Moradores tiram pertences de imóvel que pode desabar em São Paulo
Os moradores do conjunto habitacional Guarapiranga, na Estrada do M'Boi Mirim, zona Sul da capital paulista, continuam tirando seus pertences dos apartamentos. Eles cumprem determinação da Justiça de retirar todos do local para preservar sua integridade. O imóvel, de três andares, apresenta más condições e risco de desabar devido às rachaduras. O prazo dado pela decisão judicial, assinada pelo juiz Marcos Pimentel Tamassia, da 4ª Vara da Fazenda Pública, termina amanhã (20).
Em nota, a prefeitura informou que trabalha para cumprir as determinações da decisão judicial. Provisoriamente, a subprefeitura disponibilizou o ginásio do Clube Escola Joerg Bruder, em Santo Amaro, para atendimento emergencial. A Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social fornecerá colchões, cobertores e alimentação às famílias.
Entretanto, o subprefeito do M'Boi Mirim, Márcio Luiz da Costa, disse que nenhum morador foi ainda para o abrigo e que isso deve ocorrer amanhã, ao final do prazo para saída do imóvel interditado pela Defesa Civil em março.
Segundo Costa, 40 famílias – cerca de 150 pessoas – habitam o prédio que corre risco de desabar. “O responsável pela manutenção e análises era a SPTrans. O que vai ser feito no prédio dependerá do resultado do estudo de um laboratório especializado, contratado pelo SPTrans. O laudo final deve sair em 25 dias”, disse o subprefeito.
A prefeitura informou que, na reunião da última segunda-feira (15), ficou estabelecido que as equipes da subprefeitura disponibilizariam caminhões com carroceria e agentes de apoio para o transporte dos pertences. Os moradores se comprometeram a deixar os bens embalados para facilitar a operação.
“A desocupação do local está sendo feita de forma escalonada. Os pertences ficarão armazenados em um prédio da SPTrans, com vigilância terceirizada. Está em fase final o cadastramento famílias residentes no condomínio que, posteriormente, irão receber auxílio-aluguel”, diz a nota.
O conjunto habitacional foi construído em 2003 para abrigar as famílias que moravam na área onde foi construído o terminal Guarapiranga. Depois da interdição, em março deste ano, como alternativa emergencial, foi oferecido atendimento por meio da rede socioassistencial, mas nenhuma família aceitou, informou a prefeitura.
De acordo com a prefeitura, a prefeitura começou a cadastrar as famílias para receber o auxílio-aluguel e atendimento com unidade definitiva, paralelamente à elaboração do laudo técnico. "Nenhuma delas aceitou o auxilio-aluguel. Esgotadas as negociações de atendimento emergencial e cadastramento no auxílio-aluguel e, por conta do risco apresentado, a subprefeitura de M’Boi encaminhou processo à Procuradoria-Geral do Município, com informações técnicas do condomínio, e registrou boletim de ocorrência.”
A SPTrans contratou empresa para fazer os laudos técnicos de avaliação das condições da edificação que determinarão quais providências deverão ser tomadas. A previsão é que os laudos sejam concluídos até o final de junho.
A dona de casa Jucélia dos Santos Gralha Magalhães, de 41 anos, contou que sua casa é uma das que têm mais rachaduras e a decisão de ter que sair do imóvel foi muito rápida. Há pelo menos oito anos os moradores percebem os problemas nos apartamentos. “Nós entendemos que a situação é precária mesmo. Inclusive os agentes da Defesa Civil estão com medo de entrar e sair muito do prédio, porque há risco de desabamento.”
Jucélia está procurando uma casa para alugar, mas está com dificuldades financeiras para conseguir sair do local. “Eles não nos deram dinheiro, prometeram para daqui a um mês. E não conseguimos alugar sem dinheiro, porque os proprietários querem depósito, aluguel adiantado. E o juiz determinou que saiamos imediatamente. Está bem difícil.”
O aposentado Damião José de Lima, de 52 anos, tem dificuldade de mobilidade e não sabe para onde vai, porque não tem condições financeiras para pagar um aluguel. “A subprefeitura não nos deu o suporte necessário. Eu arrumei dois lugares, mas têm escada. Não quero ir para o abrigo, porque tenho compromissos médicos e uma cirurgia prevista. Estar no abrigo vai me atrapalhar muito. Estou dependendo da assistente social. Eu estou sem saber para onde vou. Qualquer lugar, eu não aceito.”
O administrador de empresas Fábio José de Holanda, de 29 anos, conseguiu alugar uma casa para morar com a mãe de 52 anos, mas reclamou de ter que sair sem garantia de que voltarão para o lugar de origem. "Disseram que vamos ter moradia, mas talvez em outro lugar. Acredito que terão que demolir o prédio para fazer outro. Se conseguirem arrumar, precisa ser feito um serviço decente.”
Ele ressaltou que, quando o apartamento foi entregue, foi preciso fazer o acabamento, o que gerou gastos financeiros. “Estava no concreto, e tivemos que arcar com o piso, a pintura. E agora o prédio corre o risco de desabar.”