Coluna - Brasil encerra ano paralímpico como top-5 dos Mundiais
O primeiro ano completo do ciclo paralímpico de Paris (França) foi marcado por vários campeonatos mundiais de modalidades que estarão nos Jogos de 2024. Foram 16 ao todo. Em um quadro de medalhas que levasse em conta essas competições, o Brasil encerraria o ano na quinta colocação com 87 medalhas, sendo 26 de ouro, 17 de prata e 44 de bronze.
A estatística, considerando o número de ouros, tem a Grã-Bretanha na liderança, com 50, seguida por Itália (37), Estados Unidos (28) e Ucrânia (27). Completando o top-10 estão Austrália, França (ambos 21), Holanda (18), Coreia do Sul (17) e Espanha (15). A coluna se inspirou em levantamento do jornalista Guilherme Costa, no Twitter, com Mundiais de modalidades olímpicas.
São necessárias, porém, algumas observações. A primeira é sobre a China, que ocupou, de forma disparada, a ponta do quadro de medalhas na Paralimpíada de Tóquio (Japão). Foram 96 ouros na capital japonesa, mais que o dobro dos britânicos (41). Os asiáticos, porém, são ausência recorrente na maioria dos Mundiais que abrem o ciclo paralímpico, o que costuma gerar críticas, sob alegação de que estariam escondendo os principais talentos. Em 2022, os chineses foram ao pódio somente no goalball, em Matosinhos (Portugal), graças ao vice da equipe masculina, superada justamente pelo Brasil.
Outro detalhe é que, devido ao conflito na Ucrânia, a Rússia está afastada das competições esportivas. Em Tóquio, competindo sob a bandeira do comitê paralímpico local, cumprindo punição por casos de doping, os russos terminaram em quarto no quadro, com 36 ouros. Neste ano eles disputaram apenas o Mundial de tiro com arco, em Dubai (Emirados Árabes Unidos), que iniciou dias antes do ataque militar ao território ucraniano, em fevereiro. Foram 13 pódios do país no evento, sendo quatro deles no topo.
Em terceiro lugar vale destacar que nem todas as disputas por medalha de um Mundial integram as Paralimpíadas, apesar de a maioria delas estar lá. Como os Jogos têm um limite de 4,4 mil atletas, há modalidades com menos oferta de provas. Na comparação com Tóquio, por exemplo, natação (cinco) e atletismo (três) terão oito pódios a menos em Paris, ao passo que badminton (duas), bocha (quatro), remo (um), canoagem (um), judô (três), taekwondo (quatro) e triatlo (três) terão 18 a mais.
Uma observação final diz respeito à não realização, em 2022, do Mundial de atletismo, que seria disputado em Kobe (Japão), em maio, mas foi adiado pelo aumento de casos do novo coronavírus (covid-19) no país na ocasião. É uma competição que impactaria sensivelmente esse quadro imaginário. Para se ter ideia, a última edição, há três anos, em Dubai, teve 172 provas.
Não à toa, os números da temporada estão potencializados pelo Mundial de natação, realizado em Funchal (Portugal) em junho, no qual 514 medalhas foram distribuídas. Dos 26 ouros brasileiros neste ano, 19 vieram na Ilha da Madeira. A delegação do país, inclusive, finalizou a competição no terceiro lugar geral, atrás apenas de EUA (25) e Itália (27).
Ponderações feitas, observa-se que o top-5 reúne quatro países que, em Tóquio, já ocupavam o top-7 paralímpico, ao lado de chineses e russos. A exceção é a Itália, nona colocada nos Jogos de 2021. A Holanda, por sua vez, foi a quinta no quadro da Paralimpíada e oitava levando em conta os resultados deste ano. Esse avanço italiano passa, justamente, pelo Mundial de natação, no qual amealharam 27 dos 37 ouros da temporada. No mesmo evento, os holandeses estiveram oito vezes no topo do pódio.
Outra constatação é que a distância entre Brasil e Ucrânia segue bastante justa. Em Tóquio, foram duas douradas a mais para os europeus. Neste ano, apenas uma. Houve, ainda, uma diminuição da diferença para os norte-americanos (28 a 26, contra 37 a 22 nos Jogos da capital japonesa), o que pode ser considerado positivo, já que há um equilíbrio entre os países no atletismo, pelo menos tendo como referência as últimas edições do Mundial (2019) e da Paralimpíada (2021).
Além dos ouros, é importante verificar que, em números absolutos, o Brasil, com 87 pódios, é superado apenas por britânicos (112) e italianos (91), ficando, por exemplo, bem à frente dos próprios EUA (71). Isto significa que o país marca presença, frequentemente, nas disputas por medalhas em diferentes modalidades. Nos 16 Mundiais do ano, em 13 deles houve atleta brasileiro sendo premiado.
Um destaque é o Brasil ter sido a nação com mais bronzes no ano: 44. Por um lado, podem ser medalhas sob ameaça pensando nos Jogos de Paris, que terão participação massiva de chineses e (talvez) russos. Por outro, para os atletas da nova geração de modalidades como natação e judô, chegar ao terceiro lugar no primeiro Mundial da carreira é um feito relevante para 2024 e, naturalmente, quatro anos depois na Paralimpíada de Los Angeles (EUA).
No ano que vem é provável que esse quadro dê uma projeção mais fiel do que esperar em Paris. Estão previstos ao menos 14 Mundiais, entre eles os de natação e atletismo, justamente as modalidades que mais distribuem medalhas. A impressão deixada em 2022 é que o Brasil segue no bolo das potências paralímpicas e que a meta de buscar de 70 a 90 pódios em 2024, que foi estabelecida pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), quem sabe até superando as 72 láureas de Tóquio, é factível.
Top-10 dos Mundiais paralímpicos de 2022
1º Grã-Bretanha: 50 ouros, 32 pratas e 30 bronzes
2º Itália: 37 ouros, 34 pratas e 20 bronzes
3º Estados Unidos: 28 ouros, 23 pratas e 20 bronzes
4º Ucrânia: 27 ouros, 19 pratas e 23 bronzes
5º Brasil: 26 ouros, 17 pratas e 44 bronzes
6º Austrália: 21 ouros, 28 pratas e 21 bronzes
7º França: 21 ouros, 24 pratas e 24 bronzes
8º Holanda: 18 ouros, 19 pratas e 14 bronzes
9º Coreia do Sul: 17 ouros, 12 pratas e 21 bronzes
10º Espanha: 15 ouros, 17 pratas e 18 bronzes