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De praga a matéria-prima, bambu pode gerar renda para o Acre

O processamento da planta aumenta as chances de a cadeia produtiva ser
Maiana Diniz – Repórter da Agência Brasil
Publicado em 04/07/2015 - 12:27
Brasília
A empresa Bioestrutura Engenharia Sustentável realiza o curso: Uso do Bambu em Estruturas. O curso busca subsidiar profissionais interessados em desenvolver projetos com o material (Wilson Dias/Agência Brasil)
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 Uso do Bambu em Estruturas. O curso busca subsidiar profissionais interessados em desenvolver projetos com o material (Wilson Dias/Agência Brasil)

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, em parceria com o governo estadual do Acre, está criando um centro de vocação tecnológica (CVT) para capacitação e beneficiamento do bambu em Rio BrancoWilson Dias/Agência Brasil

Típico de áreas alagadas, o bambu é um recurso natural leve, resistente e com grande potencial econômico. Em países como a China e a Colômbia, entre outros, é amplamente usado pela indústria. Depois de tratado, o material pode ser usado para construir casas, pisos, decks de piscina e até embarcações.

Para aproveitar a abundância da planta no país, o Brasil está se preparando para entrar nesse mercado. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, em parceria com o governo do Acre, está criando um centro de vocação tecnológica (CVT) para capacitação e beneficiamento do bambu em Rio Branco. No local, além do desenvolvimento de pesquisas, toras de bambu serão transformadas em laminados.

A escolha do local levou em conta a vocação regional. Apesar de estar presente em todo o país, a estimativa é que só na região amazônica existam 6 milhões de hectares da planta, a maior parte concentrada no Acre. O ministério iniciou o repasse dos R$ 2,4 milhões para o estado em meados de junho. O governo do Acre está dando uma contrapartida de R$ 196 mil e será responsável pela manutenção do espaço.

O secretário de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social do ministério, Eron Bezerra, explica que o princípio é transformar o recurso natural em um recurso industrial, aumentando o valor, verticalizando a produção e elevando o padrão de renda das pessoas da região. “A cadeia de agregação de valor vai começar com o extrator. O produtor vai fazer o tratamento inicial no campo. Se não for feito isso, os lucros não são divididos e muitas vezes nem ficam na região de onde sai a matéria-prima.”, disse.

De acordo com a secretária de Ciência e Tecnologia do estado do Acre, Renata Souza, os cursos de capacitação para extrativistas e agricultores começam em agosto. A construção da parte física do projeto está prevista para o início de 2016. “A expectativa é que 400 pessoas sejam treinadas. O objetivo é que o Acre se torne referência em pesquisa e beneficiamento do material, de forma a atrair investimentos para a região”, disse.

A secretária revelou que o estado já está negociando com uma empresa norte-americana que quer montar uma fábrica de pisos de bambu no município de Xapuri. “O plano do estado para o futuro é que o CVT Bambu faça parte de um parque tecnológico na região”, acrescentou.

O engenheiro civil Frederico Rosalino da Silva, de Brasília, está apostando nesse mercado. Ele tem uma empresa de construção sustentável e usa o material para fazer galpões, bangalôs e tendas. “Como ainda não existe uma padronização da cadeia produtiva da matéria-prima, a empresa tem que colher e processar o bambu”, explica. Por causa da grande dificuldade de encontrar mão de obra qualificada para trabalhar com o material, o engenheiro também passou a atuar na capacitação de profissionais nessa área.

O empresário apoia a estratégia do Acre. Para ele, o fato de esse mercado ainda estar em desenvolvimento é positivo, pois aumenta as chances de a cadeia produtiva ser estruturada de forma sustentável, garantindo a divisão dos lucros do campo às fábricas.

“Eu acho que é essa a solução. A expansão desse mercado deve vir com a cultura do extrativismo e da agricultura familiar, que garantem maior distribuição da renda e evita que as plantações de bambu se tornem monoculturas, como aconteceu com o eucalipto e o pinus”, explica.

O secretário Eron Bezerra destaca que o comércio da matéria-prima bruta é muito menos lucrativo que a venda de produtos beneficiados, ou seja, tratados industrialmente. Para dar uma ideia da diferença, ele deu o exemplo com a madeira. Segundo Bezerra, 5 metros cúbicos (m³) de madeira bruta na Amazônia, o equivalente a uma árvore média da região, custam cerca de R$ 1 mil. Mas, se essas toras forem serradas e transformadas em pranchas de 1 palmo de grossura, os mesmos 5 metros cúbicos passam a valer R$ 3 mil. “Se essa madeira for transformada em carteiras escolares, por exemplo, a mesma quantidade de matéria-prima passa a valer R$ 13 mil. Ou seja, a agregação de valor só ocorre com tecnologia e industrialização”, completa.