Comitê critica reforma do Maracanã e remoção de famílias no período da Copa
Uma reforma do Estádio do Maracanã que ultrapassou R$ 1 bilhão e desmontou equipamentos esportivos no entorno, obras de mobilidade que não melhoraram o transporte da cidade e removeram milhares de famílias e repressão aos movimentos sociais que contestaram esses gastos e obras são alguns exemplos do que a Copa do Mundo 2014 deixou para o Rio de Janeiro.
Esse é o ponto de vista do Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas, que denuncia as violações de direitos envolvendo os megaeventos esportivos desde 2010. Para o representante do comitê, Demian Castro, esses eventos potencializaram o projeto de cidade voltada para as empresas e os negócios.
“Apesar de todo o discurso de legado, de que a gente teria poucos gastos públicos e muitos benefícios para a população, com vários investimentos privados, o que a gente viu foi a maior proeminência de gastos públicos, poucos benefícios para a população e muitos benefícios para as empresas. Os gastos são muito altos e, no final, a gente tem um processo de privatização”, destacou Demian.
Ele cita a concessão do Maracanã, após a reforma, que, segundo ele, encareceu o preço dos ingressos, restringindo o acesso ao estádio para parte da população. Castro frisou também o aumento do custo de vida na cidade.
“Outro aspecto seria o encarecimento absurdo do custo de vida nas cidades, potencializado pelas obras de intervenção e de mobilidade, principalmente. Então o custo de vida de todas as cidades do Brasil, e do Rio de Janeiro em particular, aumentou exponencialmente. Hoje a gente vive certamente em uma cidade que é muito mais cara do que antes do anúncio da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Nos quesitos alimentação, moradia, transporte”.
Além disso, segundo o representante do comitê, a repressão do estado também está ligada ao “urbanismo para negócio” que é “visto como o grande motor de desenvolvimento”. “Isso passa também por controle de determinadas áreas da cidade, controle de acesso, das pessoas que circulam por esses espaços.
Como um dos poucos benefícios que as obras da Copa deixaram, Castro cita o projeto Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, que não era ligado diretamente ao evento esportivo, mas beneficiou algumas famílias.
“O programa foi utilizado para reassentamento de comunidades removidas durante a organização da Copa do Mundo em várias cidades do Brasil, também no Rio de janeiro. Em alguns casos, algumas famílias que foram reassentadas nesses conjuntos habitacionais de fato tiveram melhoria nas suas condições de vida, estão em uma casa que não está sujeita a desabar com as chuvas de verão”, destacou Castro.
De acordo com o Comitê Rio, cerca de10 mil pessoas foram removidas na cidade por causa das obras para a Copa e as Olimpíadas. Uma delas foi a do BRT Transoeste, que, segundo Castro, diminuiu consideravelmente o tempo do trajeto de Santa Cruz e Campo Grande para a Barra da Tijuca, mas já “nasce saturado”.
De acordo com a prefeitura, 518 mil expectadores estiveram no Maracanã nos sete jogos disputados na capital fluminense e outras 814 mil passaram pela Arena Fifa Fan Fest durante o mundial. A cidade recebeu 471 mil turistas estrangeiros, sendo 77 mil argentinos e 415 mil brasileiros. Menos do que os cerca de 1 milhão que o Rio recebe no carnaval e os 2 milhões alcançados durante a Jornada Mundial da Juventude, em 2013.
A movimentação do comércio chegou a R$ 4,4 bilhões, quatro vezes maior do que o estimado inicialmente, com média de gasto diário de R$ 640. A taxa de ocupação da rede hoteleira ficou em 93,8%, chegando a 97,6% no dia da final. O Cristo Redentor recebeu 296 mil visitantes e o Pão de Açúcar teve 175 mil.
Para as Olimpíadas de 2016, são esperados 10.500 atletas e 2 milhões de visitantes no Rio de Janeiro. Toda a região portuária está sendo revitalizada, com o projeto Porto Maravilha, e estão previstas a conclusão e construção dos BRTs Transcarioca e Transolímpica, além da Linha 4 do Metrô até a Barra da Tijuca e o VLT na região central.