Prata em Tóquio, Bia Ferreira quer consagrar jornada com ouro em Paris
A jornada de Beatriz Ferreira no boxe começou na garagem de sua família, aos quatro anos de idade.
Agora, 27 anos depois de colocar as luvas pela primeira vez, a brasileira, filha do bicampeão brasileiro de boxe Raimundo Oliveira Ferreira, é a favorita para ganhar o ouro nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 na categoria peso leve.
Tendo crescido em um bairro pobre de Salvador, seu pai transformou a garagem da casa em uma academia improvisada.
"E aí meu pai pegou a garagem de casa e fez uma academia. Ele tirava o carro, colocava o saco. E chamava os meninos da rua lá, do bairro, pra treinar. Eu acho que era um modo também que ele tinha de tirar o pessoal da rua, as crianças, influenciar, fazendo alguma coisa legal", disse ela à Reuters no centro de treinamento da Federação Brasileira de Boxe.
Em busca de seus sonhos, ela se mudou para São Paulo para treinar com a equipe olímpica.
"Não conhecia ninguém de São Paulo. Mas tinha um sonho. Tinha um sonho e o dinheiro que o boxe me deu. O que que eu fiz? Vim. Aí eu vim. Foi porque a oportunidade de treinar com a equipe olímpica da seleção era inestimável", conta.
Apesar das dificuldades financeiras, ela persistiu, mesmo quando o dinheiro acabou. Sua dedicação valeu a pena quando ela foi convidada para o projeto Vivência Olímpica, na Rio 2016, quando 20 revelações de diversas modalidades conviveram com os atletas olímpicos brasileiros.
"Foi uma grande honra. Entendi o que era ser um atleta de alto rendimento", disse ela.
Bia Ferreira alcançou feitos notáveis em sua jornada. Ela é tetracampeã brasileira, a primeira mulher brasileira a conquistar uma medalha de prata em uma competição olímpica de boxe, em Tóquio (2020), e duas vezes campeã mundial amadora, em 2019 e 2023.
Bia Ferreira tem defendido ferozmente o boxe feminino.
"Olha, em 2016 eram três categorias só. Em Tóquio já foi diferente. Já foi 51. 57. 60. 69. e 75. E hoje a gente tem seis", disse ela. "O boxe feminino já percorreu um longo caminho."
Ela reconhece, no entanto, que ainda há muito a ser feito para alcançar a igualdade com o boxe masculino.
"É questão de persistência. Porque a pior coisa que tem é a dúvida. Então se você viver com a dúvida, você nunca vai saber se você iria ou não conseguir", afirmou ela. "Para mim, ganhar um ouro olímpico seria a validação definitiva de minha jornada."
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