Coluna – Os números que justificam os grandes campeões
Não estamos na Europa, em que os campeonatos nacionais têm seus candidatos ao título antes mesmo de a bola rolar. Mas, também, já não vivemos em um Brasil onde havia quase dez candidatos ao título na Série A. O advento dos pontos corridos e as boas administrações de uns poucos mudaram esse panorama, que se repete nos últimos cinco anos. E, agora que vamos para a 15ª rodada, já podemos afirmar que, dos 20 times, três vão lutar pelo título – Palmeiras, Atlético-MG e Flamengo. Estou arriscando afirmar isso agora, e se eu errar ficarei até feliz, pois será a prova de que o futebol continua sendo capaz de nos surpreender.
A Copa do Brasil, com jogos em mata-mata, ainda consegue nos trazer novidades. De 2016 a 2020, tivemos oito equipes diferentes disputando as finais. Mas só três foram campeãs: Palmeiras e Cruzeiro, duas vezes cada uma, e o Athletico-PR. Reparem, o Cruzeiro, em 2017 e 2018, foi bicampeão, o mesmo time mineiro que hoje patina na zona de rebaixamento da Série B.
Mas lá no alto está, também, o Palmeiras, assim como o Internacional, o Corinthians, o Santos e o Flamengo. E essas cinco equipes, ao lado do Atlético-MG, ocuparam os três primeiros lugares no Brasileirão de pontos corridos. Ou seja: quando a classificação se baseia na regularidade, temos apenas seis times aparecendo no alto da tabela nos últimos cinco anos, com amplo destaque para o Flamengo e o Palmeiras, cada um duas vezes campeão. Repararam? O Palmeiras ganhou quatro títulos nacionais nos últimos cinco anos, além de uma Copa Libertadores. O Flamengo, além do bi brasileiro, tem um vice na Série A, outro na Copa do Brasil e uma Copa Libertadores.
Esse ano os dois estão de novo na briga pelo título brasileiro, tendo a companhia do Atlético-MG. Mas até quando irá essa disputa? Essa semana, o colunista Rica Perrone publicou na conta dele nas redes sociais um estudo da empresa InStat. Muito interessante, e ele me autorizou a compartilhar com vocês. Essa empresa, de análise de desempenhos esportivos, avaliou os números de Palmeiras e Atlético, em 14 jogos, e do Flamengo, em 12 jogos do Brasileirão, em 41 itens, alguns com dados percentuais e outros com a média por partida. O Atlético-MG apareceu em primeiro lugar em três itens apenas, sendo eles o menor número de faltas (ao lado do Palmeiras), menos cartões amarelos e, no que considero o único que pode definir um placar, o melhor aproveitamento em gols das chances criadas.
O Flamengo leva a melhor em 29 categorias. Em quatro, aparece empatado com o Palmeiras. O time paulista leva a melhor em outras cinco. É impressionante a diferença, que se no momento ainda coloca o Rubro-Negro na terceira posição “SE” vencer os dois jogos atrasados, contra Grêmio e Athletico-PR, poderá fazer diferença no andamento do campeonato.
O time carioca é quem mais cria chances de gols, acerta mais o gol, tem maior precisão nos passes e nos cruzamentos, é quem mais ganha disputas de bola, o que mais desarma, mais ainda no campo do adversário e o que tem mais eficiência nos contra-ataques. Os paulistas são os que mais cruzam na área e têm alto percentual de acerto nos dribles. Ambos empatam no número de gols marcados, nas disputas aéreas e nos contra-ataques a cada partida.
É evidente que estatística não ganha jogo, mas ajuda a entender o desempenho de cada um. Entre os três, com bola rolando, o Flamengo já venceu o Palmeiras e perdeu para o Atlético. Dia 15 haverá o jogo entre mineiros e paulistas, em Belo Horizonte. Vale lembrar que o trio está, também, na Copa Libertadores – onde Palmeiras e Atlético podem, inclusive, fazer uma das semifinais; e cariocas e mineiros estão na Copa do Brasil. E aí, é claro que a sequência de disputas poderá afetar o desempenho deles em algum desses campeonatos. Nessa hora, vamos ver quem tem o melhor planejamento e o melhor elenco. Olhando pra tudo isso aqui em cima, históricos e estatísticas, Flamengo e Palmeiras levam vantagem, com o Verdão envolvido em menos uma disputa.
Essa corrida pelo título me faz lembrar a prova dos 400 metros com barreiras, do Alison dos Santos, em que os três primeiros colocados bateram o recorde olímpico e atingiram marcas históricas. O brasileiro levou o bronze e festejou. Não é um sentimento que se repetiria aqui.
* Sergio du Bocage é apresentador do programa No Mundo da Bola, da TV Brasil