saber se poderá voltar a competir. A IJF suspendeu a atleta por dois anos, devido a confirmação de doping nos Jogos Pan-Americanos de Lima, em 2019. 

Daniel Cargnin, judoca brasileiro, no Mundial Judô Senior Tóquio 2019 - 26/08/2019
Judoca Daniel Cargnin é uma das promessas do país nos Jogos de Tóquio, na categoria até 66 kg - Roberto Castro/ rededoesporte.gov.br/Direitos reservados

 

Ney Wilson reconhece que o adiamento foi benéfico para a delegação brasileira. "É uma equipe bem renovada. Se a Olimpíada fosse esse ano, o time seria quase todo novo. Claro que são nomes com um potencial muito grande, como o Daniel Cargnin (categoria até 66 kg), campeão mundial júnior em 2017, e Rafael Macedo (categoria até 90 kg), campeão mundial júnior em 2014. Mas são atletas que ainda precisam amadurecer no circuito mundial. A gente sabe que, quando eles chegam cedo na seleção adulta, precisamos graduar a participação deles e ir construindo isso junto com as equipes de base e com os próprios atletas. Os homens amadurecem mais tarde. É uma questão fisiológica. As mulheres passam por esse processo de uma forma mais rápida e natural. A Sarah Menezes, por exemplo, entrou na seleção principal junto com a Mayra Aguiar, aos 15 anos. No masculino isso não acontece. Já passamos por outras fases de instabilidade também na seleção feminina e conseguimos superar. Temos certeza que estaremos bem representados no masculino em Tóquio. O adiamento para 2021 foi perfeito para os homens”, conclui.

Edição: Cláudia Soares Rodrigues

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