Exposição de Djanira vai inaugurar Espaço Cultural dos Correios em Niterói

Publicado em 14/11/2014 - 20:05 Por Cristina Indio do Brasil - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

O centenário do Palácio dos Correios Niterói será comemorado com inauguração na noite de hoje (14) do Espaço Cultural, que vai abrigar de 17 de novembro deste ano a 21 de março de 2015, a exposição Djanira – Cronista de Ritos, Pintora de Costumes. Serão expostas 120, das 800 obras que pertencem ao acervo do Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), no centro do Rio, e foram doadas pela família da pintora paulista, há 30 anos. A mostra inédita na cidade de Niterói, ex-capital do estado do Rio, vai marcar também o centenário da artista.

O público poderá ver óleos, temperas, guaches, acrílicas, gravuras, nanquins, entre outros trabalhos de Djanira produzidos entre 1940 e 1979. Na avaliação da museóloga Daniela Matera, curadora da exposição, as obras revelam a preocupação de Djanira em retratar o cotidiano do povo brasileiro, como pescadores, mineiros, trabalhadores do campo, além do lazer e do sincretismo religioso. “Ela vai dos santos católicos e os de candomblé. É genuíno. É a realidade brasileira na pintura dela”, destacou em entrevista à Agência Brasil.

Djanira gostava de viajar pelo Brasil em busca de cenas do dia a dia de pessoas nas cidades e no campo. “Ela visitava os trabalhadores de cal, ela ia para as minas de ferro para ver como era trabalho deles. Ela desceu em mina de carvão para justamente registrar isso. E era sempre temas muito curtos, como se fossem crônicas. Como se cada pintura dela contasse uma história, como crônicas de jornal sempre contando a história do povo, do homem”, disse.

Daniela Matera, que é também coordenadora técnica do MNBA, destacou que a exposição está dividida entre os trabalhos que se referem às cenas no litoral, na cidade, no lazer, no espetáculo, na devoção e no trabalho. A curadora acrescentou que vários autores tratam Djanira como uma artista primitiva, mas, na avaliação dela, a pintora não pode ser vista assim. “Tem alguns estudos na exposição que mostram que a Djanira não pode ser tratada dessa forma. Trabalhos dela, como figuras do candomblé, têm um estudo que tem um corte de outro, e pode-se ver a composição. Além disso, ela estudou no Liceu de Artes e Ofício. Ela dizia que era ingênua, mas a pintura dela não”, analisou.

Daniela disse que o público vai ver, por meio das obras da pintora, hábitos que não existem mais na vida cotidiana, como os jogadores de dominó e brincadeiras de bonecas, que foram substituídos no gosto das crianças por jogos eletrônicos e tablets. “Tem essa singularidade de mostrar um costume que não existe mais”, completou.

Djanira da Motta e Silva nasceu, em 1914, em Avaré, no interior de São Paulo. Depois de se recuperar de uma tuberculose, mudou-se ainda jovem para o Rio de Janeiro. Foi morar no bairro de Santa Teresa, no centro da cidade, onde alugou uma casa e instalou uma pensão familiar frequentada por muitos artistas da época. Após a sua morte, em 1979, o marido José Shaw da Motta, o Mottinha, doou seu acervo ao MNBA.

O Palácio dos Correios Niterói foi reaberto em 21 de março deste ano depois de passar por um processo de reforma e restauração. Além da agência dos Correios e de outros setores da empresa, a partir de hoje vai funcionar no local o Espaço Cultural, com seis salas de exposição, uma sala multicultural e uma histórica.

Edição: Aécio Amado

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